No Centro Municipal de Saúde Manoel José Ferreira, no Catete, cariocas tiveram que aguardar mais de cinco horas para fazer o exame - Acervo Pessoal
No Centro Municipal de Saúde Manoel José Ferreira, no Catete, cariocas tiveram que aguardar mais de cinco horas para fazer o exameAcervo Pessoal
Por Gabriel Sobreira
Rio - Em meio ao aumento do número de casos de covid-19 na cidade, pacientes reclamam da demora para realizar exames que comprovariam se estão ou não com o novo coronavírus. Vale lembrar que o Governo Federal pode ter que jogar fora 6,8 milhões de testes que estão perto de perder a validade.
"A fila não anda. Cheguei eram 12h50 e estou até agora, já passaram das 16h, e apenas checaram minha temperatura e aferiram a pressão. Quando fui perguntar, eles alegaram que o sistema tinha caído", reclama a jornalista Fernanda Gomes, de 42 anos, nesta quarta-feira, no Centro Municipal de Saúde Manoel José Ferreira, no Catete.
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Muitas pessoas não foram tão pacientes quanto Fernanda, que no fim esperou mais de cinco horas, e embora sem atendimento. Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que acidade do Rio mantém amplo acesso ao teste nas unidades de Atenção Primária. Em oito das dez áreas de planejamento, 90% das unidades oferecem o serviço.
"Os últimos testes recebidos pela SMS são processados em equipamentos especiais. A SMS recebeu 10 desses equipamentos e, por isso, está distribuindo entre as 10 policlínicas, uma em cada área de planejamento da cidade. Sendo assim, a pessoa com suspeita de covid-19 recebe o atendimento em uma unidade de Atenção Primária (clínica da família ou centro municipal de saúde), e, se a indicação for para a realização do teste rápido, é encaminhada para a unidade de referência. Quanto ao teste PCR, são mais de 130 unidades de atenção primária (realizando o exame na cidade", afirma a pasta, em nota.
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Segundo Fernanda, recentemente, ela teve contato com uma pessoa contaminada e que agora apresenta a falta de olfato, mas não tem febre. “Confesso que se não soubesse que tive contato com uma pessoa que pegou covid, pensaria que fosse apenas um resfriado”, observa a jornalista.
SEM FILA PREFERENCIAL
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Além de Fernanda, outras 20 pessoas ainda aguardavam a vez para o atendimento no posto. "Cheguei aqui eram 12h10. Como moro perto, a Fernanda se ofereceu para ver se meu número se aproximava enquanto eu fui para casa comer algo e descansar", ressalta a aposentada Dora Esteves, de 71 anos. "Acho um absurdo essa lentidão toda. Mas o que podemos fazer? Nada nesse país se resolve. Espero realmente ser atendida. Só torço para que seja antes do galo cantar", brinca Dora, que teve contato com uma prima com covid-19.
Tanto Dora quanto Fernanda só conseguiram realizar o exame por volta das 17h30. "Perguntei se não podia fazer o atendimento com anotação manual para depois inserir no sistema e a médica disse que não, que precisava do número de protocolo, e que se caso o sistema não voltasse até às 17h teria sido tempo perdido. Após às 17h, para agilizar a fila, outros dois médicos passaram a fazer o atendimento também. 
O incrível, além da demora, é a falta de atendimento ao público, de orientação e comunicação", desabafa Fernanda.
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Segundo a SMS, até o momento, foram aplicados pela Prefeitura do Rio 230.806 testes para covid-19. Desse total, 95.053 são de PCR, que são coletados nas unidades de saúde municipais e encaminhados para processamento no laboratório de referência do governo estadual e 135.753 testes rápidos. "Para realizar o teste, a pessoa com sintomas deve procurar uma unidade de Atenção Primária, onde receberá atendimento e, se estiver dentro dos critérios, realizará o teste na hora ou será agendado, seguindo protocolos conforme data do início dos sintomas para unidades de referência", explica o órgão.
PROBLEMA VAI ALÉM, DIZ ENTIDADE
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Para Gabriel Velloso, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Família e Comunidade do Estado do Rio de Janeiro (AMFAC-RJ), o problema vai além da demora.
"Nos últimos dois meses, apesar de uma publicação em Diário Oficial expandindo a testagem por swab nasal – que detectam a infecção nos seus primeiros dias e que eram restritos aos grupos de risco -, em algumas regiões esses testes seguiram centralizados em algumas unidades. Isso exigiu o deslocamento de pessoas que poderiam estar transmitindo a doença pela cidade", explica Velloso.
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Segundo ele, somente agora, com o aumento dos números de casos diários na cidade, esses testes estão sendo descentralizados, mas de maneira heterogênea entre as regiões. “Em algumas com tão poucas vagas que não se consegue agendar parte dos pacientes em tempo hábil”, afirma.
Ainda de acordo com Gabriel Velloso, besta última semana, na região AP 3.1, que compreende áreas como Maré, Penha, Vigário Geral e Ilha do Governador, acontece a centralização dos testes rápidos. Com isso, todas as unidades foram orientadas a encaminhar para a Policlínica José Paranhos Fontenelle, em Olaria, todos os pacientes com indicação para Teste Rápido.
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"Dessa forma, um morador de Bancários, que fica na ponta da Ilha do Governador, deverá percorrer 16km ou 1h30 no transporte público até Olaria. Se ele estiver infectado e ainda no período transmissível, além do transtorno do deslocamento, estará expondo centenas de pessoas no percurso", alerta.
UMA ODISSEIA EM DUQUE DE CAXIAS
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Uma parente de um paciente, que pediu para não ser identificada, reclama também do atendimento para realizar testes no Hospital Municipal Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias. 
"No Moacyr do Carmo me falaram que não está tendo o swab nasal (para detectar a infecção nos seus primeiros dias). Só está tendo a radiografia e a tomografia. E só. Eles não têm outros exames. Aí me mandaram ir para a Fiocruz. Chegando lá, me falaram que na terça-feira passada, eles pararam de atender também porque tem muita gente doente e aí não está atendendo na Fiocruz e nem fazendo exames. Aí voltamos para casa", reclama a mulher.
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Procurada, a Secretaria Municipal de Duque de Caxias não retornou os questionamentos da reportagem. Já a Fiocruz informa que não atende pacientes de covid-19. "Os pacientes internados no hospital da Fiocruz são encaminhados pelo Sistema de Regulação (SISREG)", esclarece a assessoria.