A Folia de Reis Penitentes do Santa Marta existe desde o final dos anos 60 - Híbridos / Reprodução
A Folia de Reis Penitentes do Santa Marta existe desde o final dos anos 60Híbridos / Reprodução
Por RAI AQUINO
Rio - Com cerca de 500 grupos de Folia de Reis no Grande Rio, a favela Santa Marta, em Botafogo, é um dos principais locais do estado que mantém a tradição do 6 de janeiro. Com origem na Ilha do Governador, na década de 1950, a Folia de Reis Penitentes chegou à comunidade da Zona Sul do Rio quase nos anos 60.
"A Folia de Reis do Penitentes já pode ser considerada um patrimônio do Santa Marta, porque todas as pessoas dali a consideram muito, além de todo povo de fora que vai acompanhar e que gosta", destaca Adair Rocha, professor da Faculdade de Comunicação Social da Uerj (FCS) e diretor do Departamento Cultural da universidade (Decult).
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Mineiro de Pouso Alegre, Adair chegou ao Rio de Janeiro por volta de 1976. Logo começou a se debruçar sobre o Santa Marta e suas atividades culturais. Hoje, ele é membro atuante da Folia de Reis da comunidade 
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"A repercussão da folia no Santa Marta é muito grande. Tem a escolinha para a garotada estudar para descobrir quem é o próximo mestre. O último mestre, Riquinho, inclusive, morreu de covid-19 agora em setembro e estão na descoberta de outro. Eles são mestres até o fim da vida. Na minha passagem por lá já houve cinco mestres", detalha o professor.
MICHAEL JACKSON
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Formado em Filosofia e em Teologia, o pesquisador defendeu, em 1985, sua tese de mestrado pela PUC-Rio com o tema "na reza: se conta a história e se canta a luta - um estudo sobre a folia de reis do Morro de Santa Marta".
Em seu doutorado, pela UFRJ, em 1997, ele voltou a falar da comunidade da Zona Sul, sobre outro olhar: "Saber e Poder, algumas implicações na relação favela-asfalto", estudo que deu origem ao livro "Cidade Cerzida: A Costura Da Cidadania Do Morro Santa Marta", publicado em 2000.
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"Eu já era folião de Reis em Minas e chegando no Rio percebi que um dos lugares que tinha o festejo era o Santa Marta. Por isso, tenho uma relação muito orgânica com a favela, tanto profissional, pessoal, como política", enfatiza.
O professor foi um dos que participou da construção da associação de moradores da comunidade na década de 1970. De lá para cá, ele sempre atuou ativamente do Grupo Eco, ONG que desenvolve atividades educacionais e culturais na comunidade. 
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O pesquisador, inclusive, estava no Santa Marta, quando Michael Jackson e o renomado diretor Spike Lee estiveram na região para gravar o clipe de They Don't Care About Us, em fevereiro de 1996 (assista mais abaixo). A ida do Rei do Pop fez com que a comunidade ganhasse uma estátua dele em junho de 2010, um ano após sua morte.
"De repente, estávamos lá na sede da associação, entra o Spike Lee e o Michael Jackson. O cantor deixou um autógrafo que está até hoje no Grupo Eco, para deixar deixar claro que a relação deles era com o morro", afirma.
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PRIMEIRA UPP
Primeira favela do Rio que ganhou uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), em dezembro de 2008, o Santa Marta serviu de vitrine para as demais regiões da cidade que iriam receber o projeto. Hoje, 12 anos depois, a comunidade de Botafogo ainda não colheu os frutos prometidos para uma região pacificada.
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"É importante a gente cada vez mais trabalhar a diferença entre sintoma e causa da violência. A existência em si da favela é que é violência, porque é um projeto urbano que não pensa as mesmas formas de políticas públicas para um espaço, enquanto para outro pensa", sinaliza o professor.
Por outro lado, o pesquisador vê no Santa Mara uma relação de trabalho que envolve a cidade, seja pela produção local ou nos trabalhadores domésticos, de fábricas e tantos outros que são da região. Ele também destaca as atividades culturais como grande potência da comunidade.
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"Você tem todo o povo que pertence à (escola de samba) São Clemente. Na quadra da favela, você tem desde shows de MPB, a processos teatrais de diferentes promoções. Também no campo religioso, você tem ali uma diversidade, a tradição católica, grupos evangélicos, que tem um crescimento grande, e as religiões de de matriz africana", observa, ressaltando que a região também tem um socioativismo muito vivo.