Desabamento de prédios na Muzema, no Itanhangá, em 2019: dominada pela milícia, área tem construções irregulares - Agencia O Dia
Desabamento de prédios na Muzema, no Itanhangá, em 2019: dominada pela milícia, área tem construções irregularesAgencia O Dia
Por Thuany Dossares
Ajudar as polícias no combate à atuação das milícias nos bairros do Rio vai ser mais um dos desafios que Eduardo Paes, eleito prefeito no domingo, terá a partir de 2021. Atualmente, mais de dois milhões de cariocas convivem, atualmente, em áreas que tem a criminalidade comandada por milicianos. Esse dado é da pesquisa "Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro", que apontou ainda que grupos paramilitares estão agindo em 41 dos 163 bairros da capital fluminense. 
Mesmo com as forças policiais, que são estaduais, atuando na repressão à esses grupos, a prefeitura também tem atribuições para ajudar no combate à criminalidade no município, segundo especialistas.  Atualmente, pelo menos três organizações de milícia agem na capital, entre Zona Oeste e a Zona Norte, de acordo com a Polícia Civil. A segurança pública é uma das pautas que os cariocas esperam melhorias.

O novo prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirma que o principal papel da prefeitura é o de estrangular a atividade econômica que as milícias tem, impedindo que eles invistam em construções irregulares, por exemplo - atividade que tem sido muito explorada pelos paramilitares, ultimamente.
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"Então, por exemplo, não permitir construções irregulares, algo que fiz durante toda a minha vida, especialmente nos meus oito anos como prefeito. Então isso é uma coisa que temos de combater permanentemente", declarou o candidato de DEM. 
Pelo menos três grupos de milícia atuam na capital fluminense
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O "Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro" aponta que a maior parte dos milicianos agem na Zona Oeste do Rio. A informação é confirmada pela Polícia Civil, que ainda aponta a atuação de um grupo paramilitar na Zona Norte. Somente este ano, no período entre 1º de janeiro e 25 de novembro, o Disque-Denúncia recebeu 3689 queixas relacionadas a atuação de grupos de milícia na capital fluminense. 

De acordo com investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), a maior organização de milicianos ainda é a comandada por Wellington da Silva Braga, o Ecko. Ele é o responsável por ordenar a cobrança de taxas de extorsão sobre serviços como gás, transporte e segurança, e vários bairros da Zona Oeste, principalmente Santa Cruz e Campo Grande.

Ainda segundo Polícia Civil, outro líder de grupo paramilitar é Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho. Ele controla a região de Jacarepaguá, no Morro da Barão, Praça Seca, Chacrinha, Fubá, Jordão e do Campinho. Macaquinho chefia a organização junto com Diego Luccas Pereira, o Playboy, e o irmão Leonardo, conhecido como Leleu, de acordo com informações da Draco. 

O terceiro maior grupo de milicianos do Rio atua na Zona Norte. O delegado William Pena, titular da especializada, informou que a organização que age no bairro de Pilares é comandada por Marcos Antônio Figueiredo Martins, o Marquinhos Catiri. 
Segurança Pública também é atribuição da prefeitura
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Especialistas chamam atenção que as questões de segurança pública e o combate à organizações criminosas não são um problema apenas das polícias e forças armadas. Segundo eles, a prefeitura também tem atribuições de responsabilidade de fiscalização e auxílio na repressão.

"No geral, pensamos sempre em segurança pública como polícia, ações policiais armadas, e esquecemos de uma série de contribuições que podem ser dadas pelas demais entidades municipais e federais. A prefeitura pode vir a fazer muitas coisas em relação a atuação das milícias. A primeira delas diz respeito a supervisão e controle de uma série de atividades, que hoje estão sendo controladas pelas milícias nos territórios que elas dominam e que seriam, em tese, atribuições da prefeitura", explicou o especialista em segurança pública João Trajano.

Trajano destaca que as milícias atuam comercializando serviços de bens de consumo, como água, transporte, que são de responsabilidade de fiscalização do município, assim como outros serviços privados, como gás, internet, tv a cabo e construção civil. Segundo ele, se a Prefeitura realizasse um mapeamento dessa atuação dos criminosos nos bairros, ela poderia auxiliar o trabalho de inteligência das polícias.

"A prefeitura, por ela ser o poder mais próximo das comunidades, dos bairros que lidam com essas atividades criminosas no seu cotidiano, ela tem como apurar e interferir nos negócios clandestinos desses criminosos. Poderia produzir informações para o poder estadual, para a inteligência dos órgãos competentes, para aí sim eles investigarem e terem um controle maior oficial do volume de recursos movimentados por esses grupos, e poder atuar de forma repressiva", concluiu.
O especialista em segurança pública Paulo Storani também reforça a importância do trabalho de integração entre o município e o estado.
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"Quando a gente fala de milícia e fala sobre área urbana, ou narcotráfico, estamos falando da necessidade de você trabalhar de forma integrada com as forças do Estado, tendo uma boa relação entre os dois e cada um trabalhando na sua esfera de competência, mas um complementando o outro, de forma conjunta".
No entanto, Storani lembra também que a fiscalização da prefeitura é dificuldade, as vezes, por conta da própria violência cometida pelas organizações criminosas.

"Existe uma questão do crime propriamente dito, cometido pela milícia, mas existe também a fiscalização da prefeitura que, normalmente, não faz essa função. São serviços que acabam sendo diminuídos ou não oferecidos por conta do risco ao próprio pessoal da prefeitura ou aqueles que tem concessão para trabalhar com determinada atividade, como companhia elétrica", finalizou.