Marcelo Calero foi nomeado líder da Secretaria de Governo e Integridade Pública - Divulgação/Câmara
Marcelo Calero foi nomeado líder da Secretaria de Governo e Integridade PúblicaDivulgação/Câmara
Por RICARDO SCHOTT

Rio - O deputado federal Marcelo Calero, 38 anos, coordenador de campanha do prefeito eleito Eduardo Paes, descobriu que faria parte da prefeitura do Rio durante uma entrevista em que Paes anunciou sua entrada na Secretaria Municipal de Governo e Integridade Pública. Calero já havia sido secretário de Paes em 2015, mas na pasta da Cultura. Assumiu depois como ministro da cultura no governo Michel Temer, mas largou o cargo após denunciar pressões para rever um parecer técnico desfavorável a interesses pessoais do então ministro-chefe da Secretaria de Governo do Brasil, Geddel Vieira Lima. "Vi de perto o que muita gente só ouve falar, que é a corrupção", afirma em entrevista exclusiva ao DIA.

O DIA: Quais são os projetos para a pasta?

MARCELO CALERO: É preciso primeiro entender o que significa a secretaria de integridade. Ela significa não entrar em formalidades, já que para isso a gente já tem outras ferramentas dentro da prefeitura, como as auditorias. Ela vai ter um olhar macro para a necessidade que a gente tem de criar obstáculos para que não haja corrupção. Para sintetizar isso: é nosso trabalho criar obstáculos para impedir que haja desvios. Eu identifiquei dois desvios.

Quais são?

São os de finalidade e o de recursos. Quando você tem um secretário que queira se valer de seu cargo para conseguir alguma vantagem em sua secretaria, é de finalidade, já que você usa a secretaria para uma finalidade privada e não pública. Não temos a pretensão de acabar com a corrupção, mas queremos que exista um ambiente desfavorável para que ela aconteça, aumentar os custos disso. A pilantragem é igual à água: ela sempre acha onde escoar, de burlar os obstáculos que são impostos. E nossa missão é colocar o maior número de obstáculos possíveis?

Que ferramentas serão usadas?

Temos dois motes: vigilância permanente e tolerância zero. Entendemos que as autoridades e os agentes políticos que ocupam os mais altos cargos da gestão precisam ser monitorados. Estamos lançando na transição um questionário que inclui perguntas aos secretários sobre sua vida pessal, seu patrimônio, sua renda, hábitos de consumo e de vida de seu cônjuge, sua família. Queremos ter um panorama amplo para verificar sinais exteriores de riqueza.

Se o sujeito tem vida de servidos público e está todo fim de semana num iate em Angra dos Reis, a gente quer saber a quem pertence aquele iate. Caso pedíssemos apenas a declaração de imposto de renda, talvez aquele iate nem estivesse lá. Queremos ir além do normal.

Não queremos fazer uma caça às bruxas e sim proteger os bons servidores, que são a imensa maioria do nosso corpo. Vamos também criar o reportante do bem e hotline disque-denúncia. Todas as vezes em que o servidor for chamado a fazer algo com o qual ele não concorde, por razões éticas e morais, eles usam o serviço. Ou vão nos buscar para que possamos protegê-los do ponto de vista funcional e garantir que não haverá retaliação por parte de seu superior hierárquico.

Além disso, nos primeiros cem dias, vamos mandar para a Câmara um projeto de lei que inclui o Estatuto Carioca da Integridade Pública e o Estatuto de Transparência e Gestão de Dados. Quando se fala de integridade pública, fala-se de transparência, de tudo que se gasta e se gera em termos de dados. Isso tem que estar num banco de dados fácil de ser manuseado e de ser acessado. Para que se tenha uma maior integridade pública, você precisa de ferramentas eletrônicas mais utilizáveis, para diminuir o contato entre o cidadão e o servidor. Isso faz com que haja garantia de tratamento isonômico. Ninguém vai ter melhor ou pior tratamento por conta de questões pessoais.

Você cuidou da pasta de cultura no governo Temer e saiu após fazer denúncias contra o Geddel. Qual aprendizado você tirou disso para a nova pasta?

Eu encarei aquilo que muitas vezes a gente só ouve dizer, que é a corrupção. A gente lê nos jornais, mas a situação com a qual eu me deparei foi essa: eu, um servidor de carreira, recebendo a ligação de um Ministro de Estado pedindo que eu fizesse intervenção num órgão federal para que uma obra de interesse pessoal dele fosse autorizada. E depois descobrimos que o edifício que ele queria liberar era parte de um esquema de lavagem de dinheiro.

Eu tive muitas certezas, a principal delas é que sempre vale a pena fazer a coisa certa. Dou aula de ética e falo muito com meus alunos: jamais cruze a linha entre o certo e o errado, porque é um caminho sem volta. Você vai deparar com situações que você talvez nem imaginasse. O esquema no qual você acaba adentrando é muito maior do que poderia enxergar à primeira vista.

Comecei a estudar as ferramentas que existem para que situações como essa sejam mitigadas. Eu fui perseguido pela gestão Michel Temer. Tive que me licenciar do meu cargo de carreira, fiquei fora do Itamaraty (Marcelo é diplomata) por quase dois anos. Sei o que sofri por ter feito o certo, mas valeu muito a pena ter pago aquele preço.

Eduardo Paes revelou que você era o secretário de Governo e Integridade Pública durante uma entrevista ao 'RJ TV'. Você soube por lá ou já havia sido chamado?

Nosso prefeito é muito autêntico. Ele sempre dizia durante a campanha que eu não conseguiria sair do Rio e que eu não voltaria para Brasília. Mas o convite foi feito mesmo nesta entrevista. Fiquei muito honrado e lisonjeado.

 

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