Clínicas particulares terão vacina para covid-19? Especialista da UFRJ responde a sete perguntas sobre o imunizante
Chrystina Barros, pesquisadora em saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tira as principais dúvidas sobre a imunização contra o novo coronavírus
Rio - Em tempos de pandemia de covid-19, muitas pessoas se perguntam quando poderão voltar a viver na normalidade e quais serão os desafios daqui em diante para que a vacinação contra a doença ocorra de maneira ampla. Então, a dúvida é: quanto tempo ainda teremos de fazer o isolamento social? Com o objetivo de responder a esses e outros questionamentos, tirando as principais dúvidas da população fluminense, a reportagem do O DIA conversou com a pesquisadora em saúde do Centro de Estudos em Gestão de Saúde (CESS) da UFRJ, Chrystina Barros.
Segundo ela, as vacinas, quando aprovadas, deverão ser disponibilizadas de forma gratuita e todos terão direita a recebê-las, respeitando as prioridades de grupo (idosos e pessoas com doenças crônicas). Ainda de acordo com a especialista, outro fator que deve ser lembrado é que as imunizações não serão encontradas em clínicas particulares, e devem ser distribuídas por órgãos públicos, a fim de evitar uma desigualdade de acesso.
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O que falta para a vacinação em São Paulo ser confirmada?
“Hoje o mundo começou a acompanhar a vacinação contra a covid-19 na Inglaterra. E, por aqui, no Brasil, São Paulo saiu na frente dos demais estados do país, lançando o plano estadual de imunização. E o que é isso, de fato? É a organização logística, o cronograma, os postos de vacinação, os critérios de grupos e prioridades de conjuntos a serem vacinados, isso tudo compõe um programa de imunização. Só que, para que comece a acontecer, é necessário que a vacina seja liberada pela Anvisa. Dessa forma, somente com a permissão final desse órgão máximo de vigilância sanitária, é que a vacinação poderá ter início a partir do dia 25 de janeiro, como o governo do Estado de São Paulo prevê.”
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Quem poderá tomar a vacina no estado paulista? Cariocas poderão?
“Pelo pronunciamento do governador de São Paulo, João Doria, não será exigido comprovante de residência para os cidadãos que quiserem tomar a vacina. Mas o ponto fundamental a ser esclarecido, é que o indivíduo deverá estar enquadrado nos grupos indicados pela equipe científica. São eles: profissionais de saúde e idosos (escalonados por idade). Então, dessa forma, qualquer pessoa que esteja em São Paulo e se desloque aos postos de vacinação, atendendo aos critérios clínicos, poderá receber a vacina no território paulista sem nenhum tipo de problema”.
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Qual a previsão de vacinação no Rio? E quais seriam os públicos-alvo daqui?
“Quanto à vacinação no Rio e em outros estados, nós deveríamos ter desde já, a exemplo do que fez São Paulo, mas, desta vez, para todo o Brasil, um plano nacional de imunização. Vimos que o estado paulista priorizou grupos na sua estratégia. Será que acontecerá igual no restante do país? Isso também depende de quais vacinas cheguem e dos grupos de estudo. Então, por não haver nesse momento um grande plano nacional, ficaremos atrasados enquanto nação e necessitando de ideias dos poderes políticos. Provavelmente, o Rio, por já ter feito contato com o governo paulista, deve seguir a mesma indicação de público-alvo de lá”.
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Haverá vacinas nas clínicas particulares para quem quiser comprar? Quanto deve custar?
“Nesse momento, tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto o Ministério da Saúde já declararam que a vacina é um bem público. Ela, portanto, não será fornecida às clínicas particulares. Então, não existe essa ideia no cenário atual, até porque acentuaria a desigualdade de acesso, ou seja, pessoas que têm dinheiro pagariam bem caro, inclusive, pela imunização. Já outra parcela da sociedade ficaria de mãos atadas, sem ter o que fazer. Por hora, não há uma ideia de custo das vacinas, justamente porque elas são tratadas como um produto de acesso a todos”.
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Após a imunização, poderemos deixar de usar máscaras e álcool em gel?
“Cada vacina tem uma tecnologia diferente e uma forma própria de induzir nosso corpo a produzir os tão esperados anticorpos. Em média, depois da imunização, o indivíduo passa a ter defesas naturais após cerca de 28 dias. O que sabemos em relação à vacina da Pfizer, por exemplo, é que ela deve ser administrada com uma segunda dose 21 dias depois, fazendo haver um nível seguro de defesa do organismo. De qualquer forma, é importante aguardar orientações específicas de cada fabricante das vacinas. Mesmo já tendo sido vacinada, a pessoa ainda deve manter os mesmos cuidados, usando máscaras e álcool em gel para higienização”.
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Quais são as contraindicações e efeitos adversos de tomar a vacina? Há algum risco?
"Sobre efeitos adversos e contraindicações, precisa-se aguardar a especificação de cada vacina. Em linhas gerais, o que se sabe é que vacinas são feitas de modo muito seguro. Então, não se deve haver receio quanto a isto. O mais importante agora é saber que o risco maior é de se contrair a covid-19. Por isso, em termos de coletividade, é fundamental que a vacina alcance o maior número de pessoas possíveis, porque é essa cobertura vacinal da população é que fará com que nossa vida possa voltar ao normal. A estimativa inicial é que isso leve um semestre para acontecer, mas dependerá muito da velocidade de vacinação e da quantidade de indivíduos imunizados ao mesmo tempo em determinada região. Por isso, reforço que o Ministério da Saúde tome as rédeas da situação e desenvolva um programa nacional de imunização sólido, capaz de atender aos brasileiros.”
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A covid-19 pode realmente atrapalhar o desempenho sexual?
"Nós estamos descobrindo dia a dia, mês a mês, novos fatores de risco para a doença. Vamos lembrar que, no início da pandemia, a obesidade não era um fator de risco e hoje em dia, sabemos que é. Então, existem vários mecanismos da covid-19 ainda desconhecidos ou em acompanhamento, que estão sendo evidenciados e descobertos no cotidiano. Há alguns estudos, sim, que apontam para a ocorrência de impotência sexual, isso não deve ser descartado como se fosse mentira, porque não é. Só que não existe uma certeza absoluta sobre o assunto".
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*Estagiário sob supervisão de Cadu Bruno