Da esquerda para a direita: Alexandre, Lucas e Fernando - Arquivo Pessoal
Da esquerda para a direita: Alexandre, Lucas e FernandoArquivo Pessoal
Por Karen Rodrigues*
Rio - Há dois meses, familiares de Fernando Henrique, de 11 anos, Alexandre Silva, de 10 anos, e Lucas Matheus, de 8 anos, sofrem sem notícias sobre o paradeiro deles. Os três meninos desapareceram no dia 27 de dezembro de 2020, no bairro Areia Branca, em Belford Roxo, na Região Metropolitana do Rio. Segundo a Polícia Civil, "desde o primeiro dia, a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) vem empenhando força máxima para localizar os garotos desaparecidos".
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Segundo relatos das famílias, Alexandre, Lucas e Fernando estavam brincando em um campo de futebol perto da casa deles, em Jardim Dimas Filho, em Belford Roxo, e depois foram tomar café na casa de Alexandre. Amigos próximos afirmam que, depois do lanche, os três avisaram que estavam indo para a Feira de Areia Branca, que fica a cerca de 2 km do local, e desapareceram.
A mãe do Alexandre, Rana Jessica Silva, de 31 anos, afirmou estar sendo muito difícil ficar esses dois meses sem notícias do filho, ainda mais com o aniversário do menino chegando. Alexandre completa 11 anos no dia 15 de março.
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"Está sendo difícil sem nenhuma resposta, sem nenhuma pista. Ninguém sabe de nada, ninguém viu eles passando na rua. Eu acho que alguém pegou eles de maldade e não quer soltá-los", contou.
Apesar de tanto tempo sem informação do paradeiro dos meninos, familiares seguem com esperança de encontrá-los vivos.
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"Está sendo muito doloroso, estou com o coração partido, em pedaços. Eu tenho esperança de encontrar eles com vida. Eles devem estar até doentes, porque é muito tempo sem a família e só a gente sabe como eles gostam de ser tratados. Eles têm tudo do bom e do melhor dentro de casa. Queria tanto que meus netos estivessem comigo", lamentou a avó do Alexandre e do Lucas, Silvia Regina da Silva, de 58 anos.
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"Eu nem imagino, nem ideia do que fizeram com eles. Mas quem pegou, eu acho que foi gente conhecida, porque eles não iriam com estranhos. No dia 15 (de março), meu neto, Alexandre, vai completar 11 anos, e eu queria tanto que nessa data eles já estivessem com a gente", desabafou.
Investigações
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A equipe da DHBF fez buscas para checar denúncias, na última quarta-feira, na Comunidade Castelar, em Belford Roxo, com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da seção de operações com cães do Corpo de Bombeiros. Na quinta e na sexta-feira, os policiais realizaram buscas e diligências em localidades do bairro Jardim Acácia, localizado no mesmo município, para verificação de informações, também com apoio da seção de operações com cães do Corpo de Bombeiros.
Houve uma reunião, nesta sexta-feira, com as mães dos meninos, a assistente social da Superintendência de Desaparecidos da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, representantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB Belford Roxo, da Superintendência de Pessoas Desaparecidas do Governo do Estado, integrantes do Núcleo de Direitos Humanos (Nudedh) da Defensoria Pública do Rio e o delegado titular da DHBF, Uriel Alcântara, para conversar sobre o caso.
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Na reunião, a Defensoria voltou a pedir comunicação aos portos, aeroportos, rodoviárias e Polícia Rodoviária Federal para atender à determinação da política nacional de busca de pessoas desaparecidas, já que não se descarta que as crianças possam ter saído do estado.
Até o momento, os agentes já ouviram familiares e testemunhas e fizeram buscas em mais de 40 lugares onde surgiram notícias de que eles foram vistos na capital do Rio, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e em Belford Roxo. Também analisaram imagens de mais de 40 câmeras de segurança que poderiam ter registrado as crianças e realizaram operações para mapear e identificar integrantes de uma organização criminosa que atua na localidade, trabalhando uma linha de investigação sobre possível participação de traficantes da região no desaparecimento dos garotos.
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Um vizinho chegou a ser entregue à polícia, no dia 12 de janeiro, sob a suspeita de estar envolvido no sumiço dos meninos. Ele passou uma noite na sede da DHBF e prestou depoimento. O homem foi capturado e torturado por traficantes e, segundo informações, teria confessado a morte das crianças em um ritual de magias.
Em nota, a Polícia Civil esclareceu que o suposto envolvimento do vizinho com o crime se tratava de uma notícia falsa. Segundo apuração dos investigadores, ele não tinha qualquer relação com o caso e o sangue encontrado em uma roupa na casa dele não era de nenhuma das crianças. O exame do Instituto de Pesquisa e Perícias em Genética Forense (IPPGF) revelou que o sangue pertencia à companheira do homem.
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Agentes da DHBF e da Polícia Militar também realizaram diligências para identificar integrantes da organização criminosa que atua na localidade, trabalhando uma linha de investigação sobre possível participação de traficantes da região no desaparecimento.
"A suspeita foi cogitada após levantamento de informações e depois que criminosos torturaram um homem, indicando falsamente ser o responsável pelo desaparecimento dos meninos e imputando sua captura aos moradores. Além disso, os traficantes incitaram a população a atear fogo em um ônibus como forma de desviar o foco das investigações. Na ocasião, três pessoas foram presas por policiais civis da 54ª DP (Belford Roxo)", informou a instituição, em nota.
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A DHBF também coletou material genético dos familiares para armazenamento em banco de dados e análise de DNA. De acordo com informações da Civil, as investigações e buscas seguem em andamento e estão sendo acompanhadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), o governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos e da Superintendência de Prevenção e Enfrentamento de Pessoas Desaparecidas, além da Fundação para Infância e Adolescência (FIA), por meio do SOS Crianças e Adolescentes Desaparecidos, estão acompanhando o caso e dando assistência às famílias.
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Números
A Fundação para a Infância e Adolescência (FIA) registrou, em todo o Estado do Rio de Janeiro, 148 casos de desaparecimento, entre crianças e adolescentes, em 2020.Desses, 119 casos foram solucionados e as crianças entregues às famílias. Esse número representa cerca de 80% dos casos.
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Desde 1996, quando o sistema SOS Crianças Desparecidas passou a registrar os desaparecimentos de crianças e adolescentes, foram 3,780 casos registrados e 3220 menores foram encontrados.
*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes