Livro 'A Repúblicas das Milícias - Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro', editora Todavia, analisa a formação dos grupos criminosos no estado do Rio e o seu impacto no cenário nacional - Editora Todavia
Livro 'A Repúblicas das Milícias - Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro', editora Todavia, analisa a formação dos grupos criminosos no estado do Rio e o seu impacto no cenário nacionalEditora Todavia
Por Thuany Dossares

Um território dividido entre grupos tiranos armados, que disputam o controle territorial, usando a violência para impor o seu poder e expandir seus domínios. Para o jornalista e escritor Bruno Paes Manso a descrição serve tanto para a série Game of Thrones (GOT), como para uma analogia à atuação da criminalidade no Rio de Janeiro.

"Achei interessante que próprios professores e pessoas que vivem essa realidade usaram uma metáfora: o Rio é uma espécie de Game of Thrones, uma guerra de vários territórios, como se fosse uma fase pré-moderna, pré-república, vários reinos armados com seus reis, com disputa entre si. É muito cruel, muito difícil você estabelecer uma lei igual para todos, porque cada território tem o seu reizinho. Isso me choca muito no Rio", disse o escritor que acaba de lançar o livro 'A República das Milícias: Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro', pela Editora Todavia.

As disputas de território e a formação de alianças entre tráfico e milícia foi tema da série do DIA sobre narcomilícia no decorrer dessa semana. A reportagem mostrou casos como a expulsão de moradores por parte de traficantes do Morro do Urubu, na Zona Norte do Rio que se recusam a pagar taxas ou seguir regras estiupaldas, além da união de grupos de traficantes com milicianos em diferentes regiões do Estado.

No livro, Manso aborda o cenário de violência do Rio, desde o início da ação do tráfico de drogas, da contravenção e a ascensão do modelo de negócios ilegais da milícia. Para o autor, a união de organizações criminosas já era algo esperado. "No Rio, o poder, o domínio territorial, é medido pela quantidade de fuzis, e a partir desse controle, quanto mais atividades para aumentar a receita melhor. Eu acho que natural essa união (milícia e tráfico) acontecer, se você ficar menos em guerra, ganha mais dinheiro, faz parte do processo de profissionalização do negócio", analisou.

"Algo que surgiu muito durante a minha apuração para o livro era justamente essa pergunta 'tráfico ou milícia?', como se só houvesse essas duas escolhas. E é fundamental que as pessoas, os eleitores, principalmente, percebam que existe uma terceira opção, que é escolher um governador forte, comprometido com o estado de direito, com a democracia", ponderou.

Jogo do bicho inspirou milícia
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Em "A República das Milícias', Bruno Paes Manso realiza uma pesquisa histórica do início da formação dos grupos paramilitares, com a ideologia de defender a comunidade da violência até a sua ascensão, conquistando a simpatia de autoridades políticas e as relações com as forças de segurança.
Nas páginas, o jornalista descreve como até a própria família Bolsonaro demonstrava simpatia às milícias e como os chefes dessas organizações se elegeram em cargos públicos.
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Mas, além disso, a obra aponta como o jogo do bicho ajudou a fortalecer os milicianos e, consequentemente, suas organizações.
"O bicho foi fundamental para a milícia virar o que virou. Nos anos 1960 e 1970, os patronos do bicho fizeram um acordo para dividir seus territórios. Isso gerou dinheiro, sem confusão. A contravenção tinha a simpatia das autoridades já que também investiam suas receitas no carnaval, futebol, e davam muito dinheiro para a própria polícia".
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Marielle e eleição de Bolsonaro
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Quando finalizava o livro 'A ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil', junto com a coautora Camila Nunes Dias, em 2018, Manso foi impactado com o assassinato da vereadora do Rio, Marielle Franco, e de seu motorista Anderson Gomes. O homicídio, que ainda não totalmente foi elucidado, entrou para o livro sobre o PCC.
Após a divulgação, Bruno conta que foi provocado por seu editor, Flavio Moura, a escrever um livro sobre a violência no Rio e o caso Marielle.
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"Já fazia parte do meu interesse toda essa situação das facções criminosas e das milícias no Rio. Com a eleição do Bolsonaro, achei que o assunto tinha se nacionalizado, que até se justificava tentar entender as milícias para tentar entender o Bolsonaro", disse.
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