Mariana Scardua - REPRODUÇÃO DE VÍDEO
Mariana ScarduaREPRODUÇÃO DE VÍDEO
Por Yuri Eiras
Rio - A ex-subsecretária de Atenção Integral à Saúde do Rio, Mariana Scardua, afirmou em depoimento ao Tribunal Especial Misto (TEM) que chegou a avisar à Secretaria de Saúde dos riscos da construção dos hospitais de campanha em parceria com o Iabas. Scardua disse ter alertado o então secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, que a Organização Social "tinha o histórico de não entregar o que prometia". Sete hospitais de campanha foram planejados em um orçamento de mais de R$ 700 milhões, mas somente Maracanã e São Gonçalo foram entregues, ainda assim com falhas estruturais.
Mariana Scardua, que esteve na subsecretaria entre janeiro de 2019 e abril de 2020, é uma das seis testemunhas ouvidas nesta segunda-feira (28), em mais uma etapa do processo que avalia o impeachment do governador afastado Wilson Witzel.
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"Durante a pandemia, não fui consultada sobre medicamento, UTI, hospital de campanha. E quando eu fiquei sabendo pela mídia, e depois no gabinete de crise, que os hospitais de campanha estavam sendo realizados com o Iabas, eu fui novamente ao secretário e alertei que o Iabas tinha histórico de não entregar o que prometia. Quando fiz um novo alerta sobre o Iabas, fui comunicada que eu estaria exonerada no dia seguinte, no dia 3 de abril", disse. Mariana também afirmou que, após a chegada de Gabriell Neves na subsecretaria executiva de Saúde, em fevereiro, servidores eram proibidos de se comunicar, mesmo com a chegada da pandemia no estado, o que demandaria mais diálogo entre as secretarias.
"Até a chegada do Gabriell e do advento da pandemia, a área técnica (da secretaria) era consultada. Depois, deixou de ser consultada. Até janeiro de 2020, o que a gente perguntava para a subsecretaria executiva era respondido com clareza. Se algum prestador de serviço ligasse e dissesse que estava com pagamento atrasado, a gente entrava em contato com a subsecretaria e eles diziam a previsão. Com a chegada do Gabriell, os membros da secretaria foram proibidos de conversar com outras áreas. Só ele conversava com as outras áreas, e essas informações eram sempre imprecisas", afirmou Mariana.
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Em nota, a Iabas disse repudiar as declarações da ex-subsecretária. Confira a íntegra:
"O Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde repudia as declarações da ex-subsecretária de Atenção Integral à Saúde do Rio, Mariana Scardua, em depoimento ao Tribunal Especial Misto. O IABAS tem longo histórico na prestação de serviços de saúde com qualidade. As dificuldades enfrentadas pelo instituto na montagem e operação dos hospitais de campanha se deu por incompetência e ingerência das próprias autoridades de saúde do Estado. Dentre outros problemas, a Secretaria Estadual de Saúde não cumpriu o cronograma de desembolsos financeiros, deixando o instituto por 38 dias com fluxo negativo de caixa; fez mais de 20 alterações dos projetos de cada hospital num período de 40 dias; escolheu alguns locais inapropriados para abrigar os hospitais, o que demandou obras adicionais. Sem contar que não há que se falar em atraso, uma vez que o contrato celebrado com o governo NÃO PREVIA PRAZOS de execução. Os hospitais seriam todos entregues, não houvesse havido incompetência e desinteresse por parte das autoridades estaduais."
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Deputado pede liminar para ouvir Witzel
Nesta segunda-feira, seis testemunhas serão ouvidas, em mais uma etapa dos interrogatórios feitos pelo Tribunal Especial Misto (TEM) no caso que julga o impeachment de Wilson Witzel. São elas Valter Alencar Pires Rabelo; Roberto Robadey Júnior; Alex Bousquet (ex-secretário de Saúde); Édson Torres. Luiz Octávio Martins Mendonça já foi ouvido.
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O governador afastado também seria ouvido, mas o interrogatório foi cancelado por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O argumento é de que Witzel só pode ser ouvido após a defesa ter acesso a todos os documentos de defesa. O deputado estadual Luiz Paulo (Cidadania) afirmou ter pedido a impugnação da liminar que impede Witzel de ser ouvido.