Hospital Icaraí lamentou o ocorrido -  Divulgação
Hospital Icaraí lamentou o ocorrido Divulgação
Por Thalita Queiroz*
Rio - Uma família de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, está vivendo o drama de enterrar o mesmo parente por duas vezes e acusa um hospital particular de Niterói pelo erro. O idoso Ulisses Gonçalves Ribeiro, de 68 anos, foi internado no último dia 11 de dezembro no Hospital Icaraí, em Niterói, após complicações no quadro de saúde devido à infecção recente de covid-19 em novembro. Após 15 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ele não resistiu e faleceu no sábado (26).
Depois de ter sido reconhecido pelo genro na unidade hospitalar, o corpo de Ulisses foi liberado para que a funerária pudesse fazer o translado. No domingo (26), a família de Ulisses compareceu ao que deveria ser o enterro dele. Com o caixão fechado, seguindo os protocolos, ninguém imaginou que o corpo que estava diante deles era de uma idosa de 87 anos, também morta em decorrência da covid-19 na mesma unidade.

Segundo a filha de Ulisses, Daiane Lessa Ribeiro, de 34 anos, ao chegar do enterro ela recebeu um telefonema do Hospital Icaraí avisando que o corpo do seu pai estava esperando para ser retirado. "Quando eu atendi o telefonema a família estava toda reunida e ninguém entendeu nada. Eu fiquei muito nervosa, estou até agora à base de remédios para ter forças para resolver tudo isso. Eles queriam acertar tudo com a gente por telefone pra evitar que fossemos até o hospital, pois a família da pessoa que enterramos estava desesperada na porta da unidade sem saber de nada e eles queriam evitar maiores transtornos", diz Daiane que se recusou resolver por telefone e foi até a unidade.

Ao chegar no local, a história ganhou um desfecho ainda mais surpreendente. De acordo com a filha de Ulisses, o corpo enterrado por engano era de uma idosa que pagava há 10 anos seu plano para cremação.
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"A neta da idosa que enterramos ficou desesperada, disse que esse era um desejo da sua avó, que ela juntou por muitos anos dinheiro para ser cremada. O hospital devia ter mais responsabilidade com cada paciente, respeitar esse momento tão sofrido", desabafa Daiane.

Ainda horrorizada com tudo que aconteceu, a filha de Ulisses afirma que em nenhum momento o hospital prestou assistência à família. "Eles nos deixaram ontem de noite esperando lá fora do hospital. Ninguém veio até nós tentar reconhecer o erro, eles de início tentaram acusar o meu marido de ter errado no reconhecimento do corpo mas por sorte o enfermeiro que entrou junto com ele na sala estava presente e confirmou que o meu marido reconheceu o corpo certo. Depois disso eles tentaram colocar a culpa na funerária, mas como que a funerária vai pegar um corpo sem autorização do hospital? Então quer dizer que qualquer funerária pode encostar lá e pegar o corpo? O protocolo deveria ser tirar uma foto do morto e colocar em cima do plástico, em casos de covid-19, nem isso fizeram", revoltou-se.

Daiane, que era uma das pessoas mais próximas ao seu pai, conta que Ulisses sempre foi um homem com "uma saúde de ferro" e que jamais imaginou se despedir do seu pai de maneira tão dolorosa. "Meu filho de seis anos está sem entender nada e estamos todos tão abalados com tudo isso que é até difícil de explicar para uma criança que o avô que ele se despediu não era o seu avô. Eu tinha que estar do lado do meu filho, mas eu estou correndo de um lado para o outro tentando resolver a situação do enterro do meu pai, de novo", finalizou ela.

Por meio de nota, o Hospital Icaraí (HI) informou que a liberação de corpos desta unidade hospitalar segue criteriosamente os protocolos e que lamenta o ocorrido.

Confira a nota na íntegra:

"O Hospital Icaraí (HI) esclarece que a liberação de corpos desta unidade hospitalar segue criteriosamente o seguinte protocolo: documento de liberação e reconhecimento preenchido pelo maqueiro que realiza o reconhecimento do corpo junto com o familiar. O saco mortuário é etiquetado com nome, data de nascimento, hora e data do óbito. Após o reconhecimento, a funerária faz a retirada. No caso de pacientes com covid 19 o protocolo é seguido conforme determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), sendo o corpo lacrado, para que minimize o foco de contaminação.

Quanto ao caso exposto, esclarecemos que um paciente que veio a óbito em 27 de dezembro de 2020, tendo como causa mortis acidente vascular encefálico isquêmico, consequência de uma pneumonia viral SARS-COV2, estava devidamente identificado, aguardando familiares para reconhecimento, foi retirado pela funerária, que fora contratada para retirada de corpo de outro paciente também falecido no Hospital Icaraí , no dia 26 de dezembro, com causa mortis de choque séptico, por complicações por COVID 19, cujo reconhecimento já havia sido realizado por seu familiar, ocasionando o sepultamento indevido. Ressaltamos que ambos os corpos estavam identificados, seguindo todos os protocolos do Hospital Icaraí.

O Hospital Icaraí lamenta o ocorrido e informa que está prestando todo apoio aos familiares para que os trâmites judicias possam ser rapidamente resolvidos.

Reiteramos o compromisso em seguir todos os protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde e Vigilância Sanitária. Zelamos pelo bem-estar da população e de quem necessita dos nossos serviços. Prezamos pelo cumprimento de nossos valores e de nossa missão: salvar e preservar vidas".
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*Estagiária sob supervisão de Beatriz Perez