"Talvez até possamos, com o passar do tempo, voltar no feed da nossa existência e não revisitá-lo a todo instante da mesma forma"
 - Arte: Kiko
"Talvez até possamos, com o passar do tempo, voltar no feed da nossa existência e não revisitá-lo a todo instante da mesma forma" Arte: Kiko
Por ANA CARLA GOMES
Quem já entrou no Instagram sabe o que representa por lá a palavra "feed", um verbo em inglês que, em livre tradução, significa "alimentar". Funciona como o nosso cartão de visitas na rede social. Interativo e bem diferente daqueles de papel que usávamos antigamente, com os nossos contatos impressos. No Insta, para os íntimos, alimentamos a forma como nos apresentamos aos amigos e ao mundo através de fotos. Ali, estão recortes da nossa vida. Em um post, pinçamos uma face de nós mesmos que queremos revelar.

Nesse grande mosaico, nos é oferecida a chance de ocultarmos uma imagem já publicada. Ou até excluí-la. Podemos pensar melhor e reavaliar o que já tornamos público. Nossa vida, no entanto, não carrega esse poder mágico do feed. Não nos é dada a chance de arquivar memórias através de um clique. Nem através de nenhuma outra maneira. Nosso quebra-cabeças de experiências pessoais não se encaixa se retirarmos uma das peças. Talvez, até faça sentido não querer mais mostrá-las publicamente, mas são partes importantes do que já vivemos. Sejam elas alegres ou tristes.

Muitos de nós chegamos ao fim de 2020 sonhando com o poder de rearrumar fatos tão difíceis na memória e no coração. Talvez até possamos, com o passar do tempo, voltar no feed da nossa existência e não revisitá-lo a todo instante da mesma forma. Embora o que vivemos siga permanente na nossa trajetória.

Afinal, há na vida um outro item, presente de maneira bem resumida no Instagram, que faz cada um de nós ser único: a nossa biografia. Teremos, agora, mais um ano pela frente para escrevê-la.