Chrystina Barros analisa cenário do Rio frente ao avanço da pandemia - Divulgação
Chrystina Barros analisa cenário do Rio frente ao avanço da pandemiaDivulgação
Por Bruno Gentile*
Rio - O Brasil voltou a ter, nas últimas semanas, um aumento do número de casos e mortes pelo novo coronavírus e, prestes a alcançar a triste marca de 200 mil mortos pela covid-19, caminha a passos lentos para a elaboração de um plano nacional de imunização. No Rio, o cenário é semelhante: segundo estado do país com maior quantidade de óbitos, atrás apenas de São Paulo, o território fluminense tem apresentado, nos meses mais recentes, uma tendência de alta no contágio da doença e sofre com as condições precárias de atendimento nas unidades de saúde, sempre lotadas.
Somente na capital, onde o fluxo e deslocamento de pessoas é mais intenso, a taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para a covid-19 na rede SUS é de aproximadamente 91%, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Já a de quartos de enfermaria chega a 85%, o que configura uma diminuição da quantidade de leitos livres para internação, se comparado aos meses anteriores.
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Se no município do Rio a situação é preocupante, o estado também está longe de apresentar um panorama tranquilo. Isso porque, de acordo com dados do boletim mais recente divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), a taxa de ocupação de leitos de UTI beira os 60%, enquanto que os de enfermaria passam dos 70%. Nas últimas 24 horas, cerca de 4.262 casos do novo coronavírus e 220 óbitos foram confirmados no território fluminense.
Pesquisadora em saúde do Centro de Estudos em Gestão de Saúde (CESS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a especialista Chrystina Barros explicou como está o cenário do Rio frente à pandemia, relembrou o caos vivido em 2020 e fez um comparativo com São Paulo, que, atualmente, é responsável pelos piores números de casos e mortes em decorrência da covid-19.
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"De acordo com dados do portal de transparência do Registro Civil, que consolida todas as informações de cartório em relação à emissão das certidões de óbito, o Rio de Janeiro teve, em maio, a pior época do número de mortes em função do vírus, chegando a uma média móvel de 263 óbitos. Isso caiu bastante, mas já voltou a aumentar. Nós estamos no início de ano, e por isso, temos um atraso ainda dos dados de cartório, da mesma forma que existe um tempo entre confirmação de resultados e alimentação de sistemas. Todos esses aspectos fazem com que a informação demore a refletir a realidade", disse a pesquisadora.
"É fato que o nosso estado, em dezembro, teve mais casos de covid-19 notificados do que aqueles de abril e maio de 2020, por exemplo. Atualmente, o Rio de Janeiro é o estado com segundo maior número absoluto de óbitos, atrás apenas de São Paulo. Porém, quando se compara o tamanho da população, a capital fluminense tem quase 200 mortes por milhão, enquanto, no território paulista, não se chega a 100. Então, pode-se concluir, na verdade, que o Rio tem um dos piores cenários de mortes por covid-19 do mundo, tanto em números absolutos, como em relativos", completou.
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Chrystina Barros também comentou sobre a variação da média móvel de casos nas últimas semanas, afirmando que ela tem se apresentado, desde o dia 20 de dezembro até hoje, em um nível de estabilidade. Entretanto, a pesquisadora alertou que essa constância na curva ainda é alta demais e se encontra em um patamar muito elevado, e que o Rio ainda não se encontra perto do ideal. "Atualmente, temos, em média, por volta de 185 falecimentos/dia. Para um lugar que já chegou a registrar 50 mortes/dia, é evidente que temos a necessidade de frear mais o contágio da doença", concluiu ela.
Esperança no comando de Eduardo Paes
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Muitos especialistas da saúde e uma parte da população carioca criticavam a inoperância de ex-prefeito do Rio, Marcelo Crivella, em relação às ações de enfrentamento à covid-19. Agora, sob a nova gestão de Eduardo Paes (DEM), eleito para comandar novamente a cidade, fica, para Chrystina, a esperança do anúncio de novas medidas restritivas e que visam a proteger os cidadãos, evitando a proliferação do vírus.
"Para frear com mais rapidez o avanço da pandemia, a gente espera restrições mais duras e enérgicas do novo prefeito do Rio, Eduardo Paes, que, por meio do secretário municipal de Sáude, Daniel Soranz, já demonstrou que a prefeitura está disposta a tomar decisões mais severas. Agora, é esperar para ver se darão resultado positivo. Por hora, o momento é crítico e a tendência é de subida de casos, principalmente nessa época de verão, em que as pessoas se aglomeram em piscinas e praias”.
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Governo do Brasil desperdiça tempo
Questionada sobre a realização e execução de um plano de imunização para a capital e todo o território fluminense, a pesquisadora em saúde eximiu de responsabilidade as autoridades municipais e estaduais do Rio, e pôs na conta do governo brasileiro a demora para dar início às vacinações. Segundo ela, outros países ao redor do mundo estão dando exemplo de como liderar esse processo e o Brasil segue estagnado, desperdiçando tempo e vidas.
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"O Rio não pode ser considerado responsável pela demora em se elaborar o esquema de vacinação, justamente porque ela vem de uma decisão nacional, que não compete aos estados em si. No âmbito geral, é muito triste ver o Brasil perdendo tempo e não se programando como deveria. Já são mais de 50 países que iniciaram a imunização, alguns deles, inclusive, na América Latina, como México e Chile, bem perto de nós. O governo brasileiro está cada vez mais correndo contra o relógio, e quanto mais se demorar a realizar um plano de vacinação, pior será para o setor econômico, para o setor de empregos e, principalmente, para a saúde da população", concluiu Chrystina Barros.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes