Na imagem, é possível identificar que os dutos de ventilação do veículo estão cobertos de poeira, indicando a falta de manutenção adequadaEstefan Radovicz / Agência O Dia

Por *Jorge Costa
Rio - Um flagrante feito pelo repórter cinematográfico Estefan Radovicz, do DIA, expõe o abandono do sistema de transporte público de ônibus no município do Rio. Na imagem, é possível identificar que os dutos de ventilação do veículo estão cobertos de poeira, indicando a falta de manutenção adequada em um momento que a circulação de ar garante a proteção contra o contágio pela covid-19.

Estefan costuma se deslocar pela cidade do Rio utilizando diversas linhas das Zonas Norte e Sul da cidade. Em todos os itinerários, o repórter identificou a má integridade dos veículos.

"Tenho percebido que a conservação e limpeza dos ônibus foi reduzida comparado a antigamente. Algumas dessas linhas historicamente só utilizam veículos velhos e com problemas. O que eu reparo é que as empresas não estão dando conta de fazer a manutenção e limpeza adequada deles. Além disso, álcool em gel eu nunca vi nas unidades em que utilizo”, afirmou.

Partindo da Zona Oeste da cidade, uma passageira mencionou pelo Twitter que a linha 369, que liga Bangu até Candelária, no Centro do Rio, está em condições precárias.
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Ainda na Zona Oeste, outro passageiro que utilizava a linha 821, em Campo Grande, afirmou ter desistido do transporte público e agora faz seu trajeto a pé, preferindo andar cinco quilômetros do que pegar ônibus devido à lotação, desconforto e calor. "Meu dinheiro as empresas de transporte já não veem há muito tempo. Comprei um tênis adequado e vou caminhando, nada como uma boa música para romper grandes distâncias", concluiu.
O DIA procurou a Rio Ônibus, que enviou uma nota sobre o assunto. Confira na íntegra:
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Ao completar um ano das mudanças de comportamento social, reflexo da pandemia, os consórcios operadores das linhas de ônibus acumulam déficit de receita de R$1,2 bilhão. A média diária de passageiros transportados caiu de 3,5 milhões para 1,8 milhão. Ao longo de quase um ano de cálculos, deixaram de ser transportados 500 milhões de passageiros. Esta realidade impacta diretamente nas operações diárias, que passam por processo de envelhecimento da frota e dificuldades orçamentárias para custeio de salários, compras de combustíveis e implementação de investimentos.
O transporte é atividade essencial. Mesmo diante do caos gerado pelo vírus da Covid-19, o setor não parou, e fez sua parte ao longo de todo esse período de medo, com exposição de profissionais que encararam as incertezas e foram trabalhar para atender o deslocamento dos que também não tiveram a possibilidade de esperar tempos melhores em casa.
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Em março de 2020, no início do isolamento, os embarques tiveram redução de 80%. Hoje, um ano depois, mesmo diante da retomada das atividades comerciais e da cadeia produtiva, apenas 50% do público anterior utiliza os ônibus. Ou seja, com a metade da receita, sem ajuda ou subsídios do Município, do Estado, nem da União é impossível manter a linearidade da rede e implementar os investimentos necessários.
A falta de fiscalização ao transporte clandestino é outro grande problema do setor. Vans piratas e transportadores ilegais circulam livremente pela cidade, comprometendo o planejamento da mobilidade urbana e aumentando as dificuldades financeiras e operacionais dos sistemas formais.
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Na lista de itens que levam o sistema de transportes por ônibus à difícil atual situação constam ainda o avanço das viagens em carros de aplicativos desregulamentados, bem como questões crônicas, como o não ressarcimento pelas gratuidades (20% do total do público transportado); o congelamento das tarifas há mais de 26 meses; as péssimas condições viárias e mobiliário urbano degradado; bem como a falta de investimentos em segurança pública, que resulta em vandalismo, incêndios, paralisação e sequestro de veículos por criminosos em diferentes pontos da cidade.
Transparência de Mobilidade
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No site da prefeitura do Rio existia o portal ‘Transparência da Mobilidade’. Nesta área, era possível identificar o ranking com as melhores e piores empresas e linhas de ônibus de acordo com os dados da Secretaria Municipal de Transportes do Rio (SMTR).

No momento o portal está indisponível. A SMTR informou que está fazendo a compilação dos dados - que estavam desatualizados - e irá disponibilizá-los em breve, reativando o serviço.
A SMTR também afirmou ter realizado um levantamento, identificando que 40 linhas de ônibus consideradas de alta e média prioridade para a população estavam com a operação reduzida ou zerada.

Segundo a secretaria, os consórcios foram notificados e deverão apresentar um cronograma de reativação dessas linhas. As de alta prioridade devem retornar até o dia 30 de março e as de média prioridade, até o dia 30 de abril. Caso os prazos não sejam cumpridos, as empresas serão multadas por descumprimento de ofício e por não operarem as linhas.

Por fim, a Secretaria informou ter determinado aos consórcios que justifiquem os motivos da falha na prestação do serviço e que apresentem um cronograma de retorno das linhas que também não são de alta e média prioridade.
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*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes