As investigações da distrital apontaram que, normalmente, para roubar essa categoria profissional, os criminosos atuam em dupla ou num grupo muito pequeno, mas se dividindo entre as tarefas. Em algumas ocasiões, os ladrões levam os pertences pessoais da vítima, em outras os motoristas perdem seu principal bem: o veículo que é sua fonte de renda.
"O modo de agir deles é muito similar em relação a chamada do motorista. Se valendo de cadastros falsos de passageiros, eles pedem a viagem. Só que eles tem o cuidado de solicitar a corrida em regiões e horários, com características que o motorista não ia desconfiar", explicou o delegado Willians Batista, titular da 58ª DP.
Os investigadores também descobriram que a principal área de atuação dessas quadrilhas fica na região do Hospital da Posse.
"Eles chamavam o motorista perto do hospital da Posse, porque o motorista provavelmente acreditaria que seria um paciente saindo. Geralmente solicitavam essas corridas durante o dia. O criminoso também se atenta para ter uma conduta que não levante suspeitas por parte do motorista, para ele não achar que ia ser anunciado o assalto em algum momento e acabar recusando a viagem", contou Batista.
Segundo a polícia, existe também uma outra quadrilha especializada em assaltar motoristas de transporte de passageiros por aplicativo, no bairro Rodilândia.
"Nós notamos ao longo dos últimos meses de 2020 que havia um número muito alto de roubos contra motoristas de aplicativos, todos esses roubos com um modo de agir muito parecido, em determinadas regiões da cidade. Diante desse número relativamente alto de casos, nós resolvemos criar essa força-tarefa, e nos baseamos nas informações de todas as ocorrências, agrupando de acordo com o modo de agir, região de atuação, número de autores no crime. O objetivo era dar continuidade a uma série de investigações que nós já tínhamos", esclareceu o delegado Willians Batista.
Até o momento, a distrital prendeu 11 ladrões de motoristas de aplicativo, e mais de 30 inquéritos contra esses suspeitos que se dedicavam a esse tipo de crime, já foram relatados e entregues à justiça.
"A força-tarefa busca a identificação de eventuais suspeitos. Todas as vítimas foram sendo gradativamente chamadas e fizemos o reconhecimento formal. Nós fizemos um mapeamento total, do começo de 2020, que foi nossa data de corte, até os dias atuais, e chegamos a um número de registros e esse número foi dividido entre integrantes da equipe para que cada policial tivesse seu objetivo muito claro sobre quantas pessoas ele deveria chamar para delegacia e diligenciar", falou o delegado.
Willians Batista ainda contou que se preocupou em usar táticas para refinar o reconhecimento formal dos suspeitos.
"Nós fizemos um álbum com os suspeitos de cometerem esse tipo de crime. Com um trabalho de inteligência conseguimos mapear esses eventuais suspeitos e as pessoas vem na delegacia para efetuar o reconhecimento, que é filmado. Usamos um mosaico nas fotos, para justamente a pessoa ter certeza que é aquele indivíduo em meio a outros elementos similares, e as fotos estão sempre coloridas e atualizadas, não usamos fotos antigas. E a gente não se vale só disso, não podemos nos basear só no reconhecimento por fotografia. Então, buscamos câmeras de segurança, busca pelo cadastro de passageiro e motorista da corrigem que teve o assalto", declarou.
"A maioria dos veículos são vendidos para traficantes de comunidades do Rio, especialmente o Complexo do Chapadão. Eles costumam sempre fugir para lá. Pegam a Dutra e depois Via Light, que é uma reta só, por uma via expressa, que dá lá no Chapadão em menos de 15 minutos", explicou o delegado Willians Batista.
De acordo com o porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, a escolha pelo Complexo do Chapadão pode ser explicada por sua extensa área, que abrange comunidades entre os bairros de Costa Barros, Pavuna, Anchieta, Guadalupe e Ricardo de Albuquerque, e por seu forte poderio bélico. O oficial contou ainda que a corporação apura a informação de que uma localidade conhecida Furna da Onça seja usada para desmanche de veículos.
"O Chapadão tem investido sim nessa sublocação de espaços, seja para transbordo de cargas roubadas, seja para o corte de veículos, isso mediante a pagamento de pedágio do criminoso para o tráfico de drogas. Mas essa relação ali é histórica, há cerca de 10 anos, o Nando Bacalhau já tinha como atividade principal esquentar carros roubados, remarcando chassi e revendê-los para o restante do país", explicou Blaz.
Os agentes da 58ª DP constataram ainda que o conjunto de favelas carioca também abriga ladrões que roubam carga na região. E não é de hoje que o Chapadão tem uma forte relação com roubos de carga e veículos, de acordo com as polícias Civil e Militar.
"Historicamente a área concentra quadrilhas especializadas em roubo de carga, tem essa expertise há muitos anos. Em 2010, com a tomada do Alemão, o Chapadão se tornou um dos QG's do Comando Vermelho e promoviam muitos bailes também. Mas, devido as investigações ali, desde 2016, houve uma diminuição do roubo de carga, naquela região, percentualmente. Hoje a gente pode afirmar que o Chapadão não é a principal área de roubo de carga do estado", declarou o delegado Vinicius Domingos, titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Carga (DRFC).
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.