Wilson Witzel no TEM
Wilson Witzel no TEMLuciano Belford/ Agência O Dia
Por Bernardo Costa
Rio - Em seu depoimento, na tarde desta quarta-feira, no processo de impeachment, o governador afastado do Rio, Wilson Witzel, afirmou que o ex-secretario de Saúde, Edmar Santos, já integrava um esquema criminoso antes mesmo de integrar o governo estadual. E que foi surpreendido quando as investigações de desvios na saúde vieram à tona. Em dois momentos de sua fala, o governador afastado chorou.

Witzel sustentou que Edmar Santos tinha um chefe que não ele, mas sim o empresário e pastor Edson Torres, preso na operação Tris in Idem, e que Witzel chamou de "bandido profissional". Segundo Witzel, Edmar Santos já estava envolvido em corrupção quando era diretor do Hospital Pedro Ernesto.

"Foi descoberto que Edmar Santos tinha R$ 8 milhões em baixo do colchão dentro de casa. De onde veio esse dinheiro? O dinheiro foi pago a ele como propina pelo pagamento de serviços prestados ao Hospital Pedro Ernesto. Segundo Edson Torres, o patrão dele, a quem ele pagava mesada, foram R$ 18 milhões pagos a Edmar. Ele devolveu R$ 8 milhões, mas e o restante?", disse Witzel.

No caso da requalificação da Unir Saúde, OS apontada pelo Ministerio Público como sendo de propriedade do empresário Mário Peixoto, Witzel disse que assinou a requalificação da Unir para que a OS tivesse o direito de se defender das denúncias de irregularidade na administração de unidades de saúde do estado:

"Se eu não fizesse isso, poderia responder por improbidade administrativa. Eu teria que dar o direito ao contraditório e, se ficassem constatadas as irregularidades, a Unir seria impedida de contratar com o estado. Foi uma decisão técnica, e não para favorecer qualquer grupo".

Sobre as irregularidades na contratação da Os Iabas para a construção e gestão dos hospitais de campanha, Witzel disse que orientava decisões estratégicas e que não interferia em detalhes de contratos:

"Não tenho condições de me reunir com 22 secretários para tratar de detalhes de contratos. Eu dava as decisões estratégicas. Nesse caso, não tínhamos leitos no estado, não havia condições de contratação na rede privada e tomei a decisão de fazermos os hospitais de campanha, como estava sendo feito em São Paulo. Determinei que fizéssemos os hospitais de campanha, mas não interferi em contratos".
"Quando o convidei para assumir a secretaria, ele não tinha sinais exteriores de riqueza, na havia investigações contra ele na polícia, e ele havia sido condecorado na Alerj. Era professor da Uerj e diretor do Hopsital Pedro Ernesto. Infelizmente, o crime existe, e nós podemos ser surpreendidos. Edmar Santos era uma laranja podre", disse Witzel.

Witzel chora em depoimento

Em dois momentos, no início e no fim de seu depoimento, Wilson Witzel chorou.

"Esse processo de impeachment é muito doloroso. É muito cruel o que estão fazendo com minha família, com a minha esposa. Entrei na política por um ideal. Uma das minhas missões era ter uma saúde exemplar, mas o secretário Edmar não entendeu dessa forma", disse Witzel.

No fim do depoimento, Witzel disse que, independentemente do resultado do processo, a "vitória já está dada".

"Meus filhos ontem rezaram em casa. Minha filha, que se batizou comigo, me disse, de joelhos, que quer se tornar pastora. Na minha casa ergueu-se um altar a Deus. Saio de cabeça erguida. A vitória já está dada. E é a ele, nosso Deus supremo", disse Witzel, com a voz embargada. 

Após o depoimento de Witzel, última fase da instrução do processo de impeachment, a defesa do governador afastado terá um prazo de 10 dias para apresentar as alegações finais. Em seguida, será marcada data para o julgamento final, previsto para acontecer ainda este mês.