Mulher agredida no metrô por cobrar uso de máscara perdeu prima grávida e tios para a covid-19
Maria Clara Pedrosa, de 33 anos, foi chamada de 'comunista' e 'esquerdista' após pedir a manifestante pró-Bolsonaro que usasse a proteção: 'Quando fui procurar um segurança para avisar que tinha um monte de gente sem máscara, ela puxou meu cabelo'
Por Tatiane Gomes*
Rio - No dia das manifestações a favor do governo Bolsonaro, que aconteceram neste sábado, uma passageira do MetrôRio acabou sendo agredida por uma manifestante que se recusou a colocar a máscara. A jornalista Maria Clara Pedroso, de 33 anos, conta que estava indo para casa, no Leblon, Zona Sul do Rio, quando entrou em um vagão com manifestantes que gritavam sem máscara. Após pedir a um deles colocasse a proteção, acabou sendo hostilizada e agredida. O momento foi filmado por um outro passageiro.
O caso aconteceu por volta das 11h, no sentido Zona Sul do metrô, enquanto as manifestações ainda aconteciam em Copacabana. Maria Clara conta que entrou em um vagão com vários manifestantes, que cantavam e gritavam 'Mito', alguns deles sem máscara, o que a deixou incomodada.
"No momento em que eu estava passando por eles, ela [a agressora] estava sem a máscara e eu já tinha falado com ela 'coloque a máscara, você está em local público'. Quando eles perceberam que eu não era a favor, que eu não pensava igual a eles, aí já começaram a zombar, a gritar, me chamar de comunista, esquerdista", contou Maria Clara.
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De acordo com ela, nesse momento um passageiro começou a filmar e a discussão já havia começado, mas ainda sem agressões. Em determinado momento, a jornalista avisou que iria chamar o segurança, e acabou tendo o cabelo puxado pela manifestante. "Já estava rolando discussão e tudo mais, aí eu falei para ela colocar a máscara. Ela disse que não ia colocar, que era problema dela. Eu falei para ela que ia chamar o segurança. Aí quando eu dei as costas para sair do vagão para procurar um segurança para avisar que tinha um monte de gente sem máscara, ela puxou meu cabelo", explicou ela.
Passageira do MetrôRio pede para manifestante colocar a máscara e acaba sendo agredida. Créditos: Divulgação #ODiapic.twitter.com/KWGROkcdPG
Maria Clara contou que durante a pandemia, perdeu a prima, que estava grávida de 8 meses, uma tia e um tio. "Temos 400 mil mortes [por covid-19]. Eu acabei sendo hostilizada por uma pessoa que simplesmente debocha da dor de milhares de famílias. Perdi uma prima grávida, de 8 meses. Ela ficou duas semanas intubada. Ela e o bebê morreram. Minha tia e meu tio também. Eu fui agredida. Uma pessoa se achou no direito de puxar meu cabelo dentro do metrô porque eu pedi que colocasse a máscara, algo obrigatório", desabafou a jornalista.
Quando funcionários do metrô chegaram e tentavam acalmar a confusão e gritaria dentro do transporte, a agressora acabou fugindo. Segundo testemunhas do local, um segurança tentou ir atrás da mulher, mas ela acabou escapando. "Se ela estivesse certa teria ficado até o final, como eu fiquei. Mas ela sabia que estava errada", revelou Maria Clara.
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O DIA também conversou com o rapaz que gravou o momento da agressão, Leonardo de Souza Novaes, de 26 anos, que estava no metrô para fazer uma entrega. Segundo ele, quando entrou no transporte, na estação Estácio, o grupo já estava gritando e cantando, sem máscara ou com ela no queixo. "Todos já estavam gritando ali, no pique Copa do Mundo, bandeira do Brasil, sem máscara. E isso começou a me incomodar ao ponto de que eu comecei a filmar", explicou Leonardo.
Ele conta que a agressora de Maria Clara chegou ao ponto de gritar e ficar alterada, causando incômodo em quem estava no vagão. Com isso, a vítima teria pedido para a mulher que colocasse a máscara e ela se recusou. "Todos no vagão começaram a chamá-la [a Maria Clara] de esquerdista, como se usar máscara em ambiente fechado fosse coisa de esquerdista. Então a mulher começou a ficar muito nervosa e Maria foi insistente. Nisso, a manifestante resolveu partir para agressão. Na hora eu capturei o momento", explicou o rapaz.
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"O sentimento é de revolta. Sobretudo, entender que pensar de uma forma diferente pode fazer com que você leve um soco na cara, um puxão de cabelo, seja agredido. Ali a gente nem viu as pessoas debaterem questões políticas, para que a confusão tenha começado. Ali era uma coisa muito óbvia. 'Você poderia colocar a máscara, por favor', só isso. Não era debate entre esquerda e direta, Bolsonaro ou Lula. Ninguém chegou nesse nível de debate. Um simples fato: coloque a máscara. Hoje em dia pedir para uma pessoa colocar a máscara em um ambiente fechado é arranjar briga", explicou a Leonardo.
Leonardo também explicou que não se envolveu na briga para evitar uma confusão maior e conseguir ajudar a vítima com provas da agressão por parte da manifestante.
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No post feito por Maria Clara no Instagram, o MetrôRio reafirmou que passageiros devem fazer o uso de máscara dentro do transporte e que o ato é 'de cidadania e proteção coletiva'. A empresa também informou que irá disponibilizar as imagens internas para as autoridades policiais assim que forem solicitadas. A jornalista irá prestar queixa em uma delegacia pela agressão ainda neste domingo (02).