Milton Teixeira: 'mudança de nome de rua para Paulo Gustavo será emblemática na história'
Para historiador, projeto proposto pela prefeitura de Niterói faz justiça à trajetória do país ao eliminar o nome de Cel. Moreira César da cidade. Já Luiz Antônio Simas aponta o militar como responsável por diversos massacres no Brasil
Por Bernardo Costa
Rio - Caso a população de Niterói decida trocar o nome da Rua Coronel Moreira César, em Icaraí, Niterói, para Rua Paulo Gustavo, como propõe a prefeitura, o historiador Milton Teixeira acredita que se fará justiça de forma emblemática. Os moradores decidem, até sábado, se aceitam a mudança como forma de homenagear o ator e comediante, morto nesta terça-feira, por complicações da covid-19. A votação é pela internet, no site consultas.colab.re/PauloGustavo.
"Coronel Moreira César é conhecido como o corta-cabeças: o apelido que recebeu por reprimir com extrema violência as rebeliões que se insurgiram contra a ditadura de Marechal Floriano Peixoto, no final do século 19. Ele era um monstro. Já era para o nome dele ter sumido da cidade de Niterói há muito tempo. Acho muito oportuna a mudança, pois ele era machista, metido a valentão e será ótimo que tenha o nome substituído pelo do ator Paulo Gustavo, que era assumidamente gay. Moreira César dará um giro no inferno", diz Milton Teixeira, às gargalhadas.
O também historiador Luiz Antônio Simas explica que a prática de Moreira César de degolar seus opositores, o que lhe rendeu o apelido de "corta-cabeças", era justificada pelo militar pela seguinte frase: "A degola é uma maneira de economizar munição".
"Ele se destacou por reprimir rebeliões na primeira década da República sempre agindo com violência extremada. Promoveu verdadeiros massacres. O apelido foi cunhado após um dos maiores dele, na cidade de Desterro, quando foi enviado para combater a Revolta Federalista (1893 a 1895), que contestava a República e o governo de Floriano Peixoto. Após o massacre, a cidade passou a se chamar Florianópolis", explica Simas.
Coronel Moreira César também foi enviado para reprimir a comunidade que se formou no Arraial de Canudos, movimento liderado por Antônio Conselheiro, no sertão da Bahia, entre 1896 e 1897. O militar chefiou a terceira expedição que tinha o objetivo de exterminar Conselheiro e seus seguidores, camponeses pobres que lutavam por terra e pelo fim de pesados impostos. Moreira César acabou morto pelos rebeldes, em 1897.
Publicidade
Milton Teixeira conta que, após a morte de Moreira César, "que foi comemorada por muita gente", segundo o historiador, a Rua do Ouvidor, no Centro do Rio, recebeu o nome de Moreira César. Mas apenas por pouco tempo:
"A população se revoltou contra a decisão e a rua acabou ficando com o nome de Rua do Ouvidor mesmo. Mas em Niterói ele acabou se tornando nome de rua nessa época, após morrer em Canudos, no fim do século 19".
Publicidade
Já Simas lembra que, em 2014, membros da Comissão da Verdade, que apurava os crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985), propuseram a mudança do nome da Rua Moreira César para Rua Vinicius de Moraes:
"Chegou-se a se enviar uma proposta para a Câmara de Vereadores na época, mas a ideia acabou não indo para frente. Espero que desta vez dê certo. Coronel Moreira César foi uma figura nefasta".