Adriana vai celebrar o Dia das Mães e a vacina com a filha Thayná e as irmãs
Adriana vai celebrar o Dia das Mães e a vacina com a filha Thayná e as irmãsArquivo Pessoal
Por Rachel Siston
Rio - Em 10 de maio de 2020, as famílias tiveram que comemorar o Dia das Mães separadas para evitar a transmissão e o contágio da covid-19. Neste domingo (9), apesar de ainda precisarem manter as medidas de restrição, elas têm um motivo a mais para celebrar a data: a vacinação contra o novo coronavírus.
De acordo com o Vacinômetro da Secretaria de Estado de Saúde desta sexta-feira (7), no Rio de Janeiro, 2.450.422 pessoas tomaram a primeira dose de um dos imunizantes disponíveis contra a doença. Já a segunda dose alcançou 1.117.998 fluminenses. Entre os contemplados com as duas etapas, está a aposentada Nilza Braga Tavares, de 87 anos.
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A idosa chegou a contrair o vírus em abril do ano passado e ficou 22 dias internada no Hospital Naval Marcílio Dias, no bairro Lins de Vasconcelos, na Zona Norte do Rio. Apesar de ter sofrido complicações por conta da doença, ela não precisou ser intubada e teve alta pouco antes do Dia das Mães do ano passado.
"Eu escapei e foi um milagre. Eu sofri muito, gosto de fazer minhas atividades, não sei ficar parada. Tomara que essa doença vá embora logo, é muito triste", desabafou ela. A filha de Nilza, a dona de casa Mônica Braga Tavares, conta que viveu momentos de angústia junto aos irmãos.
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"Ficar 22 dias sem poder ver a sua mãe, só ter notícias sobre ela à noite, você só espera o pior. Era todo dia oração. Foi um medo muito grande, é muito ruim. No ano passado, nosso presente de Dia das Mães foi a volta dela. Esse ano, com a vacinação, estamos nos sentindo muito gratos, felizes e aliviados. Ela é nossa guerreira, uma vencedora. Nosso Dia das Mães vai ser muito especial", celebrou Mônica.
Agora imunizada, a aposentada se diz revigorada e pronta para viver por muito mais tempo. "Eu estou ótima. Vou ver se chego até os 100 anos, ainda quero viver muito. Estou muito feliz em ainda poder ver meus filhos e meus netos. Eu brinco que quero ver se eles vão chegar na minha idade. E esse ano, estou boa para fazer tudo, vou até fazer o almoço, porque do meu jeito é mais gostoso", brincou.
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A pesquisadora em saúde e membro do comitê de combate ao novo coronavírus da Universidade Federal Fluminense (UFRJ), Chrystina Barros, reforça que, assim como em outras datas comemorativas, a melhor maneira de celebrar é preservando a vida, por meio da prevenção à covid-19. Segundo ela, na última apuração sobre a transmissão da doença no estado, por meio do Covidímetro da Instituição, a taxa chegou a 1.36, o que representa que cada 100 pessoas passam para outras 136.
A especialista ainda lembrou que na última quinta-feira (6), a Secretaria de Estado de Saúde (SES) identificou uma nova variante em circulação no Rio de Janeiro. A cepa recebeu o nome de P.1.2, por se tratar de uma mutação da linhagem P1, e foi encontrada principalmente na Região Norte Fluminense, além de ter sido identificada na Região Metropolitana, Centro e Baixada Litorânea.
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"O vírus por estar em franca disseminação, sem nenhum controle, sem nenhuma contenção, a cada multiplicação pode ser tornar mais letal ou mais contagioso. As vacinas são eficazes para prevenir, principalmente, casos mais graves e o óbito, mas não podemos deixar o vírus circular, porque elas só garantem proteção, no nível de estudo, após a segunda dose", explica a pesquisadora, que ainda alertou sobre a possibilidade de contágio por meio de pessoas que já tomaram a vacina.
"Pessoas vacinadas podem transmitir o vírus, até por ter uma forma mais leve, com menos sintomas, se sentem mais seguras, mas são disseminadoras. Se a sua mãe ganhou de presente duas doses da vacina, preserve-a. O isolamento físico neste momento é o melhor presente. Enquanto a vacina não chega a, pelo menos, 60%, 70% da população, as medidas restritivas são a nossa maior prova de cuidado".
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A estudiosa também afirma que encontros ao ar livre com distanciamento e uso de máscaras podem ser uma forma de celebração, mas que as reuniões em locais fechados colocam em risco a saúde de toda a família.
"Mande rosas, mande mensagens, faça encontros ao ar livre com distanciamento, não abra mão de máscaras, evite ambientes fechados, almoços, confraternizações, porque dificilmente conseguem manter as medidas de prevenção. Na hora que a gente almoça, precisamos tirar a máscara. Ao tirar, falamos, conversamos e estamos disseminando o vírus, inclusive, porque muitas pessoas podem disseminar o vírus estando assintomáticas", reforça Chrystina.
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A auxiliar administrativa Adriana Alves, de 47 anos, trabalha em uma unidade de saúde e já recebeu as duas doses do imunizante contra a covid-19. A primeira veio um dia depois de seu aniversário, em 5 de abril, e a segunda, em 3 de maio, se tornou presente de Dia das Mães antecipado.
Ela lembra que no ano passado, não se reuniu com suas irmãs para comemorar, para evitar que fossem infectadas pelo vírus. Este ano, ela diz que pretende passar o dia junto com as duas, uma delas também já vacinada. Apesar da felicidade pela imunização, Adriana não esconde a apreensão.
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"Eu estou me sentindo aliviada, mas ainda pouco apreensiva com essa doença que está destruindo várias famílias. Mesmo a gente vacinado, não é que a gente não vá pegar, mas eu fico mais tranquila. Foi um presente e vou poder estar com minhas irmãs e com a minha filha. Não vejo a hora de poder voltar as reuniões familiares. Agora só pode dar um toquinho na mão e a gente sente falta do afeto. Com a vacina, chega a esperança de que ano que vem esteja todo mundo vacinado e a gente possa se abraçar", contou.
A médica geriatra e psiquiatra Roberta França demonstra preocupação com as celebrações. Ela afirma que em todo o período da pandemia, após as datas comemorativas grandes, houve aumento nos casos do novo coronavírus. Para ela, enquanto 70% da população mundial não estiver vacinada, não há como pensar em normalidade.
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"Infelizmente, as pessoas insistem em não entender que estamos em pandemia e que nós precisamos manter os cuidados. A sua mãe, sua avó e sua tia estão vacinadas, mas a grande maioria dos membros da família não estão", disse a médica.
Roberta explica que as novas cepas da doença têm se manifestado de maneira mais grave e afetado não somente idosos e pessoas com comorbidades, mas jovens, crianças, pessoas com idades entre 40 e 55 anos, além de gestantes. Segundo ela, nesses casos, o potencial de agravamento é grande.
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"As famílias precisam entender que, mais importante do que reunir, é ter as mães para comemorar ao longo da vida. Não ter uma reunião agora, significa que nós estamos preservando a nossa família para que muitas outras reuniões aconteçam", declarou ela, que ainda orientou que possíveis encontros aconteçam ao ar livre e com poucas pessoas.
"O ideal é que não sejam feitas grandes reuniões familiares e caso você queira ver os seus pais, mantenha o distanciamento social, que seja feito em um lugar aberto, arejado e com pouquíssimas pessoas, compreendendo que esse ainda não é o momento de aglomerar, de fazer reuniões familiares e colocar muitas pessoas dentro de casa", salientou.