Cabos em Jacarepaguá. Foto de arquivo. Luciano Belford/Agência O DiaLuciano Belford/Agencia O Dia

Por Yuri Eiras
Rio - Criminosos cortaram os cabos de Internet e TV por assinatura de parte do Engenho da Rainha, bairro da Zona Norte do Rio, deixando milhares de moradores sem condições de trabalhar ou estudar. Sem opções, muitos precisaram se mudar para casa de parentes e amigos para continuar atuando em home office. A intenção do tráfico local é coagir a população a contratar o serviço de internet fornecido por eles. 
A Polícia Civil investiga que a prática de não permitir os serviços de internet e televisão vindos de fora, clássica de grupos de milícia, também tem sido reproduzida por traficantes. Na última semana, a Claro disparou mensagem no aplicativo dos clientes avisando que a suspensão do serviço no Engenho da Rainha e a falta de manutenção foram motivadas por "problemas de segurança pública". "Por medida preventiva as equipes técnicas estão impossibilitadas de entrar na região e prestar qualquer atendimento no local em razão de ameaças físicas aos técnicos", dizia o comunicado.

"Na semana passada, a internet caiu na segunda-feira. Soubemos o motivo na quarta: pela ligação automática, a Claro dizia que técnicos da companhia haviam sido ameaçados, e que por problemas de segurança pública, não tinha previsão de volta do serviço", conta um morador. "Tomei um susto, fiquei em choque. Vizinhos receberam a mesma informação. A URA (atendente eletrônica) também informa que é problema de segurança pública. Meu condomínio não fica em área de favela, apesar de entender que isso é inadmissível em qualquer lugar da cidade. Todo mundo tem direito de ser cidadão", afirma. Ainda não há previsão de restabelecimento.
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Moradores da Estrada Velha da Pavuna contaram à reportagem do DIA que receberam a oferta de uma provedora de internet local há alguns meses. No entanto, poucos contrataram o serviço. Tempos depois, concessionárias de telecomunicações começaram a ser impedidas de atuar na região. "Soube que escolas ficaram sem sinal. Professores não conseguiram dar aula. O comércio também ficou prejudicado". Traficantes e milicianos têm tentado expandir seus domínios para além dos limites das favelas, retirando a internet de condomínios e edifícios localizados fora das comunidades.
No último mês, o Disque Denúncia registrou relatos de cabos cortados também na Rua Freitas Madureira, em Piedade, Zona Norte; na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, na Zona Oeste; e na Vila Tiradentes, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. 
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Procurada, a Polícia Civil informou que todos os casos são registrados, e afirmou que a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) e outras especializadas "têm atuado fortemente no combate a este tipo de crime, assim como realiza ações constantes para identificar e prender esses criminosos - também acusados de subtrair equipamentos das operadoras - e de receptadores". A Civil ressaltou ainda que "as ocorrências devem ser comunicadas pelas empresas e concessionárias e pela população na delegacia".
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Operadoras sem acesso a 110 equipamentos no estado; problema afetou 158 mil clientes
Dados coletados em março pela Conexis Brasil Digital, antiga SindiTelebrasil, que reúne empresas do ramo de telecomunicações - Claro, Oi, Tim, Vivo e Algar Telecom -, apontam que as operadoras tiveram acesso impedido a 110 equipamentos que forneciam serviços por rede fixa em todo o Estado do Rio. O problema chegou a afetar 158 mil clientes. No último mês de março, havia 26 antenas de celular e internet móvel 'sequestradas', sem possibilidade de acesso pelas empresas.
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"O setor de telecom vem sofrendo com ações criminosas no Rio de Janeiro, o que tem deixado milhares de pessoas sem acesso aos serviços de telefonia e internet. Essas ações têm impedido a instalação e manutenção dos serviços", afirmou a Conexis, em nota. "As empresas sofrem com o bloqueio do acesso às antenas que atendem à rede móvel e de infraestruturas usadas na rede fixa, além de furtos de cabos, vandalismo e imposição de serviços piratas".
A Conexis ressaltou ainda que "tem defendido com as autoridades de segurança pública o endurecimento na repressão deste tipo de crime, para que haja a devida punição aos que prejudicam a sociedade com tais delitos". Em todo o Brasil, cerca de 6,6 milhões de clientes de empresas de telecomunicação tiveram seus serviços interrompidos por roubo ou furto de cabos em 2020, segundo a Conexis. Cerca de 4,6 milhões de metros de cabos foram roubados.