Renan Ferreirinha, secretário municipal de EducaçãoDivulgação

Por Alberto João
Rio - O secretário municipal de Educação do Rio de Janeiro, Renan Ferreirinha conversou com o DIA e fez um balanço do seu trabalho e de como está sendo o enfrentamento da pasta na pandemia. "Nós conseguimos recolocar o Rio como referência em educação. Foi um trabalho coletivo, de uma rede extremamente capacitada", disse.
Renan disse que todas medidas adotadas pela secretaria no retorno presencial das aulas são tomadas em parceria com a área da Saúde da Prefeitura, além do aval do Comitê Científico. "Educação é a principal prioridade do Rio de Janeiro. Espero que isso tenha ficado evidente nestes seis meses".
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ODIA: Qual é o seu balanço na secretaria?

Renan Ferreirinha: Completei seis meses muito intensos. De muito aprendizado. Temos lideranças consolidadas e profissionais muito capacitados. O Rio de Janeiro é a capital disparada mais avançada no retorno presencial. Trabalhamos com a urgência no aprendizado das crianças. Existe uma tragédia silenciosa que aconteceu com a educação no país. Crianças que foram impactadas, inclusive, na própria garantia de comer. A escola é um lugar de interação social. Para muitos dos nossos alunos, o único prato de comida no dia é na escola. Nossa comida é muito boa. É uma política de estado do Rio de Janeiro. Eu almoço, pelo menos, duas vezes por semana nas nossas escolas. A nossa realidade hoje é do ensino híbrido. Conseguimos ir de 38 escolas até 1522 escolas ofertando o ensino presencial. O foco central da nossa gestão é o aprendizado das crianças e jovens. Uma prioridade é a dignidade de trabalho dos nossos profissionais. Todos os nossos profissionais de educação no Rio de Janeiro receberam pelo menos seis unidades de máscaras PFF2. Fomos a primeira cidade no Brasil que fez isso.
Qual o balanço da vacinação entre os profissionais de educação?

Temos um dado de 154 mil profissionais que trabalham com educação (público e privado, incluindo, os terceirizados) na cidade do Rio de Janeiro e que tomaram a primeira dose da vacina. Somos pioneiros na vacinação em massa para educação. Todos os profissionais já tiveram a oportunidade de receber a primeira dose. Defendemos desde o início a vacinação dos profissionais de educação. Não abro mão da responsabilidade que o momento requer. A Saúde e o Comitê Científico são parceiros e caminhamos juntos. Fizemos a elaboração de um protocolo sanitário com referências nos principais documentos do mundo que fizeram esse retorno em segurança.
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Quais são os desafios do ensino remoto e presencial?

Fizemos uma pesquisa e 78% das famílias afirmaram que preferem o presencial. Mesmo com 100% das nossas escolas podendo ir para o ensino presencial (98% já estão), ele ainda precisa da complementação do remoto. Vale seguir para os nossos alunos terem o máximo possível de recursos na trajetória educacional. Desenvolvemos três frentes neste modelo: o remoto pela TV, com o Rioeduca na TV, com mais de dez horas diárias na TV Escola, o aplicativo Rioeduca Em Casa, com os alunos e professores usando e não consumindo seus dados de internet, e criamos também o material impresso contextualizado para o momento da pandemia e para o Rio de Janeiro.
Quando o ensino voltará a ser somente presencial no Rio?

Acredito que já no terceiro bimestre (agosto) a gente tenha todas escolas funcionando no presencial. Temos ainda 21 escolas que precisam receber o aval para o retorno. Somos muito rigorosos com isso. Para estar apta, a escola precisa passar por uma lista de infraestrutura e de insumos. É o check-list de ações e a retomada de serviços essenciais, como limpeza e merendeiras. Pretendo avançar o máximo em julho e em agosto chegar na totalidade. Tendo o ensino presencial ofertado. Para tirar o caráter facultativo depende da vacinação em massa. No Rio, a vacina chega e logo é aplicada. Tem muito planejamento da Saúde. Não é coincidência, é muito trabalho, sob a liderança do prefeito Eduardo Paes.
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Qual é o caminho do modelo de ensino?

A realidade é híbrida. Não é substituir ou competir com os nossos profissionais. Os professores são fundamentais. É mais para completar. Precisamos entender que nossas crianças precisam estar nas escolas, ninguém pode ficar para trás. Temos um projeto de busca ativa das crianças e jovens. Precisamos recuperar esse vínculo. A gente compete com crime organizado, tráfico, milícia, trabalho infantil, gravidez precoce. A ausência da escola deixou a criança muito mais vulnerável. A pandemia escancarou problemas que já existiam: abandono escolar, a falta de amparo social e emocional que existiam nas escolas e não existiram em 2020 e o retrocesso de aprendizagem. Não basta a criança estar na escola, ela tem que aprender.

Como melhorar o ensino de matemática e português na rede municipal?

Temos que entender qual é a dificuldade em matemática e português dos alunos. Colocamos isso no tripé pedagógico que é a formação, avaliação e material didático. Voltar com as atividades diagnósticas dos nossos profissionais. Lançamos o programa de reforço escolar. Ele é crucial para combater o retrocesso na aprendizagem. Pretendemos ampliar para próximas disciplinas. Ter a formação dos nossos professores voltada para o reforço. Fomentar a tutoria entre os alunos, linguagem própria, queremos ser pró-ativos nessa ação. Temos estagiários que estão na rede e queremos que eles sejam orientados para estarem nas escolas que mais necessitam desse esforço. A primeira e última semana do bimestre será focada no reforço intensivo. Temos que ensinar com qualidade. Todo o estudante tem que ter o direito do ensino de excelência. Não pode ter essa desigualdade entre a rede pública e privada. Trabalhar a autoestima enquanto cidade e rede educacional. Não tem rede mais fantástica que a municipal do Rio de Janeiro no Brasil.

Valeu a pena deixar de ser deputado para virar secretário?

Estou licenciado na Alerj. Valeu muito a pena. É o maior desafio da minha vida. Em seis meses, nunca tive tanto estresse, tantas decisões estratégias ao mesmo tempo, mas também nunca me senti tão realizado. Nada se compara com você ver uma criança ser educada.

O que você pensa sobre a infraestrutura das escolas do Rio?

Temos 1543 unidades escolares. A maior rede municipal de ensino da América Latina. Herdamos uma rede com muitas fragilidades na infraestrutura. Já investimos mais de R$ 30 milhões na recuperação para elas estarem aptas para o retorno. Porém, muitas ainda sofrem com chuva e outros problemas. Não estamos em uma questão confortável. O prefeito me passou como missão deixar nossas escolas um brinco. É o processo de uma gestão de quatro anos, principalmente, depois de mais de um ano com muitas escolas fechadas e efetivo reduzido de profissionais.

Como aproximar o cidadão das escolas municipais?

Lançamos o programa "Abrace uma escola" para trazer a sociedade civil mais próxima das escolas. Nada impede que as pessoas ajudem e façam o bem, não como interesse, é fomentar a cultura de colaboração e filantropia. Se alguém estudou em alguma escola e quer ajudar é muito válido. É investimento para o projeto de cidade. Temos recebido doações de computadores e insumos para pandemia. Queremos aproximar e desmistificar a ideia de que a sociedade não pode ajudar o que é público. Todos nós podemos contribuir, não isentando a prefeitura das suas responsabilidades legais.

Qual decisão sobre o cartão alimentação?

Atingimos o ensino presencial com quase 98% e estamos ofertando alimentação nas escolas e mantendo o cartão. É uma discussão da prefeitura, através da Procuradoria, com a Defensoria. A gente acredita que a maneira que sabemos de garantir a alimentação é nas escolas. Isso tem que acontecer em acordo com os atores envolvidos. A nossa comida é de muita qualidade. Existe o balanço nutricional. O que está no nosso alcance fazemos o máximo.

Como está o diálogo com o Sepe?

A gente dialoga com o Sepe desde a transição do governo. É diariamente. Uma relação de respeito. Com muitas convergências e algumas divergências. Sempre digo que no que diz respeito ao trabalho e dignidade dos nossos profissionais é prioritário. Falo para todos que se existe algum problema, venha falar com a gente. Vamos saber e com mais rapidez responder o problema. Temos um canal direto com o cidadão que é o 1746.

O que pode ser feito para tecnologia estar mais presente para os alunos e professores?

A gente tem escolas que são parecidas com as escolas do século 19 e estamos atrasados. O Brasil paga uma dívida de décadas na conectividade de não ter investido de maneira adequada. Estamos desenvolvendo nossas ilhas de conexão e queremos esse ano ter 150 pontos em que os alunos poderão acessar os ambientes remotos da própria escola. É um laboratório de informática turbinado. É uma meta da nossa gestão. A escola estar mais aberta para transformação tecnológica. Defendo levar o digital para o presencial, como o aplicativo Rioeduca Em casa, o professor podendo usar como complementação das suas aulas. Para isso, precisa de infraestrutura. Muito da dificuldade com o ensino remoto é que as pessoas precisam acreditar que ele deve funcionar. A experiência de 2020 foi muito ruim. Muitas famílias desistiram. Temos que desmistificar isso. A gente quer que o aluno continue tendo acesso nessas ferramentas, fazer uma imersão na tecnologia. Tornar o Rio como referência na tecnologia e educação.

Como estão nossas creches?

O Rio de Janeiro tem 60 mil vagas e 23 mil em conveniadas. Temos a procura, a única etapa escolar que não conseguimos satisfazer com a oferta de vagas. Precisamos de expansão. As creches conveniadas são grandes parceiras. Elas não recebiam o pagamento desde setembro de 2020 e restabelecemos o pagamento desde nossa gestão em janeiro de 2021. É uma etapa que precisa de muita atenção e cuidado. Tenho uma linha de que o quanto antes uma criança for exposta à aprendizagem escolar melhor será o seu futuro.