Promotor de Justiça Marcos Kac Fabio Costa/Agencia O Dia

O promotor de Justiça Marcos Kac, conhecido por atuar em casos de grande repercussão na mídia, como o caso de Henry Borel, morto pelo ex-vereador Jairinho e pela mãe Monique Medeiros, em março deste ano, está concorrendo a uma vaga como desembargador no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). Em entrevista a O DIA, ele afirmou que o caso do pequeno Henry foi um dos que mais marcaram sua carreira e destacou a frieza de Monique como um dos fatores que mais lhe chamaram atenção. Com mais de 26 anos de carreira, Kac falou ainda sobre segurança nos estádios de futebol e violência no Rio de Janeiro.
Como foi o trabalho da promotoria no caso da morte de Henry Borel?
Esse caso chocou o Brasil. É sempre muito chocante ver até onde vai a maldade humana, principalmente no meu caso, que sou pais de três filhos. Começamos uma investigação com base nos laudos preliminares de necropsia e nos testemunhos de médicos e de pessoas que faziam parte do cotidiano da criança. Começamos a traçar um cenário e, descartado a hipótese de acidente só restava a hipótese de homicídio, montar o quebra-cabeça. Foi um trabalho árduo do Ministério Público e demandou uma intensidade muito grande. O Jairinho agiu ao agredir a criança, levando-a ao óbito, e a Monique, que já conhecia o histórico de violência de Jairinho, inclusive que ele agredia o filho dela, se omite quando deveria proteger o filho. Esse caso foi um desafio e o mais triste da minha carreira porque acompanhei desde o início, embora já atuado em muitos casos de violência. Para quem é pai de verdade isso machuca muito. Foi um desafio ter que ser profissional por um lado e me desligar da figura humana e paterna de também represento. Sou um promotor muito isento e equilibrado, trabalho com a razão. Se o Tribunal do Júri demorar a julgar o processo a prisão pode ser revogada. Então o pedido de prisão pelo crime de tortura a este menino era útil e necessária.
O senhor foi responsável pela investigação que levou ao desmantelamento da chamada máfia dos ingressos na Copa de 2014. Como se desenrolou esta investigação?
Como promotor sempre atuei no Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor e este contato com o futebol me proporcional observar que sempre eram levados ao juízado criminal o cara que estava no final da cadeia dos cambistas, o cara que estava vendendo poucos ingressos, não que esta figura que faz o crime girar seja inocente, mas ao puni-lo a cadeia criminal não para. Vi que era preciso chegar até a pessoa que tinha o maior peso nesta cadeia criminosa. Com o evento da Copa surge a ideia de fazer uma operação para pegar o 'tubarão' dos ingressos no Maracanã. Antes mesmo da Copa iniciamos a investigação e começamos a chegar a donos de agências de turismo e pessoas mais abastadas. Através de ligações interceptadas entre essas pessoas, chegamos ao Lamine Fofana (apontado como líder da quadrilha internacional que vendia no mercado negro os ingressos para a Copa).
Na época, o senhor criticou a Fifa e CBF e disse que ambas se achavam no direito de não prestar contas de nada e que as federações formavam castas. Isso mudou ou mesmo após seis anos a situação é a mesma?
Hoje vejo que alcançamos muitos avanços depois da operação que desmantelou a máfia dos ingressos. Mas, em termos gerais, as federações esportivas investem pouco e incentivam pouco.
Em 2017, a Operação Limpidus, que resultou na prisão do assessor de imprensa da presidência e diretor de arenas do Fluminense, do presidente da torcida organizada Raça Fla e funcionários da empresa que confeccionava os ingressos, ficou evidente a relação entre os clubes e torcidas organizadas. As investigações indicavam desvio de ingressos destinado a sócio-torcedores para cambistas. Essa prática é comum?
Sempre pedi e aconselhei aos clubes restringir a quantidade de ingressos para torcidas organizadas. Isso fomenta dentro dessa estrutura uma disputa por poder. Há brigas entre eles mesmos por ingresso. O cenário ideal é reduzir a quantidade de ingressos e controlar essa distribuição, responsabilizando individualmente quem detém o ingresso.
Além dessa questão de desvio de ingressos tem também episódios de violência. A solução seria acabar com as torcidas organizadas? 
Eu acredito que as torcidas organizadas são patrimônios e são parte fundamental do espetáculo. Não sou a favor de acabar com as torcidas organizadas, mas é preciso controlar e organizar. A biometria para entrar nos estádios é um importante aliado para acabar com a violência nos estádios, já que é possível obter as informações de quem frequenta o estádio. Outra medida necessária seria colocar um esquema de segurança ao redor dos estádios nos dias de jogos.