Rio - A mãe de Samuel Vicente, de 17 anos, e viúva de William Vasconcellos, de 38, fez um desabafo emocionado após a reunião com representantes das comissões de direitos humanos da Alerj e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), nesta quarta-feira (29). Sônia Bonfim, de 36 anos, falou sobre a ação da PM que matou o marido e o filho, no último sábado (25), em Anchieta. “Tiraram dois pedaços de mim, levaram meu coração e meu útero”, disse a dona de casa.
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Sônia esclareceu que o enterro de Samuel e William foi pago pela comunidade onde moravam e disse que o poder público não entrou em contato com a família para arcar com os custos do sepultamento. “Quem está nos ajudando é a comissão de direitos humanos [...] Agradeço à minha comunidade por ajudar a pagar o enterro do meu filho”, disse Sônia.
Dani Monteiro, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj disse que o caso não é mais uma situação isolada e que é necessária a presença do poder público nas regiões mais vulnerabilizadas. "Semana sim e na outra também somos acionados. O Chapadão é uma região que carece, urgentemente, de atenção de todas as instâncias do poder público, porque não conseguiremos dar um basta nem evitar mais mortes e tragédias familiares isoladamente", afirma a deputada Dani Monteiro (Psol).
Maria do Carmo da Silva Pacheco, de 52 anos, mãe de Camilly da Silva Polinário, de 18, também esteve no local e discordou novamente da versão da PM. A dona de casa destacou que Samuel e o padrasto do rapaz, foram mortos enquanto iam em direção a uma UPA da região, pois Camilly estava passando mal. Maria do Carmo comparou o caso com o dos jovens fuzilados com 101 tiros em Costa Barros e com a morte da menina Ághata, de oito anos.
"Disseram que acharam que o Samuel estava com um fuzil, pistola seja lá o que for, então eu queria saber o seguinte, cinco rapazes em Costa Barros fuzilados, eles também acharam que eram bandidos? E a Ághata, baleada dentro de uma kombi, no Complexo do Alemão, do lado do avô?", desabafou a mãe de Camilly.
Maria do Carmo disse que espera que o caso seja esclarecido na justiça e afirmou que a verdade sobre as mortes de Samuel e William irá aparecer. "Infelizmente, nenhum deles poderia adivinhar o que poderia acontecer no caminho, mas isso tudo vai ser esclarecido pela justiça que eu ainda acredito", disse a dona de casa.
Investigadores já tinham notado a semelhança entre os depoimentos de Leonardo Soares Carneiro e Edson de Almeida Santana. De acordo com informações da TV Globo, a versão de um militar foi repetida com o objetivo de “facilitar o trabalho”. Eles serão ouvidos novamente.
Samuel e William foram enterrados nesta terça-feira, no Cemitério de Olinda, por volta das 11h30. Após o sepultamento, cerca de 100 pessoas fizeram uma manifestação pacífica na porta do cemitério. Em uma faixa estendida, os manifestantes diziam que a polícia "primeiro atira e depois pergunta se a vítima é moradora ou não".
Investigações
Na segunda-feira, a Polícia Civil emitiu nota alegando que a falta de efetivo dificulta que a morte de enteado e padrasto seja investigada pela Delegacia de Homicídios da Capital. Segundo a Secretaria Estadual de Polícia Civil, as investigações estão a cargo da 31ª DP (Ricardo de Albuquerque).
A Polícia Civil está ouvindo testemunhas e deve convocar, nos próximos dias, a jovem Camily para entender o que houve no momento dos tiros. As armas dos policiais, dois fuzis calibres 762, foram apreendidas. Os dois PMs envolvidos na ocorrência estão afastados do serviço nas ruas. O porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz, disse que a corporação abriu procedimento interno para investigar o caso.
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