Escolas municipais retomaram aulas em definitivo e sem rodizio de turmas nesta semana para alguns segmentos da redeReginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - Especialistas em Educação concordam que o afastamento dos alunos das escolas por conta da pandemia provocou perdas pedagógicas e que o vínculo entre estudantes e unidades escolares precisará ser reforçado. Para isso, é necessário um diagnóstico da defasagem no aprendizado e investigação dos motivos de afastamento dos alunos das escolas. A rede municipal da capital retomou o ensino 100% presencial para estudantes da pré-escola (4 e 5 anos), do 1º, 2º, 5º e 9º ano na segunda-feira (18) e realiza uma busca ativa dos alunos que não retornaram.
Mais de 25 mil alunos não participaram de atividades remotas nem presenciais no último bimestre, informou a Secretaria Municipal de Educação. Para, professores de Educação da UFRJ e da Uerj serão necessários aumento do orçamento para Educação e políticas de assistência social para trazer os estudantes de volta à escola.
A professora especialista em Gestão de Educação da Uerj Inês Barbosa Oliveira, no entanto, avaliou como precipitada a retomada ao ensino 100% presencial na rede municipal do Rio. Para ela, é preciso apurar o motivo do não retorno dos alunos e planejar a volta à normalidade para o ano letivo de 2022.
"Já tem bastante gente vacinada, mas a pandemia infelizmente ainda não acabou. Há muitas crianças que voltarão, mas cujos pais, não achem que seja a hora de voltar ainda. Concretamente, acho que a gente precisa esperar para avaliar o que de fato haverá de evasão e o que há de preocupação com a pandemia", pondera. Inês acrescenta que há muitos responsáveis jovens, que ainda não completaram o esquema vacinal.
"As crianças precisam que a gente volte (com o ensino 100% presencial), os responsáveis e os professores também querem voltar. O ensino remoto é ruim para todo mundo. Mas, não adianta retornar precipitadamente. Poderia aguardar mais um mês, para que a vacinação avance, fazer um retorno de 15 dias em dezembro, para as crianças poderem se ver, fazer uma avaliação do período e planejar o retorno à normalidade para o ano que vem", reforça a especialista em Gestão da Educação da Uerj.
O professor da UFRJ Tiago Bartholo avalia que será necessário um plano de recuperação de Educação com extensão de 12, 24 e 36 meses. Bartholo entende que é necessário pensar planos de recuperação e monitorar os efeitos de médio prazo.
"A gente ainda não conseguiu fazer esse amplo diagnóstico (da perda pedagógica). Depois, a gente precisa ter um plano de recuperação de educação que passa por busca ativa e recuperação das crianças que ficaram mais para trás, que aprenderam menos. Não penso que esse programa dure meses. É improvável que programas com essa janela tenham sucesso pra recuperar a perda principalmente dos mais vulneráveis", afirma.  "Quando tivermos um diagnóstico, é necessário implementar políticas e acompanhar o que acontece em 12 meses. Ver se os efeitos foram mitigados para verificar se o caminho está correto", completa.
Crianças da pré-escola perderam equivalente a quatro meses de aprendizado
Um estudo coordenado pelos professores Tiago Bartholo e Mariane Koslinski, ambos da UFRJ, com apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, mensurou o impacto da pandemia no desenvolvimento das crianças na pré-escola. O estudo conseguiu apurar que os alunos do 2º ano da pré-escola, que têm entre 4 e 5 anos, tiveram uma defasagem no aprendizado equivalente a quatro meses, comparado ao aprendizado da mesma série escolar no período pré-pandemia. O impacto é ainda maior para as crianças de famílias em situação de vulnerabilidade social.
"As crianças aprenderam e se desenvolveram, mas em ritmo mais lento, durante a pandemia. Conseguimos mensurar quatro meses de perda para o aprendizado de linguagem e matemática. A gente também observou um aumento da desigualdade de aprendizagem ao longo de 2020. Mas, a gente não gosta da ideia de classificar essa geração como 'geração covid'. É possível recuperar o aprendizado. A gente precisa de políticas públicas neste sentido, principalmente, para os mais vulneráveis", conclui.
A professora da Uerj Inês Barbosa concorda. "As crianças mais velhas que deixaram a escola na pandemia, provavelmente, estão trabalhando diante da crise. Possivelmente, precisarão de uma política de incentivo, como Bolsa Família, que tem como requisito que as crianças estejam na escola. Serão necessárias políticas de apoio às famílias. Uma outra possibilidade é criar atrativos para que as famílias entendam a importância das crianças estarem juntas frequentando a escola", reforça a professora da Uerj.
A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Educação do Rio para esclarecimentos sobre a busca ativa de alunos e planejamento para o retorno total dos alunos, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Na segunda-feira, o secretário municipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha, defendeu o retorno urgente à normalidade na rede.
"Nesse momento todos podem ir à escola. Nós temos uma taxa de escolha de ir para a escola altíssima, mas também temos uma estatística que mostra a urgência do retorno: 25 mil alunos não foram presencialmente nas escolas e não entregaram as atividades de maneira remota. Aqui eu faço um apelo às famílias, aos pais. Obviamente, se a criança tiver comorbidade, não puder ir presencialmente, a opção remota continuará. Mas já passou da hora de retornar”, afirmou o secretário na segunda-feira.
Desde agosto, a Secretaria Municipal de Educação implementou um programa de reforço escolar permanente para os alunos da rede.