Ao chegar à Cidade da Polícia, parlamentar negou as acusaçõesfotos de Reginaldo Pimenta

Rio - O vereador de Duque de Caxias Carlos Augusto Pereira Sodré, o Carlinhos da Barreira (MDB), foi preso nesta sexta-feira (22) durante a operação 'Barreira Petrópolis', deflagrada pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) e pela Polícia Civil, através da 105ª DP (Petrópolis). Além dele, dois policiais militares, Ricardo Silva dos Santos e Carlos Alexandre da Silva Alves, também tiveram as prisões preventivas cumpridas. O trio é acusado de participar de um esquema de agiotagem e extorsão: o vereador comandava as negociações, e os PMs faziam o braço armado da organização criminosa.
Vereador há três mandatos consecutivos, Carlinhos foi o terceiro mais votado em Duque de Caxias nas últimas eleições, em 2020.
As investigações da 105ª DP (Petrópolis) e do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (GAECO/RJ), iniciadas há um ano, apontam que a quadrilha comandada por Carlinhos emprestava dinheiro e cobrava pagamentos de juros abusivos. Para uma das vítimas, um empresário do setor de compra e venda de automóveis, o vereador emprestou R$ 1 milhão em janeiro de 2019, através de negociação de veículos, mas exigiu pagamento de 3,5% mensais, ou R$ 35 mil por mês, a título de juros. Um ano depois, sem conseguir honrar os compromissos com o parlamentar, o empresário foi ameaçado de morte pelos policiais militares por meio de uso de arma de fogo. 
"O caso começou a partir de um empresário de Petrópolis, que recebeu R$ 1 milhão em empréstimo. Meses depois, o Carlinhos exigiu mais R$ 1 milhão a título de juros. Após negar-se a pagar esses juros, Carlinhos começou a ameaçar esse empresário petropolitano", afirmou o delegado titular da 105ª DP, João Valentim.
Para o MP, o policial Ricardo Santos também cometeu o crime de usura pecuniária, por receber juros ilegais do empréstimo em sua conta bancária. Acusados utilizavam uma empresa para lavar os capitais e movimentaram R$ 70 milhões em cinco anos.
Agentes cumprem 17 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Capital. Há equipes na Câmara Municipal de Duque de Caxias e mandados também sendo cumpridos em endereços na Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Guapimirim, na Baixada.
Em nota, a Câmara Municipal de Duque de Caxias afirmou que "o mandado é única e exclusivamente destinado ao gabinete do Vereador Carlinhos da Barreira, e se põe à disposição da justiça para qualquer esclarecimento que se fizer necessário".
Empresas firmavam contratos com a prefeitura e repassavam valores à Carlinhos, diz denúncia
Carlinhos da Barreira também é acusado de fraude à licitação através da empresa na qual é sócio, a Sodré Serviços de Transportes Locação de Máquinas e Equipamentos. Segundo as investigações, uma outra empresa de maquinário, a Madasa Comércio e Locações, manteve vínculo de contrato com a Prefeitura de Duque de Caxias entre 2013 e 2016, e repassou R$ 8,5 milhões à empresa de Carlinhos. O valor foi dividido em 109 operações bancárias. 
A prática aconteceu outras vezes. A TGM Locação de Máquinas, a V.F. da Rosa Refeições e a Hashimoto Manutenção firmaram contratos com a Prefeitura de Caxias, entre 2017 e 2018, e todas repassaram, juntas, um total de R$ 4.193.624 milhões às contas da Sodré Serviços. 
"Carlinhos era o real beneficiário do contrato. Só uma empresa repassou R$ 8,5 milhões, ou seja, todo o contrato. É um indício fortíssimo de que na verdade o real beneficiário dos acordos com a Prefeitura de Caxias era a empresa do vereador. Ele é impossibilitado de firmar contratos por ser vereador do município", explicou o promotor do GAECO na Baixada Fluminense, Promotor Rogério Sá Ferreira.
A estimativa é de que Carlinhos da Barreira tenha dissimulado, entre 2015 e 2020, um valor de R$ 62.360.738,52, fruto das negociações criminosas. A Justiça determinou o sequestro de bens imóveis e de recursos financeiros do parlamentar.
Em nota, a Prefeitura de Duque de Caxias afirmou que "não interfere nas atividades empresariais realizadas por suas contratadas, limitando-se a fiscalizar o fiel cumprimento do objeto do contrato firmado mediante licitação. A empresa de titularidade do vereador detido não era contratada pela Prefeitura, razão pela qual nenhuma fiscalização acerca da mesma foi realizada até o momento".