Seguidores de religiões de matriz africana tem tido dificuldade de conseguir utilizar aplicativos de transporte por aplicativoDivulgação

Rio - A CPI de Intolerância Religiosa da Alerj denunciou ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) motoristas de transportes por aplicativo que estariam praticando intolerância religiosa contra passageiros praticantes de religiões de matriz africana.
De acordo o relator da CPI, o deputado estadual Átila Nunes, são incontáveis os casos de passageiros que têm suas corridas canceladas quando alguns motoristas identificam que o endereço é de um centro espírita e, é comum ainda, casos de motoristas que se negam a transportar pessoas com vestimentas brancas, características dos seguidores dos cultos afro-brasileiros.
"Absolutamente nada é feito por parte dos dirigentes desses aplicativos, que só descadastram motoristas por outros tipos de delitos, mas jamais por preconceito religioso. Não basta monitorar os motoristas que cancelam as corridas. É fundamental que se saiba a razão dos cancelamentos, já que um grande número é decorrente de preconceito religioso", lamentou o deputado estadual.
No ofício, o relator aponta que os motoristas que praticam preconceito religioso não sofrem nenhum tipo correção por parte de suas respectivas empresas, e citou os aplicativos 'Uber' e '99 Táxi' como os principais envolvidos nos casos.
Enviado ao Ministério Público, o texto traz o caso de Manu de Oxum, mãe de santo do Templo de Umbanda Tsara Paixão Cigana localizado bairro de Guaratiba, que relata diversos caso onde seus filhos e frequentadores têm sofrido com cancelamentos e ataques de motoristas de aplicativo por frequentarem o terreiro e seguirem religião de matriz africana.
Ao DIA, a mãe de santo revelou que seus filhos e consulentes criaram grupos de caronas que levam até as estações de BRTs mais próximas para conseguir de lá chamar motoristas de aplicativo pois eles não aceitam corridas na porta do terreiro. "O dinheiro dos meus médiuns e o dinheiro dos meus consulentes é igual ao de todo mundo. E olha que não são corridas para perto. Algumas são para perto, mas a maior parte é para Campo Grande, Santa Cruz, Recreio, são para longe. Virou uma coisa desesperadora", explicou Manu de Oxum.
Em resposta ao envio do ofício, a Uber informou que tem uma política de tolerância zero a qualquer forma de discriminação em viagens pelo aplicativo e oferece opções de mobilidade eficientes e acessíveis para todos. A empresa garante que defende o respeito à diversidade e reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e inclusão para todas as pessoas que utilizam o nosso app. 
"Os motoristas parceiros da Uber são independentes, no entanto, negar-se a atender uma pessoa em razão de seu credo, raça, nacionalidade, religião, necessidade especial, orientação sexual, identidade de gênero, estado civil, idade ou inclinação política configura violação dos termos e condições da plataforma e conforme explicitado no código de conduta da comunidade Uber casos de conduta discriminatória podem levar à desativação do perfil", diz a nota enviada pela Uber.
Ainda de acordo com a plataforma, os usuários recebem um recibo com os detalhes da viagem assim que ela é encerrada. Caso seja necessário reportar algum incidente, a Uber afirma que conta com uma equipe de suporte disponível 24h, que analisa individualmente caso a caso. Denúncias pode ser feita pelo menu de ajuda do próprio app ou pelo site help.uber.com.
A '99' também se posicionou sobre o caso e afirmou que tem uma política de tolerância zero a qualquer tipo de discriminação e repudia veementemente qualquer ato discriminatório.
"Para nós, o respeito mútuo é a base de tudo e é obrigatório para a utilização do app, por isso, todos os usuários devem se tratar com educação e civilidade, independentemente de sua religião ou credo. Por isso, a plataforma orienta condutores parceiros a não recusarem uma viagem por conta de alguém estar vestido de forma a expressar sua crença, por exemplo. Comportamentos como esse vão contra os Termos de Uso e o Guia da Comunidade 99, e nesses casos todas as medidas cabíveis são adotadas, incluindo o bloqueio do perfil do agressor e apoio às investigações", disse o aplicativo em nota.
A empresa também ressaltou que oferece atendimento imediato e suporte humanizado a todos os seus usuários através da Central de Segurança, que funciona 24 horas por dia e 7 dias por semana.
 
 *Estagiária sob supervisão de Adriano Araújo