Trem do Samba - Marquinhos de Oswaldo Cruz e Selminha SorrisoGianne Carvalho

Rio - Esvaziados e interrompidos desde a última gestão municipal, os eventos Trem do Samba e Feira das Yabás, idealizados pelo cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz, vão voltar a alegrar os cariocas em dezembro deste ano. A 26ª edição do Trem do Samba, que tradicionalmente parte da Central do Brasil no primeiro sábado depois do Dia Nacional do Samba, 2 de dezembro, rumo a Oswaldo Cruz, receberá os cariocas de diversos pontos da cidade com três palcos espalhados pelo bairro. A realização do evento dependerá do cenário epidemiológico e ainda aguarda um aval da Supervia, que administra os trens do Rio.
Por conta da pandemia, este ano o Trem do Samba parte com 40% de lotação e será exclusivamente para as velhas-guardas e convidados. Em Oswaldo Cruz, serão montados três palcos, caso o cenário epidemiológico otimista se concretize.
O produtor conta que o evento receberá patrocínio da Prefeitura do Rio e será realizado de acordo com a avaliação do comitê científico de enfrentamento à Covid-19. "A possibilidade de voltar é total, mas a gente acredita na ciência e vamos respeitar as autoridades municipais", diz. Marquinhos adianta que haverá uma premiação para as máscaras mais interessantes utilizadas pelo público. O evento gera mais de mil empregos diretos e indiretos, segundo o organizador.
"É como se alguém da família tivesse voltando. O trem do samba foi responsável para que a cidade olhasse de volta para o subúrbio. É uma espécie de restaurador de obras de arte. Essa região é um 'Museu do Louvre' em termos de patrimônio cultural para a cidade. Só a viagem já é uma recreação. Remonta o trajeto que o lendário Paulo da Portela fazia. É restauração de memória em função da riqueza desses lugares", destaca Marquinhos.
Tia Surica, baluarte da Portela, dá o conselho para os cariocas ansiosos para cair no samba. "Até lá, se Deus quiser vai melhorar (a pandemia). Vamos nos resguardar, não ficar no tumulto, para depois poder cair na guacha", diz a portelense ilustre. Para quem não conhece a expressão, tia Surica explica: "Cair na guacha é curtir, tomar uma cervejinha. Aproveitar enquanto se está com vida".
A Feira das Yabás vai acontecer no segundo domingo de dezembro na Praça Paulo da Portela, em Madureira. A ideia é que ela retorne mensalmente ao calendário cultural da cidade. Após ter sido espaçada em 2019, quando teve uma única e última edição em dezembro daquele ano. A feira engaja 350 trabalhadores atrai 8 mil pessoas em média por edição. Marquinhos conta que espera conseguir captar patrocínio privado para manter a feira em 2021.
"Não que a prefeitura não tenha que fazer esse papel. Desde o tempo de Shakespeare o estado que banca a arte. Mas, temos que descobrir como a gente consegue descobrir novos mercados. "Estamos muito felizes em voltar. Tô igual pinto de lixo. O samba é uma resistência não violenta, uma resistência poética", comemora Marquinhos. O organizador, que também foi o responsável pela recriação da tradicional feijoada da Portela, será homenageado pelo Salgueiro no Carnaval de 2022, com o enredo "Resistência". A Feira das Yabás será representada em uma ala da escola.
A matriarca Tia Surica promete participar da próxima feira, mas desta vez vai passar a responsabilidade gastronômica de sua barraca para familiares. "Para mim, a Feira das Yabás é um evento que favorece a todo mundo. É uma festa animada. As pessoas ganham o seu dinheirinho. É um gigante adormecido que veio pra levantar o astral das pessoas", resume a baluarte.