Glaidson Acácio dos Santos está preso desde o dia 25 de agosto Internet

Rio - Há pouco mais de cem dias preso, Glaidson Acácio dos Santos, o 'Faraó dos Bitcoins', publicou uma carta aberta aos clientes, na última quarta-feira (8), relatando estar vivendo o seu "pior pesadelo" dentro da prisão. Na carta, o ex-garçom também se diz com o "coração quebrado" por estar sendo proibido de fazer pagamentos para os investidores. A juíza Maria Cristina Slaibi, da 3ª Vara Cível da Capital, determinou no início de novembro o bloqueio de R$ 244 mil da empresa GAS Consultoria Bitcoins, comandada pelo 'Faraó dos Bitcoins'. Ele e outras 16 pessoas são investigadas por fraude e acusados de comandar um esquema de pirâmide com criptomoedas.
"Escrevo esta carta de coração quebrado por saber que há três meses vocês estão sem receber seus rendimentos. Nunca, nem nos meus piores pesadelos, poderia imaginar que isso poderia acontecer. Que estaria preso injustamente, que seríamos proibidos de pagar um dinheiro que contratualmente pertence a vocês, que veríamos uma história de quase uma década de muito trabalho ser jogada na lama, sem jamais termos causado dano algum a alguém", escreveu.
Glaidson também cita na carta aberta sobre visitas suspeitas que recebeu ao longo desses dias recluso. "Já contamos com mais de cem dias de privação de liberdade, recebendo diariamente visitação de dezenas de pessoas. Algumas bem-intencionadas, as quais agradeço imensamente pelo apoio e carinho, mas também outras tantas mal-intencionadas tentando me extorquir e vendendo ilusões em troca de minha soltura".
Ele voltou a se defender das acusações, dizendo ser uma "tortura psicológica" passar por uma prisão "sem ter cometido crime algum". Glaidson se defendeu também de uma suposta tentativa de fuga ao dizer que nunca teve a intenção de fugir e nem de deixar de pagar nenhum de seus investidores. No entanto, uma investigação do Ministério Público Federal (MPF) afirmou que havia um plano de fuga e que a mulher do ex-garçom conseguiu sacar uma quantia equivalente a um bilhão, 63 milhões, 70 mil, 463 reais e 56 centavos, na cotação do dia. Ela é considerada foragida e está na lista da Interpol para a extradição. A esposa entrou no circuito junto à corretora para emitir ordens de compra e venda , "o que comprova que não só estava ciente do esquema, como atuava de maneira ativa", afirmou a Polícia Federal.
A carta aberta, publicada no canal da empresa G.A.S, no Youtube, recebeu mais de 300 comentários até o momento. Entre eles, clientes de Glaidson demonstraram apoio ao preso, já outros pediram um posicionamento sobre processos que estão em andamento contra a empresa de bitcoin.
Leia a carta na íntegra:
Pedido de habeas corpus negado
O Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) negou, no fim de novembro, mais um habeas corpus do dono da GAS Consultoria Bitcoin. Essa não foi a primeira vez que Glaidson sofreu uma derrota na Justiça. Antes, ele já teve os pedidos de liberade negados no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Na decisão, o ministro ressalta que Glaidson "foi preso preventivamente e denunciado pela prática do crime de integrar organização criminosa" e "de delitos contra o sistema financeiro nacional". Sem alterar a decisão do STJ, proferida em 14 de setembro, também apontou que o pedido da defesa do acusado ao STF não era admissível, enquanto a análise do caso continua transcorrendo na instância competente.
Defesa pede desbloqueio de R$ 38 milhões
Um escritório de advocacia de Cabo Frio, na Região dos Lagos, contratado pela GAS Consultoria tentou fechar um acordo com o Ministério Público Federal (MPF), por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), para devolver os aportes de investidores da empresa. Na proposta, os advogados alegam que a interrupção dos pagamentos e atividades da GAS está "acarretando verdadeiro estado de calamidade em todo o território brasileiro, principalmente no estado do Rio", já que a prisão de Glaidson e o bloqueio de cerca de R$ 38 bilhões na Justiça teria exposto "aproximadamente 300 mil famílias à insegurança econômica"
A defesa pede que sejam liberados todos os valores apreendidos após a Operação Kryptos, da Polícia Federal, que colocou Glaidson atrás das grades. A empresa se compromete a "realizar a devolução integral dos valores confiados pelos clientes" em 12 parcelas, para "não sobrecarregar o sistema financeiro".
Quem é o Faraó dos Bitcoins
Em 2014, Glaidson Acácio dos Santos era conhecido por trabalhar como garçom em um restaurante de classe média na Orla Bardot, em Búzios, Região dos Lagos, recebendo pouco mais de R$ 800 de salário. De lá pra cá, em pouco mais de 7 anos, passou a ser conhecido como um dos homens mais ricos da Região dos Lagos ao movimentar, em contas de sua empresa, cerca de R$ 2 bilhões.
Para a polícia, o ex-garçom é responsável por um sistema de pirâmide financeira no mercado de criptomoeadas. Gladison prometia 10% de lucro em investimentos para seus clientes.