Prefeitura do Rio inaugurou polo de atendimento para casos de gripe na Vila Olímpica do Complexo do AlemãoMARCOS PORTO/AGÊNCIA O DIA

Rio - A vacinação contra a gripe volta nesta sexta-feira (10) aos postos de saúde da cidade do Rio, e a campanha se torna fundamental para conter o que alguns especialistas já avaliam como comportamento epidêmico. Dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) reforçam que o aumento exponencial dos casos de Influenza estão fora da ordem natural - inclusive do clima.
Somando os dois últimos invernos, estação do ano em que casos de gripe costumam aumentar, a cidade do Rio registrou 19 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Influenza, a forma grave da doença. Mas somente em novembro desde ano, metade final da primavera, o município registrou 57 casos de SRAG por Influenza.
Comportamento atípico
Para Diego Xavier, pesquisador da Fiocruz, a Influenza apresenta um comportamento de epidemia no Rio: o vírus se espalhou para outras cidades, com uma duração maior do que o habitual. "O surto está diretamente ligado a um local, um foco. Quando temos espalhado no espaço, e muito além do esperado para a época do ano, a gente começa a ver um comportamento epidêmico", explica o especialista.
Xavier também reforça que o surto, classificado como fora da curva, está relacionado à volta simultânea da população ao convívio social após um longo período de isolamento. "Esse aumento tem muita relação de que a gente não teve a circulação de alguns vírus de influenza por conta das restrições que a gente tava mantendo. Quando a gente começa a ter eventos com aglomeração em local fechado, como um jogo de futebol, você facilita a circulação desses vírus que estavam represados em algumas pessoas que não estavam circulando. Isso é feito de maneira rápida. No cotidiano, a gente teria esses aumentos sazonais, que é o esperado. Mas agora temos muita gente suscetível aos vírus respiratórios, e está todo mundo entrando em contato ao mesmo tempo", explica o pesquisador, que reforça a importância da vacinação para que a epidemia seja controlada.
"A tendência é que se estabilize. A maior parte das pessoas vão adquirir resistência e não vão ter casos graves. Mas o problema é que nesse período de relaxamento, não intensificamos a vacinação. O que acontece no Rio pode se repetir em outros locais. A gente precisa aumentar a vacina para evitar esses surtos. O grande problema é as pessoas terem esses casos e lotarem as unidades que já estão atendendo outros problemas", reforça o especialista.
Estado do Rio tem aumento de influenza A em crianças e população adulta
O boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado nesta quinta (9), destacou que houve crescimento nos casos de SRAG em todas as faixas etárias abaixo dos 60 anos. "Nas faixas etárias entre 30 e 59 anos o crescimento é relativamente leve, porém consistente, reforçando a necessidade de cuidados", pontuou o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe. Os dados foram coletados nas semanas entre o fim de novembro e o início de dezembro.
Entre as crianças de 0 a 9 anos, faixa em que há menor positividade, de testes, também houve aumento de SRAG em 2021. O boletim também aponta que 12 das 27 unidades federativas do Brasil apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo.
"Diferentemente do apontado em atualizações anteriores, embora em muitos estados ainda seja um crescimento lento, os dados por faixa etária sugerem se tratar de um crescimento sustentado e recomenda-se reavaliação das medidas de prevenção da transmissão de vírus respiratórios, especialmente em relação aos eventos de final de ano para evitar agravamento do cenário epidemiológico", afirma Marcelo Gomes.
Força-tarefa para os atendimentos e cobranças ao governo federal por reabertura de emergência
Desde a semana passada, as secretarias municipal e estadual de Saúde passaram a montar estruturas para evitar a superlotação dos postos de saúde, UPAs e clínicas da família - o número de atendimentos chegou a dar confusão no início da semana. No estado, três tendas foram montadas exclusivamente para atender casos leves de gripe, nas UPAs de Botafogo, Tijuca e Marechal Hermes. Ainda devem ser inauguradas estruturas do tipo em Jacarepaguá e na Penha.
O município criou polos exclusivos para atendimento de casos de gripe. Na quarta-feira, o primeiro foi inaugurado na Vila Olímpica do Alemão; nesta quinta (9) foi a vez do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca. Outros quatro polos devem ser montados até a semana que vem.
O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, disse que pediu ao Ministério da Saúde a reabertura de emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, atingido por um incêndio no ano passado, para ajudar a conter o número de atendimento nas unidades. Sobre a reabertura da emergência e dos demais leitos na rede federal, Superintendência Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro (SEMS/RJ) afirmou que "os hospitais federais realizam atendimentos e procedimentos de alta complexidade. As unidades federais são envolvidas para o atendimento de casos que evoluem para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)".