Bola Preta está otimista com a realização do Carnaval em 2022Gilvan de Souza

Rio - Há 71 dias do Carnaval, blocos tradicionais do Rio de Janeiro aguardam com cautela uma definição sobre a autorização para o Carnaval de Rua no Rio de Janeiro. Uns mais, outros menos otimistas, blocos tradicionais ouvidos pela reportagem priorizam o respeito à Ciência e à Saúde da população carioca e entendem que o Carnaval da Sapucaí, que está garantido se não houver uma piora na pandemia, tem características que permitem protocolos de prevenção ao contágio de covid-19.
O prefeito Eduardo Paes garantiu, na manhã desta quarta-feira (15), a realização dos desfiles das Escolas de Samba em 2022. "Havendo a possibilidade, como há nesse momento e acontece semanalmente, de realização de jogos de futebol com os controles já previstos nas normas estabelecidas pela prefeitura, não há qualquer motivo para não garantimos que o Carnaval da Marquês de Sapucaí será realizado", garantiu em publicação no Twitter. 
A respeito do Carnaval de Rua, no entanto, o prefeito afirmou que sua realização requer "uma análise ainda mais detalhada uma vez que não há qualquer possibilidade de controle daqueles que estarão participando das celebrações".
O governador Cláudio Castro prevê o anúncio de uma decisão sobre a viabilidade da folia nas ruas até 15 de janeiro. Para Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, liga que representa blocos do Centro e de Santa Teresa, a data fica no limite para que os organizadores ponham o Carnaval na rua. Rita entende que até o dia 10 de janeiro será possível entender se há condições de realizar a festa em 2022. Até lá, o jeito é preparar a festa deixando claro com fornecedores que a execução dos serviços pode ser suspensa por conta da pandemia de covid-19.
"A gente segue preparando os blocos como se fosse possível o Carnaval. É mais simples, ainda que não seja fácil, cancelar o Carnaval do que montar tudo de uma hora pra outra. Estamos estabelecendo reservas prévias com nossos fornecedores, condicionando ao anúncio oficial", afirma Rita. São serviços como carro de som, confecção de camiseta, reserva de ritmistas de baterias, profissionais de sonorização, produção, equipe de segurança (apoiadores), controladores de custos, para ficar em alguns exemplos da cadeia produtiva do Carnaval de rua.
Além deles, os blocos também entendem que precisam informar o público se vai ou não haver a festa. "O prazo não pode se estender além de 15 de janeiro, senão fica inexequível (o Carnaval). Aí, começamos a ficar com uma instabilidade muito grande. Precisamos tomar a decisão para comunicar o público. A cidade também precisa se preparar para o turismo. O primeiro Carnaval depois do início da pandemia deve atrair muita gente", pondera Rita.
Mas, os blocos da Sebastiana estão otimistas. Rita Fernandes considera o aval para a realização dos desfiles da Sapucaí, um indicativo de que o Carnaval de Rua também deve ser liberado, se não houver uma reviravolta no quadro pandêmico.
O fundador da Banda de Ipanema, Claudio Pinheiro, está menos otimista. Ele diz que vai aguardar os próximos dias para ver se "algum milagre" acontece, mas a perspectiva do fundador é de que o bloco não saia no próximo ano. 
"É bastante possível que a gente não desfile no ano que vem. Vamos aguardar alguns dias para decidir. Não vamos arriscar de forma nenhuma a saúde da população. A banda, assim como outros blocos maiores, favorece uma aglomeração muito exagerada. É da natureza da festa as pessoas ficarem muito próximas. Ano passado fomos os primeiros a declarar que não tínhamos condições de desfilar", afirmou. Cláudio acrescenta que o fato do bloco ter instrumentos de sopro é um fator a mais para ponderar a viabilidade do desfile. 
"Como a gente trabalha com sopro, tem que ter muito cuidado. Há uma tendência de examinar esse assunto com muita restrição. A situação é muito séria. Cautela, eu recomendaria para todo mundo. As escolas de samba têm válvula de escape, são desfiles programados, organizados em alas, em que é possível garantir distanciamento. Você não consegue fazer isso em bloco ou banda. O momento é de muita expectativa negativa de desfile", lamenta um dos fundadores da Banda de Ipanema que caminha para seu 57º Carnaval.
O presidente do Bola Preta, Pedro Ernesto, diz que o compromisso maior é com a Ciência e com a Saúde. No entanto, Ernesto se preocupa que o Carnaval possa ser prejudicado por campanhas políticas contra a festa. Pedro Ernesto ressalta que o Carnaval de Rua faz parte da indústria criativa e que gera renda para toda uma cadeia produtiva, inclusive para vendedores ambulantes.
"Nossa expectativa é que tenha sim o Carnaval de Rua. Mas, por mais otimista que estejamos, também estamos com o pé no chão, preocupados e aguardando o que vai acontecer. Tomara que tenha o Carnaval. Que lamentavelmente, tem sido muito atacado e agredido. Ainda faltam dois meses, quem sabe até lá a página não vira", afirma Pedro Ernesto.
O presidente do Bola Preta exemplifica que o desfile recebe entre 800 mil e 1 milhão de foliões que se revertem em consumo. "Sempre houve os que gostam e os que não gostam da festa. Mas, agora, a coisa tomou um pé muito ruim. As pessoas que estão agredindo, não sabem que Carnaval não é só espontaneidade e alegria. É muito mais que isso, gera uma economia criativa muito grande. Se não tiver o Carnaval de Rua, muita gente, principalmente, ambulantes vão deixar de levar o sustento para suas famílias", ressalta o presidente do bloco que arrasta multidões no Centro do Rio todos os anos.