Andreza auxilia alunos na sala de informática da escola, em Costa BarrosARQUIVO PESSOAL
Atrás do prejuízo: alunos e educadores se esforçam para recuperar os conteúdos perdidos em 2022
Secretaria Municipal de Educação anunciou esta semana a aprovação para todos os estudantes que frequentaram as aulas, e tem projetos de reforço escolar para o próximo ano letivo
Rio - Sem internet em casa, foi a avó de Andreza Ferreira, dona Teresa, quem se apertou e contratou um plano de dados para que a neta pudesse acompanhar as aulas online durante a pandemia. Nem assim funcionou bem. Do tipo esforçada, a adolescente de 14 anos, foi por conta própria ao Ciep Anton Makarenko, sua antiga escola, para pedir acesso à sala de computadores e estudar dali. Ela virou voluntária, e ajudou outros alunos na luta para manter os estudos. Um esforço compartilhado também pela Secretaria Municipal de Educação, que se cercou de estratégias para que os 644 mil estudantes da rede municipal não saiam do convívio escolar em 2022.
Um dos planos anunciados na última semana foi que todos os que frequentaram as aulas serão aprovados, mesmo se tiverem notas baixas. A reprovação só acontecerá para os ausentes. A ideia, chancelada pelo conselho de educadores da prefeitura, faz parte do que a secretaria chama de 'continuum curricular'. O ano letivo de 2022 será utilizado para reforçar também o conteúdo que foi perdido em 2021. Na prática, funciona no estilo 'dois anos em um': o primeiro semestre de 2022 será usado para repassar conteúdos do ano de 2021. No segundo semestre, conteúdos do próprio ano.
"Não podemos dar bomba nos alunos, temos que acolhê-los", afirma o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha. "O aluno que não interagiu de forma remota, nem presencial, vai repetir. Mas o que batalhou, correu atrás, trabalharemos no reforço. Não é uma aprovação automática", ressalva.
Aluna do 9º ano da da Escola Municipal Telêmaco Gonçalves, na Pavuna, Andreza sofreu para acompanhar as aulas remotas em 2021, "principalmente Matemática", brinca. "Voltar ao presencial foi melhor porque, de certa forma, a gente consegue tirar mais dúvidas do que no remoto", diz. Depois de ser ajudada pela escola, que abriu as portas de um espacço equipado com computadores, ela se voluntariou para auxiliar outros alunos nas aulas. Acabou por tomar gosto.
"Eu havia falado que queria ajudar na escola e tal, e a coordenadora sugeriu que eu ajudasse. Pensei que seria uma boa ideia. Foi bem legal e deu até uma vontade de fazer um curso técnico de Informática. Mas estou em dúvida. Talvez eu siga também a carreira de professora, ou algo envolvido ao teatro - sempre quis ser atriz. Ou ainda ser pediatra", enumera Andreza, com tantos sonhos quantos podem ter um adolescente.
Roberta Vasconcellos, coordenadora adjunta do Ciep Anton Makarenko, avalia ter sido comum casos de alunos com 'autonomia escolar'. "Tivemos vários casos de sucesso em relação a alunos que conseguiram passar por esse período se reinventado. Até hoje temos alunos que conseguiram manter esse costume do estudo em casa", diz.
Projetos de reforço escolar para equilibrar o aprendizado
Mas nem todos os estudantes se deram bem, e agora a Prefeitura trabalha em três frentes para recuperar o ano perdido. O projeto principal é o de reforço escolar, no qual cerca de 75 mil alunos, avaliados com alguma defasagem no aprendizado, terão aulas ao longo da semana depois do horário da escola. Será uma hora a mais de conteúdo por dia, com ajuda de professores e estagiários.
Há casos mais graves, como aqueles em que o aluno repetiu muitas vezes e acabou numa distorção de idade. Para esses casos, há os projetos Carioca I, para jovens entre 13 e 15 anos, e Carioca II, para jovens entre 14 e 16 anos. A prefeitura estima que um em cada cinco (20%) estudantes do segundo segmento do Ensino Fundamental estão com pelo menos dois anos de atraso.
"Basicamente, o aluno que está com 16 anos e está no 6º ano - normalmente para alunos de 12 anos -, em vez de studar com os mais novos, vai para uma turma de pessoas com condições similares às deles. Terão professores com uma pegada diferenciada", explica Ferreirinha.
Na pandemia, a principal dificuldade dos educadores foi nas séries de transição, como o ano de alfabetização e o 6º ano (antiga 5ª série), quando há uma importante mudança curricular. Muitos estudantes chegam à segunda fase do Ensino Fundamental sem dominar conteúdos básicos, como interpretação de texto, leitura e escrita. Um plano da prefeitura é difundir o Travessia, conjunto de materiais elaborado especificamente para essa categoria de jovens.
O outro é melhorar a ainda atrasada estrutura tecnológica da educação do Rio. O aplicativo Rio Educa, usado na pandemia para aulas remotas, continuará ativo, e a prefeitura promete seguir ofertando acesso aos dados de internet. Uma mentoria de universitários aos estudantes básicos também deve ser expandida.
"A tecnologia não substitui o professor. Ela complementa o trabalho. O presencial é insubstituível. Por outro lado, o ensino remoto veio para ficar. Temos preparado para 2022 uma grande atuação do parque tecnológico. Não dá para termos um laboratório de informatica da década de 1990, onde o computador demora 20 minutos para ligar, sem internet. Essa experiência não pode ser frustrante. Tem que ser prática, moderna", diz Ferreirinha.
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