Mais violenta: Baixada Fluminense concentra 34% dos tiroteios registrados em janeiro na Região Metropolitana
Grande Rio teve 227 disparos de arma de fogo e 121 pessoas baleadas, sendo 44 somente na Baixada. Dados são do Instituto Fogo Cruzado
Ana Claudia teve o filho assassinado com um tiro no peito. Kevin Lucas, de 6 anos, brincava quando foi morto, em Queimados - Marcos Porto/Agencia O Dia
Ana Claudia teve o filho assassinado com um tiro no peito. Kevin Lucas, de 6 anos, brincava quando foi morto, em QueimadosMarcos Porto/Agencia O Dia
Rio- Logo nos primeiros dias de 2022 a violência fez mais uma vítima. Era por volta de 15h, quando o menino Kevin Lucas dos Santos Silva, de 6 anos, levou um tiro no peito, em Queimados, na Baixada Fluminense. O garoto brincava na casa de uma vizinha quando foi atingido, em um tiroteio que baleou também outras duas meninas - Gabriela, de 13 anos, e Ludmila, de nove. Cenas como estas, são a realidade triste de quem vive na região. Segundo o Relatório Mensal do Instituto Fogo Cruzado, ao qual O DIA teve acesso, a Baixada concentrou o número mais alto de baleados, com 36% do total. E também sai na frente, com 34%, dos tiroteios ocorridos na Região Metropolitana do Rio. Já nos registros gerais no Grande Rio, o número de tiroteios registrou queda de 46% em janeiro de 2022, em relação ao mesmo período de 2021.
De acordo os dados do relatório, durante todo o mês de janeiro, a Baixada Fluminense registrou 78 tiroteios, com 44 pessoas baleadas, sendo 26 mortos e 18 feridos. Os números preocupam. Maria Isabel Couto, diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado, relata que neste ano, os números mostram uma nova distribuição da violência.
"Se em 2021, o Leste Metropolitana concentrava o maior número de mortos e feridos por arma de fogo, 2022 começou com uma alteração nessa distribuição na violência armada em direção à Baixada".
Para o Cientista Social e coordenador do Fórum Grita Baixada Adriano de Araujo, a Baixada Fluminense lidera os números da violência porque alimenta uma rotina de violência.
"Em primeiro lugar não podemos esquecer que a Baixada, há tempos, é uma região historicamente marcada pelos piores indicadores sociais de desenvolvimento. A ação letal de grupos armados criminosos que oprimem os mais pobres é uma das formas mais cruéis que se manifestam na Baixada Fluminense. O crescimento, diversificação e disputas entre grupos milicianos (associados ou não a outros grupos criminosos) piora a situação. É preciso uma convergência de áreas de atuação e de poderes para em médio e longo prazo enfrentar essa chaga social que é a violência letal".
Avaliados por região, seguido da Baixada Fluminense, o relatório mensal do Fogo Cruzado traz a zona Norte do Rio como a segunda região mais violenta. Somente em janeiro, foram 75 tiroteios, 11 mortos e 16 feridos. O Leste Metropolitano aparece em terceiro, com 39 tiroteios, 18 mortos e 11 feridos. Em seguida, a zona Oeste apresentou 23 tiroteios, oito mortos e 11 feridos. No Centro da capital foram registrados oito tiroteios. Já na Zona Sul do Rio o saldo do mês de janeiro foi de quatro tiroteios e dois feridos.
"Enquanto não houver políticas de prevenção da violência e de inclusão social, sobrará para a Baixada Fluminense um saldo de mortes e de tiroteios, sem preocupação nenhuma com os impactos na vida da população. É urgente que os governantes atendam às necessidades de segurança, infra-estrutura e políticas sociais desses municípios", afirma Maria Isabel.
Queda da violência na região Metropolitana
Segundo o Instituto Fogo Cruzado, foram registrados 227 tiroteios no mês de janeiro de 2022, quase metade a menos do número registrado em janeiro de 2021, quando foram contabilizados 424disparos de armas de fogo.
O levantamento mostra ainda que, do total de 121 pessoas baleadas no Grande Rio, 63 morreram e 58 ficaram feridas. O número de mortos caiu 46% e o de feridos, 44% em comparação com janeiro de 2021, que concentrou 220 baleados - 116 mortos e 104 feridos.
Comparado a dezembro, que concentrou 267 tiroteios, janeiro apresentou queda de 15% nos tiroteios, de 18% nos mortos e de 25% nos feridos.
Segundo a diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado este foi o janeiro com o menor número de tiroteios desde 2016. Ela explica ainda que o aumento dos principais indicadores de violência armada de 2021 esteve associado principalmente aos primeiros meses de ano, já que no final do ano os indicadores apresentavam uma queda.
"Sobretudo os últimos dois meses de 2021, tiveram níveis de registros de tiros bastante abaixo do restante do ano. O ano de 2022 parece ter se iniciado seguindo essa tendência. Por enquanto, foi o janeiro com menos registros de tiroteios desde que o Fogo Cruzado começou a operar (julho de 2016). Foi também o janeiro com menos tiroteios decorrentes de ações e operações policiais e o janeiro com menos mortos e menos feridos", ressalta Maria Isabel.
Sobre as razões para a diminuição de registros de disparos de armas de fogo, ela diz que ainda não possível apontar uma causa. "É cedo para atribuir razões a essa queda. Ela pode estar relacionada ainda a efeitos da pandemia e da ADPF 635. E também pode estar relacionada à efeitos de sazonalidade criminal ou mesmo à resultados conquistados por planejamento das polícias".
Maria Isabel completa afirmando que os índices devem ser comemorados, mas que precisa ser mantido. "O que é certo é que essa queda é razão para ser comemorada, mas para que possa ser sustentada no tempo, o governo precisa da ajuda da sociedade e para tanto, precisa tornar público seus planos e planejamentos".
O levantamento diz ainda que, em janeiro, um em cada três tiroteios na região Metropolitana ocorreu em ações e operações policiais. Ao todo, foram 72 registros. Em comparação com janeiro de 2021, o número de tiroteios nessas ocorrências caiu quase pela metade: nesse período do ano passado foram 128 registros.
Comparativos nos perfis da violência
Dentre os tiroteios registrados em diferentes circunstâncias em janeiro de 2022 houve queda nos números, se comparados ao mesmo período de 2021. É o que mostra o Relatório Mensal do Instituto Fogo Cruzado.
Houve cinco chacinas no Grande Rio, deixando 16 mortos no total. Quatro destes casos foram em ações/operações policiais. Em janeiro de 2021, foram sete chacinas que deixaram 27 mortos. Cinco delas foram em ações policiais.
Dos 18 casos de roubos ou tentativas de roubo que terminaram em tiros no Grande Rio, 20 pessoas foram baleadas, sendo sete mortas e 13 feridas. Em janeiro de 2021 foram 20 casos de roubos e tentativas que deixaram 22 baleados no total (15 mortos e sete feridos).
Sete agentes de segurança foram baleados em janeiro de 2021: cinco morreram (dois em serviço, dois fora de serviço e um era aposentado/exonerado) e dois ficaram feridos (um em serviço e um fora de serviço). Em janeiro de 2021, foram 15 agentes de segurança baleados, sendo cinco mortos (quatro fora de serviço e um era aposentado/exonerado) e 10 feridos (seis em serviço, três fora de serviço e um era aposentado/exonerado).
Nove pessoas foram vítimas de bala perdida no Grande Rio: destas, duas morreram e sete ficaram feridas. Entre essas nove vítimas, oito foram atingidas durante ações/operações policiais. Em janeiro de 2021, houve 13 vítimas de balas perdidas: destas, seis morreram e sete ficaram feridas. Entre as 13 vítimas, três foram atingidas em ações ou operações policiais.
Cidades e bairros mais afetados
Dos municípios que compõem a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, dos cinco mais afetados dois são da Baixada, dois do Leste Metropolitano, além da capital.
No ranking, o Rio de Janeiro ocupa a primeira posição com 110 tiroteios, 19 mortos e 29 feridos. Em seguida, está Duque de Caxias, com 31 tiroteios, nove mortos e quatro feridos. São Gonçalo aparece em terceiro com 18 tiroteios, nove mortos e quatro feridos. Belford Roxo ocupa a quarta posição, registrando 18 tiroteios, dois mortos e dois feridos. Já Niterói apareceu em quinto lugar, com 14 tiroteios, 7 mortos e 4 feridos.
Entre os bairros da Região Metropolitana do Rio, os cinco mais afetados foram: Olavo Bilac e Vila Centenário, em Duque de Caxias, Brás de Pina e Cascadura, na capital, e Gláucia, em Belford Roxo.
Em áreas de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foram registrados no mês de janeiro 17 disparos de arma de fogo. Ao todo, duas pessoas foram baleadas e sobreviveram. Entre as UPPs afetadas pela violência Prazeres teve 3 tiroteios, Complexo de Manguinhos registrou dois tiroteios e um ferido e na Formiga, Turano e Jacarezinho foram dois tiroteios. Já nas UPPs Macacos, Rocinha, Providência, São João, Tabajaras e Borel, foram contabilizados um tiroteio cada, mas sem vítimas.
Em janeiro, segundo o Fogo Cruzado, as datas mais afetadas pela violência armada foram os dias 22 e 24, com 13 tiroteios cada. Dia 13 com 10 mortos; dias 26 e 31 com oito feridos.
Os cinco bairros mais afetados bairros da Região Metropolitana do Rio:
Olavo Bilac - Duque de Caxias: 12 tiroteios e 1 morto
Brás de Pina - Rio de Janeiro: 12 tiroteios e 2 feridos
Vila Centenário - Duque de Caxias: 6 tiroteios e 3 mortos
Cascadura - Rio de Janeiro: 6 tiroteios, 2 mortos e 1 ferido
Gláucia - Belford Roxo: 6 tiroteios
As UPPs afetadas pela violência armada foram:
Prazeres: 3 tiroteios
Complexo de Manguinhos: 2 tiroteios e 1 ferido
Formiga: 2 tiroteios
Jacarezinho: 2 tiroteios
Turano: 2 tiroteios
Macacos, Rocinha, Providência, São João, Tabajaras e Borel, contabilizaram um tiroteio cada, mas sem vítimas.
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