Claudio Castro durante a coletiva, no Palácio GuanabaraCleber Mendes/Agência O Dia

Rio - O governador Cláudio Castro disse, nesta sexta-feira, durante a apresentação do balanço dos primeiros 15 dias do Cidade Presente que a missão do programa é colocar a "casa em ordem". O evento revelou resultados das ações feitas pelo Estado nas comunidades do Jacarezinho, na Zona Norte, e da Muzema, na Zona Oeste, com destaque para os números da Segurança Pública. 
Segundo Castro, o programa não vai repetir os mesmos erros das gestões anteriores com as Unidades de Policia Pacificadora. "O programa Cidade Integrada é um programa que vem para tentar mudar a realidade da segurança pública. As comunidades merecem muito mais do que vêm tendo tido. A nossa Polícia há muito tempo é acusada de ser uma policia que entra para dar tiro, para fazer incursões somente policiais. O que é uma grande injustiça. A nossa polícia vem entrando para tirar, libertar as pessoas do julgo do tráfico, da milícia", avaliou o governador, em coletiva no Palácio Guanabara, nas Laranjeiras, Zona Sul.
"Se o serviço social não entra ali, não é culpa da polícia. É culpa do Governo. Esse programa vem para mostrar que a forma de mudar isso é o Estado se fazer presente", enfatizou o governador, que trouxe também dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontando para uma redução de 65% nos crimes de rua, caindo de 57 casos, entre o dia 1° e 18 de janeiro, para 20, do dia 19 até esta quinta-feira (3). Também houve redução de 38% nos roubos de carros, no mesmo período.
Para o governador, a entrada do poder público estadual e municipal nessas comunidades pode devolver à localidade aos seus verdadeiros donos. "Esse é um projeto de retomada de território. Esse território não é do traficantes, não é do miliciano, mas também não é da polícia. Ele é das pessoas que vivem lá", disse Castro.
O governador também reforçou que a intenção do programa não é "inventar a roda", mas sim reformar toda a estrutura que o Estado e os municípios já possuem. "Todas as estruturas públicas serão reformadas. Todas tem que ser recuperadas e tem que ser entregues para quem sabe cuidar", pontuou.
Castro também mostrou números da mega ação social RJ Para Todos que aconteceu na Quadra da Acadêmicos do Jacarezinho, no interior da comunidade, e na favela da Muzema, na Zona Oeste. Foram mais de 4 mil atendimentos, entre a retirada de segunda via de identidade, regularização fundiária, corte de cabelo, entre outros. De acordo com o governador, o número de pessoas que foram aos pontos para retirar a primeira via do RG chamou a atenção. 
"São pessoas que estavam distantes da sociedade. Um ser humano que não tem a primeira identidade. É algo para fazermos uma reflexão da nossa sociedade. O quanto estamos olhando para essa população que não tinha o direito nem de ter a primeira identidade. Nos assustou, mas também nos motivou a fazer ainda mais", contou. A unidade do Detran-RJ nos eventos realizou 980 atendimentos. 
Neste fim de semana, as duas comunidades devem receber novos mutirões de serviços do RJ Para Todos. "Queremos que essa atuação continue. Não vamos ter Carnaval, então vamos trabalhar", brincou o governador, prometendo a ação para os próximos fins de semana", garantiu.
Castro também sinalizou para os resultados de outros serviços oferecidos no RJ Para Todos do último final de semana: 3 mil atendimentos para regularização fundiária, feitos por agentes do Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ); 80 alunos cadastrados no Esporte Presente; 35 tubulações de esgoto desobstruídas e mais de 2 km de rede subterrânea na linha férrea; e 700 toneladas de detritos tirados dos rios Salgado e Jacaré, que coram as comunidades. 
Segundo o Governo do Estado, o Cidade Integrada tem previsão de investimento de cerca de R$ 500 milhões nas duas comunidades até a conclusão do programa. Cerca de 40 mil habitantes serão beneficiados diretamente.
Durante sua fala, Castro também agradeceu a ajuda do Prefeito do Rio, Eduardo Paes, que forneceu a estrutura da Comlurb e Secretaria Municipal de Preservação, nas ações realizadas em ambas as comunidades. "Isso que é integração mesmo. Não importa de quem é o programa", comentou.
Desenvolve Mulher
Após a apresentação do balanço de 15 dias do Cidade Integrada, o secretário de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Mário Quintal, apresentou o programa Desenvolve Mulher. A iniciativa pretende promover a autonomia de moradoras do Jacarezinho e Muzema e tem como público-alvo as chefes de famílias com idades entre 16 e 30 anos. Para elas, será oferecido capacitação profissional, por meio de cursos e com ajuda financeira de R$ 300.
"Nosso objetivo é encurtar esse espaçamento que existia entre comunidades e o Governo do Estado. Com o programa Cidade Integrada, nós estamos presentes nessas regiões para que a população não fique mais tanto tempo esperando por serviços sociais. O Desenvolve Mulher foi testado, inclusive, em outros países e, nós trouxemos essa metodologia para o Rio de Janeiro, visando encerrar o ciclo de pobreza por meio das mulheres chefes de família, que há muito tempo esperam por essa oportunidade. Somente neste programa, o Governo do Estado vai investir cerca de R$34 milhões", disse o secretário. 
Apreensão de drogas passa de uma tonelada
Em duas fartas apreensões de drogas, no Jacarezinho, o prejuízo financeiro dos criminosos pode ter ultrapassado a casa dos R$ 3 milhões. De acordo com a Secretaria de Estado de Polícia Militar, desde o início das ações para a implementação do Programa Cidade Integrada, mais de 1,5 tonelada de drogas já foram apreendidas na comunidade. Já num compilado das ações no Jacarezinho e na Muzema, - comunidade da Zona Oeste também abrangida pela iniciativa - 73 criminosos já foram presos e 27 toneladas de barricadas já foram retiradas das ruas.

Na quarta-feira (02) equipes do Batalhão de Ações com Cães (BAC) realizavam varreduras pela região quando os cães atentaram aos policiais para uma edificação aparentemente abandonada, onde foram encontrados cerca de 850 quilos de maconha prensada, ainda a ser subdivida e envelopada para comercialização.
No mesmo dia, equipes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Jacarezinho apreenderam em uma fábrica clandestina do entorpecente conhecido como “lança-perfume”, 6.440 litros de dichloromethane, substância que serve como base para a fabricação da droga, além de 10 frascos do entorpecente já pronto e farto material para seu envasilhamento e consumo.

Denúncias de agressões 
Em meio aos avanços do programa Cidade Integrada, denúncias de agressões e abusos em abordagens policiais têm surgido no Jacarezinho. Um morador diz ter sofrido agressões de policiais militares durante uma abordagem em uma das ruas da comunidade.
Ruan Nobre acusa policias por agressão - Reprodução
Ruan Nobre acusa policias por agressãoReprodução
Em um vídeo, o jovem, identificado como Ruan Nobre, diz que foi atingido com golpes de faca nas costas após os policiais afirmarem que ela era bandido.  Ele voltava do trabalho, por volta de 0h30 quando teria sido abordado por militares. 
"Eu tentei correr e minha mulher passou na hora. Falei para ela: me ajuda! Quando ela me viu, saiu correndo. Aí ele (policial) foi lá e me esfaqueou pelas costas. Isso não vai ficar assim não. Não vai. Não sou vagabundo", afirma Ruan, que foi socorrido por moradores da comunidade e precisou levar pontos nos cortes.
Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que os fatos serão apurados, embora não haja uma denúncia formalizada por parte da vítima.

Na sexta-feira (28), outro morador do Jacarezinho, o estudante de direito Felipe Gomes, denunciou à Polícia Civil ter sido torturado e ameaçado de morte por policiais do Bope. As agressões teriam acontecido no dia 21 de janeiro quando, por volta das 12h, cinco PMs com fardas camufladas em verde e bege invadiram a casa dele, que também é usada como escritório de advocacia.
Nos primeiros dias da ocupação, moradores afirmaram que tiveram as casas reviradas e dinheiro roubado por policiais militares durante a ocupação da região pelas forças de segurança. Uma moradora diz que foi ameaçada de agressão. A PM afirmou que está "dando apoio aos moradores" durante o processo de ocupação e que as denúncias estão sendo apuradas.