Policiais foram ao Jacarezinho cumprir mandados de busca e apreensão da Operação Big Fish. Comunidade recebeu programa Cidade IntegradaMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - Investigações da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (Dcoc-LD) indicaram que o tráfico de drogas do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, movimentou quase de R$ 40 milhões em lavagem de dinheiro, nos últimos dois anos, através de comerciantes da comunidade que eram usados como 'laranjas'. Segundo a Polícia Civil, o responsável pelo esquema criminoso é Marcus Vinicius da Silva, conhecido como Lambari, apontado como uma antiga liderança do tráfico, que atualmente mora em Natal, no Rio Grande do Norte. 
Marcos Vinicius Silva, o Lambari  - Divulgação
Marcos Vinicius Silva, o Lambari Divulgação


Nesta sexta-feira, os agentes da especializada realizaram a Operação Big Fish e cumpriram sete mandados de busca e apreensão. Ainda foram bloqueados cerca de R$ 40 milhões nas contas bancárias dos suspeitos e sequestros de bens de alto valor.

De acordo com a Dcoc-LD, é da paradisíaca capital nordestina, onde vive como empresário do ramo de floricultura e paisagismo, que Lambari coordena as movimentações financeiras ilegais. Os agentes descobriram que ele selecionou comerciantes da comunidade carioca para efetuar diversos depósitos bancários com o objetivo de tornar lícitos capitais oriundos do tráfico de entorpecentes no Estado do Rio, através da tipologia conhecida como 'mescla'. 
Policiais Civis da Dcoc-LD foram até Natal para cumprir mandados de busca e apreensão da Operação Big Fish  - Divulgação
Policiais Civis da Dcoc-LD foram até Natal para cumprir mandados de busca e apreensão da Operação Big Fish Divulgação


As transações eram feitas através de diversos depósitos bancários, realizados quase diariamente, em agências perto do Jacarezinho. No período entre agosto de 2019 e outubro de 2021, esses comerciantes - proprietários de açougues, distribuidora de alimentos e depósitos de bebidas - movimentaram quase de R$ 40 milhões.

Para os policiais, o que chamou a atenção foi o fato de todas as empresas serem de 'pequeno porte', funcionando com pouquíssimos funcionários, porém apresentando movimentações financeiras suspeitas na ordem de milhões de reais

"A hipótese que se apresenta é de engenharia financeira utilizada pelos investigados através da atividade empresarial com o intuito de perceber dinheiro fruto do tráfico de drogas através de ingresso de dinheiro vivo nas contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas da comunidade do Jacaré", analisa a especializada.

Suspeitos de participar do esquema

Para a Dcoc-LD, Carlos Gouvea é um dos suspeitos de participar do esquema. Os policiais descobriram que ele é o proprietário do veículo Renault Duster usado por Lambari em Natal. O homem ainda é apontado como o principal elo entre Lambari e Juliano Batista da Silva, que é o principal operador financeiro do grupo.

Os agentes analisaram que Gouvea fez diversas movimentações financeiras suspeitas em sua conta, inclusive remeteu R$110.000,00 a Silva.

Silva é dono de uma empresa de distribuição de alimentos no interior do Jacarezinho. Entretanto, segundo as investigações, diversas inconsistências no que diz respeito ao faturamento da empresa dele foram encontradas.

"O faturamento anual de R$ 364.750,00, R$ 220.000,00, com renda mensal de R$ 6.306,95. Ocorre
que entre 24 de janeiro de 2019 e 25 de outubro de 2021 a mesma pessoa jurídica movimentou um total de R$ 39.580.609,00 somente em movimentações financeiras 'atípicas' e 'em espécie'", descrevem os investigadores.

Como pessoa física, Silva movimentou, entre 19 de novembro 2019 e 4 de junho de 2021, R$ 6.243.688,00 em movimentações financeiras atípicas.

Outro comerciante que chamou a atenção da polícia foi Israel da Costa Gomes, que é dono de um depósito de bebidas. Morador do Jacarezinho e com família constituída na comunidade, ele figura como o proprietário do apartamento onde Lambari mora em Natal, avaliado em R$ 400 mil.

De acordo com as investigações, alguns desses comerciantes usavam familiares que também possuem estabelecimentos na comunidade para realizar depósitos bancários.

Confira as transações:

- Um primo de Juliano Batista Silva, dono de uma empresa de fornecimento de alimentos preparados para empresas, movimentou R$ 2.156.412,00, em operações atípicas, entre outubro de 2020 e dezembro de 2021. O homem se declara como motorista e em seis meses depositou R$ 601 mil para Silva. As transações foram em divididas em mais de 600 depósitos e transferências.

- Um motorista do Rio Grande do Norte movimentou R$ 1.834.256,00, entre outubro de 2020 e outubro de 2021. Desse montante, o primo de Silva figura como beneficiário de parte desses valores, que foram movimentados em 377 depósitos.

- Sogra de Silva, proprietária de uma pensão no Jacarezinho, movimentou, entre agosto e novembro de 2021, quase R$ 1,5 milhões, através de mais de 250 transações bancárias.

- O pai de Silva e sócio dele em um de seus negócios no Jacarezinho, movimentou mais de R$ 1,3 milhões, entre agosto e novembro do ano passado.

- O primo de um familiar de Silva, proprietário de com comércio em Manguinhos, comunidade vizinha ao Jacarezinho, movimentou, entre janeiro e julho do ano passado, mais de R$ 1,2 milhões, sendo R$ 583.455,00 efetuados em terminais de autoatendimento através de 287 transações.
Em nota, os advogados Norley Lauand e Charles Santolia afirmam que Lambari é inocente.

"O Sr. Marcus Vinícius não reside mais no Estado do Rio de Janeiro justamente para não ter seu bom nome vinculado a qualquer grupo armado, eis que hoje encontra-se totalmente recuperado, inclusive trabalhando no setor de paisagismo. Outrossim, o noticiado, em que pese pender para apontar o Sr. Marcus Vinícius tenha alguma participação no tráfico de drogas, isso não é verdade, até mesmo porque, se envolvimento tivesse, certamente a Delegacia que investiga o fato e Ministério Público requereriam a prisão de Marcus Vinícius, o que não acontece", declarou a defesa.
A Polícia Civil informou que solicitou mandado de prisão temporária contra Lambari à justiça, mas o pedido foi indeferido.