Júlia Naspolini recebe o carinho dos amigos e familiares durante o velório da mãe, Susana Naspolini, no cemitério São João Batista, na Zona Sul do RioReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - O corpo de Susana Naspolini está sendo velado na igreja do cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, na manhã desta sexta-feira. A cerimônia, aberta ao público, começou por volta das 8h. A jornalista morreu aos 49 anos na noite desta terça-feira, vítima de câncer. Júlia Naspolini, filha de Susana, recebeu o carinho de amigos, fãs e familiares, que estiveram no local para se despedir da repórter do "RJTV". A mãe de Susana, Dona Maria, de 78 anos, também deu o último adeus à filha. Na noite desta quinta-feira, o corpo da jornalista será translado para Criciúma, em Santa Catarina, onde será sepultado.
Durante uma breve conversa com a imprensa, Dona Maria falou sobre o comportamento de Júlia após o agravamento do estado de saúde da mãe. "Ela ficou muito aturdida, agitada, perdidinha. Ela acompanhou a mãe no leito, ela deitava ao lado da mãe no hospital e ficou ali até a mãe falecer, de mãos dadas com ela. Ela ficou bem desalentada mesmo, ao extremo, e comecei a ficar preocupada de vê-la daquele jeito", afirmou. 
Maria também lembrou que a jovem de 16 anos perdeu o pai, Maurício Torres, em 2014, devido a falência múltipla de órgãos decorrente de quadro infeccioso. "Perdeu o pai aos 8 anos, agora perdeu a mãe. Mas ela tem uma compreensão absurdamente além dessa idade de 16 anos. A gente sempre foi muito aberta com ela, ela acompanhou tudo sempre. A nossa família, a minha, particularmente, é muito próxima dela. Ela nunca perdeu os vínculos com Criciúma, Santa Cataria. Sempre foram pra lá as duas. Isso estou insistindo com ela: 'Júlia, você perdeu a mãe, o pai e essa é sua família. Nós somos membros de uma mesma família. Conta sempre com isso. Não te preocupe, porque a gente vai ser sua família pra sempre. Não vai ter problema nenhum'". 
Na ocasião, o irmão de Susana, Samuel, de 43 anos, lembrou da personalidade extrovertida da jornalista. "Crescemos juntos, mas ela já brincava desde muito nova que era repórter, improvisava microfone, criava brincadeiras, como se estivesse em um programa. Sempre teve esse jeito brincalhão, extrovertido, era muito família, mas ao mesmo tempo participava de grupos de teatro na nossa cidade, na escola. Em geral, peças de comédia. Ela revelou no trabalho um traço que ela tinha desde muito cedo", comentou. 
Apesar de morar no Rio de Janeiro, Samuel afirma que a irmã nunca deixou de manter contato com a família do Sul. "Ela era muito apegada a família, nós nos encontrávamos nas festas anuais. Ela sempre manteve esse contato. Quando ela veio pra cá (Rio), até temia dela morar numa cidade grande, que não se adaptasse, mas ela desenvolveu uma paixão pelo Rio de Janeiro, pelas pessoas daqui, pelo seu povo. A ponto de quando o Maurício (marido da jornalista) morreu, a família conversou com ela, para ela voltar para lá (Criciúma) e ela sempre teve uma justificativa para permanecer aqui. Ela era muito feliz aqui". 
O irmão da jornalista também disse que quando vinha ao Rio de Janeiro conseguia sentir o carinho das pessoas com Susana, mas que não tinha noção do 'tamanho' que a jornalista tinha na cidade. "Nas oportunidades que nós vínhamos, nós sentíamos o reconhecimento. As pessoas vindo, abraçando, era tudo muito gostoso. Ela prezava muito isso. Mas nós, falo por mim, não tínhamos a dimensão do quanto ela era estimada, querida. As mensagens que ela e Júlia receberam nas últimas duas semanas, todo apoio, oração, depois do falecimento, as homenagens que ela recebeu... O quanto ela era estimada pelo povo do Rio nos toca muito e era retribuído por ela". 
Amigo de Susana, o jornalista Pedro Figueiredo foi um dos primeiros a chegar no cemitério, lamentou a perda da repórter e exaltou o modo leve dela fazer jornalismo. "Ela conseguiu fazer o jornalismo ter outro valor. A nossa profissão pode e deve ouvir as pessoas. E o principal legado foi fazer um jornalismo leve e alegre. Contar a história de um jeito leve, não quer dizer que a cobrança vai ser leve", frisou. "Susana era sinônimo de alegria e leveza", completou.
O jornalista Pedro Bassan também falou sobre o amor de Susana pelo Rio de Janeiro. "Era uma pessoa apaixonada pelo Rio. Ela tinha uma paixão especial pelo Rio, que a terra que a acolheu, mas acho que ela se apaixonaria por qualquer lugar que ela estivesse e visse pessoas com problemas. Porque ela se apaixonava pelo problema das pessoas, pra resolver o problema das pessoas. Os problemas dos outros, eram problemas dela. Ela mergulhava naquilo e buscava solução junto com as pessoas. Esse é o segredo da empatia dela, que ela tinha com as pessoas. O resultado a gente vê, o carinho das pessoas por ela. Ela cobrava com firmeza, mas com sorriso. Essa postura é tão rara, difícil de encontrar, mas, pra mim, é um segredo da nossa existência, que ela deixou para nós", destacou. Já  Erick Rianelli compareceu ao velório, mas não falou com a imprensa.
A repórter Bete Lucchese relembrou o início da amizade com Susana e exaltou a humildade da jornalista. "Nos conhecemos na emissora. Ela era muito alegre, e por isso, aos poucos foi absorvendo o jeito carioca de ser. Por isso, era tão querida. Um exemplo disso foi o lançamento do livro dela, em que a fila para dar um abraço saiu da livraria e deu voltas na rua. Andar com ela era certeza de distribuir abraços, parar para tirar fotos. Ela sabia desse carinho do povo, mas a humildade não deixava isso subir à cabeça". 
O cinegrafista Diógenes Melquíades e o produtor Anderson Nunes, que trabalharam por nove anos com Susana, chegaram ao velório perto de meio dia e foram recebidos pela irmã da repórter, Samira Naspolini, com um longo abraço. Ela agradeceu a homenagem feita pela equipe à jornalista no RJTV desta quarta-feira. Eduardo Paes, prefeito do Rio, enviou uma uma coroa de flores ao local. 
O jornalista Edmilson Ávila, que era colega de emissora e vizinho de Susana, também foi se despedir da amiga. "Ela criou essa forma de fazer jornalismo, alegre, divertido, sem deixar de fazer a cobrança. Por isso ela criou essa identidade com as pessoas do bairro. Ela dá essa nova cara ao jornalismo brasileiro”, disse.
Ele relembrou os momentos de alegria com a repórter e, contou os últimos dias da batalha de Susana contra a doença. "Nós temos filhos da mesma idade, que nasceram na mesma maternidade, trabalhamos na mesma empresa e morávamos na mesma rua. Era virou muito amiga da minha mulher, sempre convidava para tomar um café". Segundo o profissional, Naspolini sempre acreditou na cura. "Ela tinha muita esperança. Quando saía o resultado de um exame, e não tinha nenhuma piora, ela já comemorava". 

Edmilson enfatizou que, neste momento, os amigos e familiares precisam dar apoio à filha da jornalista. "Essa perda é muito triste para todos nós, mas agora é importante amparar a Julinha (Júlia Naspolini)".
Fã da apresentadora do quadro 'RJ Móvel', a funcionária pública Saionara Machado, de 57 anos, esteve no velório. Moradora de Magé, ela lembrou quando chamou Susana, em 2018, para reclamar do abandono do píer do município da Baixada Fluminense do Rio. "Ela gostava que nós participássemos do quadro. Depois que ela foi lá em Magé, sempre mantive contato com ela", disse. Saionara disse que a obra, na época, demorou três meses para ficar pronta e cita um desejo: "Gostaria que batizassem o píer de Susana Naspolini, igual fizeram com a praça em Nova Iguaçu". Por volta das 14h40, um jovem que acompanhava o velório passou mal, e precisou ser atendido por uma técnica de enfermagem. 
Heloísa Helena, de 79 anos, que trabalhou com a família de Susana Naspolini durante 22 anos, também se despediu da jornalista na tarde desta sexta-feira. "Ela não era patroa, era uma grande amiga que acabo de perder e vai me fazer muita falta. Ela era extrovertida, alegre, estava sempre sorrindo, de bem com a vida", recorda Dadá, como é carinhosamente chamada por Júlia, filha da repórter do RJTV.
Heloísa ainda se emociona ao falar sobre o sentimento após a morte de Susana. "O coração fica partido. Muita dor, falta, foram 22 anos", lamenta. Ao ser questionada se continuará cuidando de Júlia, ela comentou: "Vou cuidar da Julia enquanto puder. Daqui a pouco a Júlia está moça, emancipada e não precisará mais de mim, mas enquanto precisar, estarei lá com ela, a família".
No fim do velório, Júlia agradeceu a presença de todos. "Queria agradecer a todos os amigos, amigas, familiares, tem gente que eu nem conhecia, que vieram pra cá, de tão longe, pararam o trabalho para virem se despedir da mamãe e dar força pra gente. Queria agradecer cada abraço que recebi nesse dia tão difícil... Tenho certeza que ela ficaria muito feliz de ver todo mundo aqui", disse a jovem de 16 anos.