Bruno de Souza Rodrigues é considerado pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) o mentor do plano para matar Jeff MachadoReprodução/ Redes sociais

Rio - Bruno de Souza Rodrigues, suspeito de matar e ocultar o corpo do ator Jefferson Machado Costa, tentou vender a casa e o carro da vítima após o homicídio. Para a delegada Elen Souto, da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), a motivação do crime envolveu questões financeiras.
Segundo as investigações, o produtor de conteúdo quis vender o imóvel onde Jeff morava, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, por um valor abaixo do avaliado. A residência tinha um preço aproximado de R$ 600 mil, mas durante a venda Bruno pedia R$ 280 mil. Como não conseguiu um comprador, o suspeito ainda abaixou mais o preço, continuando sem sucesso.
O carro de Jeff, usado para transportar o baú onde o corpo estava, também foi motivo de negociações realizadas por Bruno. De acordo com Souto, o patrimônio apenas não foi vendido porque o produtor não tinha um documento de compra e venda do veículo.
Para a titular da DDPA, o crime foi motivado por questões financeiras. Uma das linhas de investigação da especializada analisou que o suspeito enganou a vítima com a promessa dele estrelar uma novela, pedindo uma quantia de R$ 20 mil, que foi paga. O homicídio teria acontecido três dias antes da data que Jefferson acreditava que ia começar uma gravação para a novela.
"Ainda que ele tenha afirmado através das simulações, se valendo do celular da vítima, falando que parte do valor [exigido para o trabalho na novela] tinha sido devolvido, não houve devolução. Então, a [motivação] seria o valor que teria sido investido nessa compra de vaga que o Jefferson achou que de fato tinha sido realizada para a novela. Esse valor fazia parte das economias da mãe do Jefferson. Também houve tentativas frustradas de venda de patrimônio do Jefferson, que era uma casa de Guaratiba avaliada em R$ 600 mil, que ele estava tentando vender por R$ 280 mil e no final ele já estava tentando vender por R$ 250 mil. Houve também tentativas de venda do próprio veículo da vítima, um Renault, que ele chegou a negociar com alguns vendedores de agências que foram ouvidos aqui na delegacia e só não se concretizou porque ele não não tinha em mãos o documento de compra e venda do veículo", contou a delegada.
De acordo com a titular da DDPA, o produtor estaria com medo do que Jeff poderia fazer após o ator perceber que não tinha nenhuma gravação de novela, mesmo com o pagamento de R$ 20 mil. O assassinato teria sido motivado como forma de acobertar uma possível desmoralização que a vítima poderia causar contra ele depois de entender que Bruno não tinha nenhuma ligação com emissoras de TV.
"Nós podemos dar como motivação exclusivamente a questão financeira diante do valor que Jefferson teria pago para conseguir a vaga nessa novela, cerca de R$ 20 mil, que seria cobrado por ele uma vez que ele não iniciaria nenhuma gravação. Ainda há o receio dele ser desmoralizado, uma vez que o Bruno se apresentava como assistente de direção e uma pessoa influente no meio artístico", disse Souto.
O produtor de TV, indiciado pelo crime de homicídio triplamente qualificado e ocultação do cadáver, é considerado foragido desde a noite desta quinta-feira (1º) após a Justiça expedir um mandado de prisão temporária contra ele.
Suspeito dopou Jeff antes de usar fio para enforcamento
Bruno Rodrigues dopou o ator antes de assassiná-lo com um fio de telefone. A informação foi passada pelo garoto de programa Jeander Vinicius da Silva Braga, preso nesta sexta-feira (2), durante oitiva na Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), na Cidade da Polícia, Zona Norte do Rio.
Segundo a delegada Elen Souto, Jeander confessou a participação da dupla no crime e negou a presença de uma terceira pessoa, identificada como Marcelo. O garoto de programa ainda afirmou que não houve nenhuma gravação de conteúdo sexual com a vítima. Tais alegações foram afirmadas por Bruno como forma de justificativa para negar a sua participação no homicídio de Jeff.
"Em sede policial, Jeander decidiu confessar e narrar a dinâmica do crime ocorrido no dia 23 de janeiro de 2023, no interior da residência do Jefferson. É importante ressaltar que aquilo que a investigação já tinha provado tecnicamente, de que Marcelo não existe, o Jeander confirmou. Os três personagens presentes na cena do crime eram a vítima, o Bruno e o Jeander. Segundo ele, o Bruno dopou o Jeff colocando uma substância entorpecente no suco e os três se dirigiram ao quarto do Jefferson. Não chegou sequer haver a filmagem do ato sexual. Tão logo o Jefferson adentrou em seu quarto ele foi, em razão de estar dopado, estrangulado com um fio de telefone pelo Bruno. A investigação segue em andamento. Existem outros fatos
a serem esclarecidos", contou Souto.
O plano para o homicídio, segundo a delegada, teria iniciado no dia 30 de novembro do ano passado quando o produtor alugou a casa em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, onde posteriormente o corpo de Jeff foi encontrado dentro de um baú enterrado e concretado a dois metros de profundidade. A chefe das investigações afirmou que Bruno quis a todo momento demonstrar que o responsável pelo aluguel era o ator e não ele.
Após o assassinato, a dupla colocou o baú com o corpo de Jeff dentro do carro da vítima e seguiu para a casa alugada em Campo Grande. As investigações conseguiram apurar que os suspeitos fizeram o caminho mais longo e menos habitual para poder fugir de uma possível abordagem policial. Contudo, os homens encontraram uma blitz no meio do caminho e ultrapassaram, recebendo uma multa no veículo do ator. 
Já a participação de Jeander no crime aconteceu porque o garoto de programa tinha uma relação estreita com o produtor. O homem, encaminhado para a Polinter na noite desta sexta-feira (2), teria recebido R$ 500 de Bruno para manter a sua versão sobre a participação de um terceiro envolvido. 
"Eles se relacionavam a muito tempo. Até mesmo após o cometimento do crime houve alguns encontros entre eles. O Jeander é um rapaz facilmente manipulável. É o que a gente percebeu na oitiva. O Bruno é um homem extremamente manipulador. Ele manipulou diversas testemunhas na construção dessa sua trama. O Jeander foi manipulado por ele para o cometimento desse crime. Embora ele negue que seja o autor, nós temos de fato ele na cena, ele participando da retirada dos cães de Jefferson da casa e em vários atos após o crime", completou a delegada.
Dupla pode ser investigada por outros crimes
O advogado Jairo Magalhães, que representa a família de Jeff, esteve na DDPA nesta sexta-feira (2) para fazer um pedido para que a delegacia investigue outros crimes que teriam sido cometidos por Bruno e Jeander contra Jeff.
"Vim aqui para entregar novos pensamentos de outros artigos, outros crimes que eles cometeram, para que a delegada investigue, como crimes de maus-tratos, falsa identidade, invadir dispositivo alheio, furto qualificado e estelionato. Então, nós trouxemos uma petição para que nesse término das investigações, a delegada também possa investigar esses crimes e imputar os acusados", contou Magalhães.
De acordo com a defesa, os familiares do ator consideram Bruno como o principal mentor e responsável pelo plano que terminou com o homicídio de Jeff. 
Relembre o caso
O corpo de Jeff foi encontrado no último dia 22 dentro de um baú enterrado e concretado a dois metros de profundidade em uma casa alugada por Bruno, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. O imóvel foi alugado pelo produtor em dezembro do ano passado, um mês antes do desaparecimento do ator. 
Desde o encontro do cadáver, a suspeita sobre Bruno foi aumentando. O produtor teria ficado com a chave da casa de Jeff e com alguns pertences depois do desaparecimento, o que chamou atenção dos investigadores. Uma fatura bancária do ator entregue à Polícia Civil, nesta segunda-feira (29), indicou que o cartão de crédito dele foi usado após o seu desaparecimento. De acordo com o boleto de fevereiro de 2023, foram feitas quatro transações entre os dias 23 e 26 de janeiro, mesmo período em que a investigação acredita ter ocorrido a morte do ator. A movimentação suspeita é de R$ 5.392,02.
Nesta quinta-feira (1º), o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) requereu a prisão temporária de Bruno e Jeander, depois de analisar que o crime teria sido premeditado pela dupla. "Os ora indiciados são suspeitos de praticarem os crimes de homicídio e de ocultação de cadáver contra Jefferson, aproveitando-se do momento em que mantinham relação sexual com a vítima para pôr em prática plano criminoso, estrangulando-a e colocando o seu cadáver em um baú, para, posteriormente, ocultá-lo no terreno do imóvel alugado por Bruno, onde o enterraram e concretaram a cerca de dois metros de profundidade", escreveu o promotor Sauvei Lei.