Mãe de Jeff Machado, Maria das Dores Machado, e o advogado da família, Jairo MagalhãesCléber Mendes/Agência O Dia

Rio - O Tribunal de Justiça (TJRJ) realiza, nesta sexta-feira (27), a primeira audiência de instrução e julgamento dos réus pela morte de Jeff Machado. O ator desapareceu em janeiro deste ano e teve o corpo encontrado dentro de um baú enterrado e concretado, em maio. A sessão está prevista para começar a partir das 13h, na 1ª Vara Criminal da Capital. O produtor Bruno de Souza Rodrigues responde por oito crimes e o garoto de programa Jeander Vinicius da Silva Braga por três. 
De acordo com o advogado da família do ator, Jairo Magalhães, foram convocadas 19 testemunhas, sendo 18 delas pelo Ministério Público do Rio (MPRJ), das quais quatro não foram localizadas, e outra indicada pela defesa, Igor Bello, que é o principal investigador da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), responsável pelas investigações do caso. A expectativa é de que 10 pessoas sejam ouvidas hoje, começando pela mãe da vítima, Maria das Dores Machado, e o irmão, Diego Machado. 
"A expectativa é de que eles sejam condenados não só pela morte, mas por todos os crimes cometidos por eles. Eles não ficaram satisfeitos com a morte, continuaram perpetuando diversos crimes. É uma questão de justiça, ela (mãe de Jeff Machado) veio de Santa Catarina junto com o irmão, podendo até fazer por vídeo, mas eles vieram pessoalmente ao Rio de Janeiro, especificamente para esse depoimento hoje", afirmou o advogado, que lembrou que a defesa do acusado tentou adiar a audiência. 
"Nós estivemos aqui (no Fórum) durante essa semana e a audiência está mantida. Nós esperamos que aconteça, até porque os familiares do Jefferson vieram de Santa Catarina, tendo gastos, todo um investimento, não só financeiro mas, principalmente, emocional, vieram para o Rio de Janeiro especificamente para essa audiência. Então, nós esperamos que essa audiência aconteça para a oitiva deles e das outras testemunhas". 
Ainda segundo o advogado, Maria e Diego pediram que os réus não estivessem presentes durante as oitivas. "É um direito e ela realmente pediu para que eles não estivessem presentes na sala, até porque, ele (Bruno) não só matou o filho dela, mas continuou em contato após a morte, se passou pelo filho dela. Ela, como ser humano, e o próprio irmão do Jefferson, jamais iam conseguir e também não tem necessidade de estarem presentes junto com essas pessoas", completou.
Maria das Dores compareceu ao Fórum usando uma camisa e uma bolsa com fotos do filho, feitas por alunos da escola onde é professora. Emocionada, ela desabafou sobre a morte do ator e se disse uma pessoa forte, mas que não aguentaria ver Bruno e Jeanderson durante o depoimento. 
"Eu sou uma pessoa de muita fé, de muita força, mas eu acho que seria muito eu estar no mesmo ambiente desses dois assassinos, é uma crueldade. Eu não vou dizer que eu quero que morra, isso está nas mãos de Deus, isso a Justiça vai fazer, não sou eu que vou dizer. Dure mil anos, para sofrer a dor que eu estou sofrendo na perda do meu filho. Não quero que mate, não quero que morra, viva muitos e muitos anos na pena máxima, é isso que eu desejo. Eu sei que mãe sofre quando perde, quando tem um filho assassino, porque mãe é mãe", desabafou Marida das Dores. 
A defesa declarou esperar que o depoimento do investigador aponte que Bruno se demonstrou interessado nas investigações desde início, para se beneficiar das informações obtidas pela Polícia Civil. 
"O Bruno teve contato direto com o investigador. Ele como principal investigador do caso, como policial civil, a gente espera que ele traga para os autos, questões que ele mesmo observou. Ele esteve com o Bruno até a residência do Jefferson, o Bruno entrou em contato com ele pelo telefone e ele também foi o principal investigador que ouviu grande parte das testemunhas que serão ouvidas hoje (...) (O Bruno usou) não só essas informações (para se beneficiar), como estando próximo, também, dos familiares, dos amigos do Jefferson, só que foram tentativas frustradas, como nós observamos". 
Além dos familiares e do policial civil, a audiência também deve ter o depoimento de uma conhecida da família da vítima que ajudou com as buscas desde o desaparecimento. A expectativa é de que ela relate uma conversa que teve com o produtor na delegacia, em que afirmou desconfiar do envolvimento do réu no crime, após ser questionada por ele. "É extremamente importante para nós vermos a conduta do Bruno e a forma que ele agiu antes, durante e também posterior a morte do Jefferson".
Entenda o caso
O inquérito da morte de Jeff foi concluído em julho pela DDPA e indiciou Bruno por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, asfixia e por impossibilidade de defesa da vítima; ocultação de cadáver; estelionato e tentativa de estelionato; furto; invasão de dispositivo informático; maus-tratos a animais e falsa identidade. Já Jeander por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, asfixia e por impossibilidade de defesa da vítima; ocultação de cadáver e maus-tratos a animais. 
De acordo com as investigações da especializada, o ator foi morto em 23 de janeiro e, no dia 27 seguinte, seu desaparecimento foi registrado, depois que familiares e amigos estranharam a falta de informações e contatos feitos por ele. A Polícia Civil conseguiu identificar a participação do produtor e do garoto de programa no crime e, junto com o MPRJ representaram pelas prisões, que foram decretadas pela Justiça do Rio e cumpridas em junho.
O inquérito apontou que o acusado dizia ser produtor de uma emissora de televisão e prometeu um papel em uma novela para Jeff, que pagou R$ 25 mil para conseguir a vaga. O ator não percebeu que estava sendo enganado e, por não conseguir mais manter a farsa, ele decidiu matá-lo. Segundo a DDPA, a vítima foi morta por motivo fútil, estrangulada com um fio de telefone, após ser dopada e asfixiada. O corpo foi transportado por Jeander para uma casa em Campo Grande, alugada por Bruno em dezembro de 2022, exclusivamente para ocultar o cadáver da vítima.
Ainda de acordo com as investigações, o corpo foi colocado em um baú do próprio ator, enterrado a dois metros de profundidade e coberto de concreto. Jeander também foi o responsável por abrir o buraco onde o objeto com o cadáver foi sepultado. Para encobrir o assassinato, Bruno usou o celular do artista e se passou por ele para manter contato com a mãe e amigos, além de ter feito publicações falsas em suas redes sociais.
Após o assassinato, os oito cachorros de Jeff foram levados para um centro espírita, no bairro Palmares, em Santa Cruz, na Zona Oeste, onde ficaram em condições de maus-tratos físicos e psicológicos. Depois, os animais foram abandonados na rua, o que despertou atenção dos parentes e amigos da vítima. O responsável pelo local é o terceiro indiciado no inquérito e não foi preso. Bruno tentou vender o carro de Jeff e fez compras com seu cartões, no total de R$ 7 mil. O produtor e o garoto de programa ainda furtaram telefones, notebook, jaquetas de couro e uma televisão do ator.
Jeander foi preso em 2 de junho, em Santíssimo, na Zona Oeste, durante uma ação da Delegacia de Descoberta de Paradeiros que tentou prender os então suspeitos pelo crime. Já Bruno permaneceu foragido até o dia 15 do mesmo mês, quando foi preso pela Polícia Militar, em um hostel no Morro do Vidigal, Zona Sul, em uma operação conjunta com a Polícia Civil. O produtor ficou escondido no local por cinco dias, usando nome falso, e se preparava para fugir mais uma vez, ao perceber a movimentação dos agentes. Após passarem por audiência de custódia, a Justiça decidiu manter a prisão dos dois autores.
*Colaborou Cléber Mendes