Confusão durante manifestação para lembrar morte de Thiago Flausino, em agosto deste anoReprodução

Rio - "Perder um filho e não poder protestar". Esse é o relato de Priscila Menezes, mãe do jovem Thiago Menezes Flausino, morto em agosto deste ano na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, em uma ação da PM. O desabafo ocorre após ter o marido detido por policiais militares, nesta quinta-feira (7), durante uma manifestação realizada para lembrar os 120 dias sem o adolescente.
O pai do menino, Diogo Flausino, e seu irmão, foram levados para a 32ª DP (Taquara) após uma confusão durante o protesto. De acordo com Priscila, os agentes que acompanhavam o ato estavam alterados. "A todo tempo querendo atrapalhar nossa passeata. A gente estranhou desde o início, eles estavam pisando nas faixas e sendo desrespeitosos. Continuamos a passeata com eles provocando, mas quando a gente foi sentar em uma faixa da Linha Amarela, eles jogaram spray de pimenta em cima do Diogo. Todo mundo saiu correndo, foi uma cena desrespeitosa comigo. Eu tive que ficar em cima do Diogo pra impedir eles de jogar mais spray", explicou. 
Em nota, a Polícia Militar informou que houve exaltação por parte dos manifestantes, que chegaram a fazer uso de bombas (Malvinas) contra as equipes que acompanhavam as manifestações, além de obstruir a via por completo. A corporação disse, ainda, que durante o movimento, dois homens foram conduzidos para a 32ªDP (Taquara), por desacato às autoridades policiais.
No entanto, a família alega que não foi desrespeitosa em nenhum momento e que o ato era pacífico. "Por motivo nenhum, eles deram voz de prisão para ele, alegaram que o Diogo desrespeitou eles. Eles queriam atrapalhar nosso ato mesmo. Ninguém fez nada, a gente não desrespeita ninguém. A gente passou por mais uma humilhação, perder um filho e não poder protestar para pedir justiça. Porque isso é a única coisa que a gente quer e hoje eles fizeram isso, me humilharam. Novamente, esses policiais que trabalham pro estado me humilharam e humilharam minha família", lamentou Priscila. 
No Instagram, um perfil criado em homenagem ao Thiago divulgou imagens da confusão. No vídeo, é possível ouvir uma mulher dizendo que o ato feito pelos familiares era pacífico, enquanto policiais militares reclamavam que o grupo estava atrapalhando o trânsito. Em outra gravação, é possível ouvir tiros de bala de borracha e manifestantes reclamando do spray de pimenta. Um terceiro vídeo mostra o momento em que os agentes detiveram dois homens, que ficaram sentados no gramado, enquanto discutiam com a mulher que filmava a ação.
No início da noite, o perfil publicou uma foto de Diogo Flausino e o tio do jovem algemados. Em seguida, o usuário informou que os dois foram liberados da 32ª DP (Taquara).
Relembre o caso
No dia 7 de agosto, o adolescente de 13 anos foi morto enquanto passeava de moto com um amigo na Cidade de Deus. De acordo com familiares, câmeras de segurança mostram agentes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) perseguindo e atirando contra Thiago. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
No início de setembro, os policiais Diego Pereira Leal, Aslan Wagner Ribeiro de Faria, Silvio Gomes dos Santos e Roni Cordeiro de Lima foram presos preventivamente por fraude processual. De acordo com as investigações, os agentes teriam apresentado uma pistola e munições atribuindo à vítima.
Menos de um mês depois, os quatro foram soltos e respondem o processo em liberdade com medidas cautelares. Eles não podem ter contato com pessoas envolvidas no caso, não podem deixar o estado do Rio e tiveram a suspensão parcial do exercício de função pública e do porte de arma.
Diego Geraldo de Souza, que comandava a equipe do BPChq, foi denunciado pelo crime de prevaricação e fraude processual por omissão. Segundo a denúncia do MPRJ, "ele omitiu-se diante do dever de vigilância sobre seus comandados, autorizando que eles atuassem de modo irregular, utilizando veículos e drones particulares durante a operação". O agente não foi preso, mas segue afastado de funções públicas.