PM realizou megaoperação contra maior facção criminosa do estado em comunidades da Zona NorteReginaldo Pimenta/Agência O DIA
"É extremamente lamentável. O equipamento escolar deveria ser o mais preservado. Toda criança tem direito a estudar todos os dias. A gente precisa priorizar a paz escolar. Cada dia sem funcionar é uma tragédia para nós. Estamos preparados para oferecer todo conteúdo e apoio pedagógico aos nossos alunos, mas é inacreditável que a gente tenha que fechar escolas, que deveriam ser lugar sagrado de paz em vez de ficarem rendidas", disse o secretário Renan Ferreirinha.
Mãe de três filhos matriculados na Rede Municipal de Educação do Rio, Camila Santos, 39, aponta que a suspensão das aulas por conta de operações causa diversos prejuízos para a família. Os quatro precisaram ficar em casa nesta terça-feira, por vezes deitados no chão para se proteger, sem internet ou TV, por conta de danos provocados pelos tiros na comunidade. Moradora do Complexo do Alemão, a vendedora relata que o caçula de 8 anos assimilou nesta manhã o que é uma operação policial.
"Hoje eu perdi um dia de trabalho por vários motivos: está tendo operação no morro, não teve aula. Quem vai ficar com essas crianças? Às vezes não tem aula porque não tem água, às vezes porque não tem luz e outras vezes por operação", relatou.
Camila lamenta que os filhos percam conteúdo e disciplinas como educação física e inglês, além da socialização com outras crianças. "Mas eu acho que o maior impacto é a saúde mental. Hoje meu filho de oito anos acordou e perguntou se não iria para escola pela operação. Depois ele viu na televisão que estava tendo uma megaoperação no Complexo da Alemão. É muito triste uma criança tão jovem ter que aprender sobre violência. O impacto não é só não ir à escola. É tudo que vão aprender sobre as relações que eles têm naquele espaço", pontuou a vendedora de roupas.
A professora de Estudos Aplicados ao Ensino da Uerj, Alice Casimiro Lopes, concorda que a violência é o pior aspecto desta realidade que afeta escolas públicas cariocas. "Perder aulas é sempre ruim, mas não é o mais sério no caso. O mais sério é a violência a que as escolas públicas no Rio são submetidas. Os traumas para a comunidade e os alunos e alunas são o maior problema. O risco à vida. Isso evidencia, mais uma vez, que o maior problema da escola pública brasileira não é pedagógico ou curricular. São os problemas sociais invadindo a escola", afirmou.
O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, afirma que investe em programas para garantir a segurança da comunidade escolar e que pede às Forças de Segurança para que preservem as escolas e avisem com antecedência sobre operações.
"É um impacto enorme. Não se resume ao fechamento das unidades, mas é sócio-emocional, os alunos podem apresentar déficit de atenção, por exemplo. A gente corre atrás do prejuízo, aumenta a carga horária, mas na Educação, a gente precisa de rotina, disciplina, todo dia tem que ir para a escola. A interrupção é muito ruim, ainda mais com um fator que gera medo e ansiedade, como a violência", ressalta Ferreirinha.
A Secretaria Estadual de Educação (Seeduc), por sua vez, afirma que mantém diálogo permanente com as polícias militar e civil e vem acompanhando os registros feitos pelas unidades escolares através do Registro de Violência Escolar (RVE), ferramenta disponível na plataforma Conexão Educação, da Secretaria de Estado de Educação.
A Polícia Militar e a Polícia Civil realizaram uma megaoperação contra a organização criminosa Comando Vermelho em comunidades da Zona Norte desde o início da madrugada desta terça-feira (27). Em imagens que circulam nas redes sociais é possível ver o desespero dos moradores com um intenso tiroteio e barricadas em chamas no Complexo do Alemão e na Penha. Dois policiais militares foram baleados, nove suspeitos morreram, quatro ficaram feridos, cinco homens foram presos e dois adolescentes, apreendidos. Foram apreendidos drogas, fuzis, pistolas, rádios comunicadores e veículos roubado.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.