André Luiz Fernandes MaiaReprodução / Facebook

A decisão do ministro Alexandre de Moraes de derrubar o sigilo do caso Marielle Franco trouxe à tona uma série de documentos que antes estavam em segredo de Justiça, como o relatório final da Polícia Federal. No parecer, consta que Ronnie Lessa, autor da execução da vereadora e do motorista Anderson Gomes, contou em sua delação premiada que pesquisou locais para cometer o crime enquanto bebia uísque com um amigo, o advogado criminalista André Luiz Fernandes Maia, conhecido como 'Doutor Piroca'.
Na noite de 12 de março de 2018, dois dias antes de Marielle ser executada a tiros de submetralhadora .9mm, André Luiz passou um bom tempo com Lessa estudando uma forma de realizar o crime de forma “adequada”, sem deixar rastros ou levantar suspeitas sobre a autoria.
"Passados tais eventos e fissurado para angariar mais informações acerca da vítima, no dia 12 de março de 2018, dois dias antes do homicídio de Marielle e Anderson, Ronnie, por meio da já descrita ferramenta CCFácil, utilizou o CPF de Marielle e o de sua filha Luyara como parâmetros de pesquisa e, depois, pesquisou o resultado do endereço: Rua do Bispo, 227, como parâmetro junto ao Google Maps. Instado a se manifestar acerca do porquê ter pesquisado tal parâmetro junto ao Google Maps, sendo certo que já tinha realizado o levantamento in loco da região, RONNIE asseverou que naquele dia 12 estava na companhia de seu amigo ANDRÉ LUIZ FERNANDES MAIA, vulgo Doutor Piroca, tomando uísque e, obcecado para encontrar uma alternativa viável para a execução, passou a estudar o endereço da Rua do Bispo com afinco. O resultado de tais pesquisas quedou-se inócuo, uma vez que a rota eficaz que levou à morte de Marielle chegou aos executores, segundo Ronnie, por outra via.”, diz um trecho do relatório final da PF.
Não foi possível tomar qualquer providência judicial contra André, pois ele foi morto com pelo menos 10 tiros numa área de milícia da Zona Oeste, apenas 29 dias depois do assassinato de Marielle. Ele saía de casa na Rua Otávio Malta, bairro do Anil, quando dois homens ocupando uma moto o abordaram e dispararam à queima-roupa.
Segundo os policiais militares do batalhão de Jacarepaguá disseram na ocasião, não houve anúncio de assalto por parte dos bandidos. Após atirarem, os criminosos fugiram. Na época, a Polícia Civil do Rio abriu uma investigação e passou a apurar a participação da milícia na morte.
Mais de três anos depois, em agosto de 2021, um dos acusados pelo crime foi preso pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, no município de Miguel Pereira, na Região Centro-Sul do estado. Arthur Ferreira Lopes Filho já era apontado pelas autoridades como integrante da milícia que controla o Anil e tinha passagens por extorsão, associação criminosa e falsidade ideológica.
André Luiz já tinha sido condenado, em julho de 2014, pelo crime de coação no curso do processo. Ele recebeu uma pena de um ano de prisão em regime aberto. Em outra ação, na qual respondia por furto e coação no curso do processo, o advogado foi absolvido. Quando foi morto, ele respondia pelos crimes de ameaça e estelionato.
Embora fosse amigo de Lessa, conforme indicado pela PF, o inquérito sobre a execução de “Doutor Piroca” concluiu que ele teria sido morto por “atuar ativamente contra a milícia e se negar a se aliar a criminosos”.