Padre Alexandre Paciolli foi preso em Fortaleza, no Ceará, no dia 3 de abrilDivulgação / Arquivo / Canção Nova

Rio - A Justiça do Rio acolheu, nesta quarta-feira (10), um pedido da defesa para que o padre Alexandre Paciolli Moreira de Oliveira, de 55 anos, cumpra prisão domiciliar. O sacerdote foi preso na quarta-feira da semana passada (3) pelos crimes de importunação sexual e estupro cometidos contra uma mulher entre os meses de agosto de 2022 e janeiro de 2023 em Nova Friburgo, na Região Serrana.
Como justificativa ao pedido, a defesa do padre disse que ele passou por uma cirurgia de grande porte na coluna, no dia 20 de março, o que o deixa debilitado e correndo risco de vida. Os advogados ainda citaram que Alexandre responde a um processo junto a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, o que não permite que ele atue como padre, descaracterizando a necessidade de sua prisão para garantia da ordem pública.
Paciolli está afastado de suas funções desde quando a Arquidiocese tomou conhecimento sobre as acusações contra ele. A sindicância interna segue em andamento para investigar as denúncias, todas pelos mesmos crimes. 
Em sua decisão, a juíza Simone Dalila Nacif Lopes, da 1ª Vara Criminal de Nova Friburgo, considerou o relatório médico de Alexandre, que mostra a necessidade de repouso e cuidados de higiene, sob risco de contaminação da região onde a cirurgia aconteceu, havendo ainda a indicação de fisioterapia pelo período de 90 dias.
A magistrada ainda entendeu que a decretação da prisão preventiva de forma automática não é justificada só por se tratar de um crime grave.

"A despeito de o acusado responder por crime grave, supostamente praticado mediante abuso da fé alheia, tal fato por si só não tem o condão de gerar a sua prisão preventiva de forma automática, e diante da gravidade do procedimento realizado no requerente, a prisão deve ser convertida em domiciliar, aplicando-se o princípio humanitário constitucional", explicou.
Alexandre terá que cumprir algumas medidas cautelares, sob risco de voltar a ser preso preventivamente, como o comparecimento mensal ao juízo de sua residência para justificar e comprovar o endereço; a proibição de se ausentar da comarca de sua residência sem a autorização do juízo; o comparecimento a todos os atos judiciais portando cópia da presente decisão; apresentar, mensalmente ao Juízo, através de sua Defesa Técnica, relatório médico detalhado e atualizado atestando o seu estado de saúde; e a proibição de manter contato com a vítima e testemunhas por qualquer meio de comunicação. 
A organização Me Too Brasil, que fez a denúncia no Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e acompanha a vítima, informou que cabe recurso da decisão. O grupo lamentou a escolha da juíza, que "prejudica o bem-estar emocional e psicológico da vítima, colocando-a em risco de intimidação, e alerta para a possibilidade de fuga do acusado." A organização destacou que não há informações de que seu passaporte internacional foi apreendido, se possui passaporte missionário, ou se tem dupla cidadania.
Vida pública
Alvo de uma comissão da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o padre Alexandre Paciolli possui uma carreira de destaque na função. Segundo a instituição de ensino, ele esteve à frente da igreja que fica na universidade entre abril de 2016 e março de 2022. 
O padre também era responsável pela Paróquia São José da Lagoa, na Zona Sul do Rio, e trabalhou como apresentador de programas na TV Canção Nova. Paciolli também fundou a Comunidade Olhar Misterioso. 
Na televisão, Paciolli chegou a comandar um programa dedicado às mulheres, denominado "Mulheres de Fé", e, nas redes sociais, alcança cerca de 200 mil pessoas por meio de sua conta pessoal e da conta de sua comunidade.