Homicídios triplicaram em QueimadosDivulgação

Rio - Uma guerra sangrenta entre traficantes e milicianos tem levado pânico para as mais de 140 mil pessoas que vivem em Queimados, na Baixada Fluminense. Em meio à disputa pelo controle de comunidades, o município teve nove assassinatos só nos dois primeiros meses de 2024. Em relação ao mesmo período de 2023, o índice triplicou. Os números são do Instituto de Segurança Pública (ISP).

Dois casos ocorridos recentemente - e que assustaram os queimadenses - não estão nessa conta. Na sexta-feira (19), Carlos Eduardo de Araújo Secundino e um outro homem, ainda não identificado, foram mortos a tiros numa barbearia na Vila do Tinguá. Um mês antes, Glaucia da Silva do Senhor foi executada no bar Flanela Carioca, no Centro. Em ambos os episódios, criminosos passaram de carro atirando diversas vezes contra os estabelecimentos.

A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investiga a autoria e o que motivou os dois assassinatos. Os inquéritos se somam a uma pilha de casos em aberto. Milicianos ou traficantes estão quase sempre envolvidos.

Em outubro do ano passado, o pré-candidato a vereador Cleyton Damasceno, e sua assessora, Paula Ribeiro Menezes Costa, foram executados a tiros numa sorveteria no bairro Inconfidência. Segundo a Polícia Civil, a motivação foi a guerra entre traficantes do Comando Vermelho (CV) e milicianos que atuam na cidade.

Três traficantes foram indiciados pelo duplo homicídio: Cleiton Alves Francisco, o Binho; Anderson Correia Ramos, o Parazinho, e Lucas de Souza Ignácio, mais conhecido como Monstrinho. A investigação demonstrou também que o trio integra o Comando Vermelho que atua na Comunidade da Caixa D'agua, em Queimados.
A motivação do crime foi uma recente guerra entre eles e milicianos que atuam no bairro Inconfidência. O homicídio foi ocasionado ainda pela proximidade do político com os paramilitares da região. Já Paula, apesar de não ser alvo dos criminosos, foi atingida por estar junto com ele no local.
Milicianos em guerra

A Polícia Civil atua junto do Ministério Público no combate a grupos paramilitares. Na operação Hunter 2, deflagrada em janeiro, foram cumpridos 37 mandados de busca e apreensão e seis de prisão. Entre os presos estava Daniel da Silva França, o França, apontado como chefe da milícia de Queimados.

França teria assumido o bando após a prisão do miliciano Victor Valladares Silva, conhecido como Valladares, que foi preso em janeiro de 2022, em uma churrascaria da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Além dele — que é apontado em investigações como autor de diversos homicídios na região —, foram presos João Victor Meireles Moraes, Alexandre Pires da Silva e Cristiano da Silva Nascimento.

Informações obtidas pelo setor de inteligência da Polícia Civil dão conta de que França teria se aliado a milicianos de Seropédica e Nova Iguaçu — Tauã de Oliveira Francisco, o Tubarão, morto em fevereiro deste ano, e Gilson Ingracio de Souza Junior, o Juninho Varão — na guerra contra o grupo de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, chefe da maior milícia do estado do Rio e preso pela Polícia Federal na véspera de Natal de 2023.

As investigações apontam que milicianos exploram o ramo de segurança no município de Queimados. A atuação criminosa do grupo vai além, com a prática de crimes como homicídios, extorsões, extorsões mediante sequestro e agiotagem.

Os criminosos, segundo o MPRJ, cobram taxa para que mototaxistas possam circular e taxa de segurança de comerciantes e de moradores de condomínios controlados pela quadrilha. O grupo expandiu suas ações, implementando um monopólio no fornecimento de bens e serviços na região sob domínio, como cestas básicas, energia elétrica, gás de cozinha e kits de churrasco, além de fornecer serviços clandestino de TV a cabo e internet.

Além disso, durante as investigações, ficou comprovado que o bando usava armas de fogo de grosso calibre para cometer homicídios e disseminar o terror e, com isso, exercer seu domínio sob a população local.