Suyany Breschak (esquerda) é apontada como mandante do homicídio de Luiz OrmondReprodução

Rio - A Polícia Civil instaurou um novo inquérito para apurar as denúncias de ameaças da família da cigana Suyany Breschak, suspeita de ser a mandante do homicídio do empresário Luiz Ormond, a testemunhas da apuração sobre o assassinato. O caso é investigado como coação no curso do processo pela 25ª DP (Engenho Novo).
Através de uma carta enviada a um ex-namorado, a psicóloga Júlia Cathermol, que está presa por suspeita de dopar o empresário com um "brigadeirão", disse que foi ameaçada e coagida durante o tempo em que ficou com a vítima. A suspeita alegou ainda que estava "fraca mentalmente" e que sofreu uma "lavagem cerebral". A versão se alinha à hipótese da polícia sobre Suyany ser mandante do crime e detentora de influência espiritual sobre Júlia.
Além do documento, um ex-namorado de Suyany também revelou ter sofrido ameaças após ser acusado de ter entregado a cigana para a polícia. Já Orlando Ianoviche Neto, ex-marido da mulher, contou que ela até ameaçou a dar veneno aos dois filhos do homem em uma situação antes do homicídio acontecer. Esse caso foi registrado na 126ª DP (Cabo Frio).
Breschak foi presa no dia 28 de maio por suspeita de envolvimento no homicídio do empresário. Segundo as investigações conduzidas pelo delegado Marcos Buss, da 25ª DP, a mulher sabia de todo o plano para matar a vítima. A cigana era uma espécie de mentora espiritual de Júlia Cathermol. 
Em depoimento, Suyane afirmou que a psicóloga não aguentava mais o relacionamento e queria matar o empresário. "Temos o depoimento da Suyane, que detalhou o que a Júlia teria confidenciado a ela. Temos elementos de que a Suyane tinha conhecimento antes, durante e depois do plano criminoso da Júlia", disse o delegado.
A polícia aponta, ainda, que a cigana foi beneficiária de todos os bens furtados do empresário e recebeu o carro dele como parte do pagamento de uma dívida de R$ 600 mil por trabalhos espirituais. O veículo da vítima foi encontrado em Cabo Frio, na Região dos Lagos, após supostamente ter sido vendido por R$ 75 mil, e recuperado, junto com outros bens.

Os agentes ainda fazem buscas para localizar as armas do homem. Segundo o namorado de Suyany, os armamentos, que estavam no carro da vítima, foram revendidos por R$ 14 mil. Os policiais realizam diligências para apurar onde essas armas foram parar.
Dupla esfarelou remédio
O namorado de Suyany Breschak afirmou em entrevista ao programa "Fantástico", da TV Globo, que viu a cigana e a namorada da vítima, Júlia Cathermol, moendo o remédio que seria misturado ao "brigadeirão envenenado" usado no homicídio.
"Eu não sabia que ela era capaz de fazer uma coisa dessa. De auxiliar alguém a matar outra pessoa. Ela [Suyany] chegou a falar que a Julia mandou uma mensagem assim: 'eu vim aqui malhar e ele está lá mortinho. Eu vi a Júlia moendo remédio lá de cima da pia lá de casa. Esfarelando o remédio. Elas pegaram esses pozinhos do remédio que estava virando pó, colocavam tipo no saquinho de sacolé. Dava um nó, guardou", contou.
Exames do Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro confirmaram a presença de morfina e outras substâncias no corpo de de Luiz Marcelo.
As duas suspeitas estão presas. Suyany está presa há doze dias e Júlia decidiu se entregar na noite da última terça-feira (4), após ficar uma semana escondida em um hotel no Centro do Rio, e utilizou o direito de ficar em silêncio.
Confira a carta escrita por Júlia para o ex
"Jean, precisava te encontrar para te contar o que aconteceu, mas dada a minha situação vai ser complicado no momento. Eu sei que você está p*to comigo, se sente traído e enganado, e eu entendo. Mas queria que entendesse que eu estava sendo coagida e sob ameaça. Aquele beijo [foto acima] foi fingido e não passou disso, até porque ele [Ormond] estava sempre dopado, e eu fugia, não dormia nem no mesmo quarto.
Eu sei que não ameniza, mas tudo o que está acontecendo foi porque fui fraca mentalmente, sofri uma lavagem cerebral e fui ameaçada de morte, você e minha mãe também. Então eu surtei. Ainda estou surtada, na verdade estou muito pior, sem saber lidar com tudo isso. Ainda mais sem seu apoio. Eu preciso muito do seu amor, do seu apoio e do seu perdão. Me ajuda a enfrentar tudo isso, fica do meu lado.

Você e todos sabem que se eu estivesse em plenas faculdades mentais, jamais teria feito nada disso, teria ido pro Chile com você. Você acha mesmo que eu estava sã? Esses dias eu estou em surto, me machuco, me recuso a comer, só choro. Estou tendo o apoio de minha mãe e Marino [padrasto], mas você me acalma, me protege, e eu me sentiria mais forte.

Desculpa citar isso, mas a sua ex fez por prazer, além de não ter cuidado de você quando você mais precisou, e você implorou para voltar. Por que não pode ao menos pensar em me dar uma segunda chance?

Agora é a hora que eu mais preciso de você, por favor, não me abandona, fica do lado da sua mulher nesse momento difícil. Tenho certeza que daria a vida por você. E foi o que fiz. Estou sem celular, os celulares da minha mãe e Marino estão hackeados, e talvez o seu também esteja. Então não sei como me comunicar com você. Pensei nessa carta. Quando ler, apaga a foto para não ficar salva. Me responda por carta também, ou então fala em código, sei lá, mas me responde por favor.

Eu preciso ser internada. Estou com medo de fazer coisas piores comigo mesma, mas não sei se vai rolar. Seu pai não quer pegar o caso por causa do beijo, mas como ele sempre diz, "não é o que você faz, mas por que faz". Tenta entender o motivo. Se você pedir, ele aceita me ajudar também.

Estou escrevendo essa carta vendo o jogo do Fluminense, e eu só queria estar vendo com você. Eu vi eu vi que apagou nessas fotos do Instagram, talvez já tenha tomado sua decisão. Mas eu li as mensagens que escreveu dizendo que eu sou sua vida e quer viver comigo. Eu também quero, quero nossa casa, nosso filho... eu só preciso passar por isso primeiro. Te imploro mais uma vez para não me abandonar quando eu mais preciso. Sairemos mais forte disso. Me apoia, por favor. Sem você, não vou aguentar. É muito pesado. Você me equilibra. Eu sinto muito por tudo isso, há poucos dias que minha mente foi liberta.

Sei que é difícil, mas, por toda a nossa história, tenha piedade de mim. Preciso do seu amor. É claro que você confia menos em mim agora, mas isso eu reconquisto. Tenho medo de você me olhar diferente. Eu estou aqui, eu estou de volta, eu te amo como nunca amei ninguém e nunca vou amar. Me aceitando de volta ou não, te levarei para sempre comigo.

Aguardo seu retorno por carta ou por códigos. Eu sei que no fundo você quer me perdoar. Preciso que cuide de mim, e eu cuidarei para sempre de você. Seu abraço curaria muita coisa agora."