FabioCosta

Rio de Janeiro - Morto em uma operação no Morro do Urubu, em Pilares, na última quarta-feira (3), o capitão da Polícia Militar Rafael Galvão da Costa, de 41 anos, esteve envolvido em uma outra ação policial, há dois anos, em Belford Roxo, na Baixada, que terminou com a morte do vigia Fábio Tavares da Silva, de 42 anos. Na ocasião, Rafael estava com a guarnição responsável pelos tiros que mataram Fábio. Os agentes teriam confundido uma vassoura, que a vítima carregava, com um fuzil e atirado, provocando a morte do segurança.

Ao saberem da morte do policial, nesta semana, parentes de Fabio lamentaram o ocorrido e ofereceram condolências para a família. A irmã do vigia, Rosângela Tavares, ressaltou que a família não desejava a morte do agente e queria que os envolvidos fossem a julgamento.

“Sinto muito pelos familiares do policial, pois ficarão com a mesma dor que a nossa. Lamento mesmo, pois sentimos a mesma dor. Não queria que fosse dessa forma, pois gostaria que ele tivesse ido ao tribunal. Infelizmente ele e outros executaram um grande chefe de família, pessoa íntegra, honesta e trabalhadora. A morte do meu irmão acabou com a vida da família. Meu pai teve três AVCs, minha mãe com problema cardíaco e deixou duas filhas órfãs”, afirmou.

Naquele dia, policiais do 39º BPM (Belford Roxo) faziam uma operação na Favela da Guacha, no Jardim Redentor. Fabio cumpria sua rotina de abrir o posto de saúde do bairro e varrer o pátio de entrada. Ao chegar no portão, foi atingido por ao menos seis tiros. Em seguida, os policiais pegaram o homem, colocaram dentro de um caveirão e levaram para o Hospital Municipal de Belford Roxo, aonde ele chegou morto. A família diz que a vítima morreu na hora e foi retirada pelos PMs para evitar uma perícia da Polícia Civil.

Na época, houve manifestação de moradores da região, com fechamento da Avenida Automóvel clube e enfrentamento com policiais. No sepultamento de Fabio, mais protestos da família e pedidos por Justiça. De acordo com outra irmã de Fábio, Roseli, o próprio Capitão Rafael teria participado também da ação para encerrar o protesto e abordou familiares, se desculpando por ter atirado em Fábio.

“Ela falou com a gente quando estávamos na manifestação. Chegou disse que deu um tiro no meu irmão, que sabia que ele era trabalhador e nos pediu desculpas. Nessa hora, a gente chorou”, relembrou.

Após o crime, a Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar a morte de Fabio Tavares, mas procurada nesta sexta-feira (5), a corporação informou que, mesmo já passados mais de dois anos do crime, “A investigação do caso está em andamento na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF)”. Não foi informado se houve realização de perícias ou mais diligências.

A Polícia Militar também foi procurada pela reportagem de O DIA, mas não respondeu os questionamentos até a publicação desta reportagem.
Sepultamento ocorreu no cemitério de Vila Rosali, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense - FabioCosta
Sepultamento ocorreu no cemitério de Vila Rosali, em São João de Meriti, na Baixada FluminenseFabioCosta


Família teve de abandonar Belford Roxo

Como o caso não foi concluído e remetido para o Ministério Público, a família segue sem apoio ou indenização. Advogados chegaram a procurar a família e prestaram uma assistência inicial, mas não teriam dado mais suporte no último ano. A intenção é que o estado reconheça o crime e indenize as filhas de Fábio.

“Queremos que o estado assuma o erro. As duas filhas ficaram sem o pai e nenhum suporte. Hoje vivem com os avós e nós que ajudamos”, contou Rosângela.

Enquanto isso, a família segue com sentimento de impunidade e medo. Por temerem represálias após as denúncias contra a Polícia Militar e seguindo conselhos de advogados e vizinhos, aproximadamente 15 familiares deixaram a região de Belford Roxo e se mudaram.

Entre esses familiares, as duas filhas, os pais e irmãos de Fábio, entre os quais Rosângela, que teve de vender uma casa própria e hoje em dia é obrigada a morar de aluguel, pois o preço arrecadado com a casa antiga não permitia comprar uma onde teve de ir morar.

“Aumentou as despesas. Quando me mudei a princípio fiquei sem chão, pois saí com muito medo. Hoje estou mais tranquila, mas queremos uma solução do estado”, finalizou.