Deputado Glauber Braga e estudantes foram detidos pelo Choque Pedro Teixeira / Agência O Dia

Rio - O deputado federal Glauber Braga (Psol) e os três alunos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), detidos por policiais militares durante a ação de desocupação do campus Maracanã da universidade, foram liberados da Cidade da Polícia, na Zona Norte, na noite desta sexta-feira (20).
Na saída do local, o parlamentar elogiou o movimento estudantil. "São milhares que se mobilizaram e que vem se mobilizando em defesa da Uerj. Hoje é um dia lamentável do ponto de vista do que foi feito. Estudantes lutando por seu direito e sendo tratados com bomba. Por outro lado é um dia de coragem dos estudantes que disseram que não vão desistir de lutar, de fazer a defesa da educação pública e dos seus direitos. Viva a luta daqueles que não se entregam", disse.
Um aluno que também foi detido criticou a violência contra os estudantes. "Uma desocupação arbitrária e truculenta, chamaram quase um exército para confrontar estudante que está lutando por seu direito básico. A gente está muito forte e renascendo o movimento estudantil da Uerj. Tenho certeza que a luta não acabou e que a gente vai ganhar", comentou.
O grupo foi recebido por diversos estudantes e representantes do movimento estudantil na saída da Cidade da Polícia. Eles faziam vigília no local pela liberação dos presos.
Braga e os alunos foram detidos na tarde desta sexta-feira (20) durante a ação policial de desocupação da Uerj. Policiais militares estiveram no local para cumprir uma ordem judicial que determinava a saída dos estudantes do campus Maracanã e sua liberação total. Segundo relatos de manifestantes, os PMs utilizaram bombas de efeito moral para tentar entrar na instituição. Em meio ao clima de tensão, alguns comércios na Boulevard 28 de Setembro decidiram fechar as portas por precaução.
Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver cenas de muita correria, fumaça e viaturas da PM no local. Em protesto à ação, estudantes chegaram a incendiar pneus na Avenida Rei Pelé, impendido a circulação na via.
De acordo com o coronel André Matias, comandante do Centro de Operações Especiais (COE), um policial que participou da desocupação ficou ferido ao manejar um artefato explosivo da própria corporação. Matias ainda explicou que o deputado federal Glauber Braga foi detido por atrapalhar o cumprimento do mandado judicial e que a Uerj já está totalmente desocupada.
"O policial teve um problema no manuseio de um artefato explosivo e resultou no ferimento. Era um artefato da própria polícia. O deputado federal obstruiu o cumprimento do mandado judicial. Inclusive se colocando entre a polícia e uma aluna que foi presa. A Uerj está oficialmente desocupada. Não tem mais alunos. Está entregue ao procurador da universidade. Os que participavam da ocupação saíram da universidade por conta própria. Fugiram da ocupação enquanto a Polícia Militar entrava. Eles saíram do local justamente no momento em que a gente cumpria o mandado", disse o coronel.
Entenda a situação
A desocupação dos alunos das dependências da universidade foi determinada, na terça-feira (17), após uma audiência de conciliação entre os alunos e representantes da Uerj terminar sem um acordo. As partes buscavam uma resolução para a questão da mudança nos critérios das bolsas de estudo, mas, segundo a instituição de ensino superior pública, um grupo de alunos "mais radicalizados" teria interrompido as conversas com o uso de instrumentos de percussão.
Na terça-feira (17), a juíza Luciana Losada, da 13ª Vara de Fazenda, concedeu liminar solicitada pela própria universidade pedindo a saída dos alunos. Em sua determinação, ela argumentou que há provas de que a ocupação é indevida e de que prejudica o ensino na instituição. O descumprimento da liminar imposta pela Justiça acarretará em uma multa diária aos estudantes intimados.
Os alunos que ocupam a universidade são contra às mudanças para a obtenção de bolsas e auxílios da assistência estudantil, prevista no Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aeda 038/2024). Entre as principais mudanças estão a substituição do auxílio alimentação por refeição gratuita no bandejão para os cotistas. Além disso, foi reduzido pela metade o auxílio ao material didático, que era pago duas vezes ao ano, a cada semestre, no valor de R$ 1,2 mil.
De acordo com relatos de estudantes, cerca de 5 mil alunos vão perder os benefícios após a mudança. Eles denunciam, também, atrasos nos pagamentos. Segundo os manifestantes, as propostas da atual reitoria, antes de ser eleita, era de manter os benefícios. A Uerj afirma que 2,8 mil estudantes estão enquadrados para receber o benefício.