Davi teve o braço amputado em um grave acidente de ônibus Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - Após mais de um mês de luta, o pequeno Davi Geovani Guimarães, de 8 anos, vive momentos de felicidade. Em recuperação no Instituto Nair, em Caxias, na Baixada Fluminense, o menino que teve o braço reimplantado depois de um grave acidente de ônibus que causou a amputação do membro, tem se dedicado a jogar bola, brincar e assistir seus desenhos favoritos. Para sua mãe, Aparecida Cristina Guimarães, de 37 anos, vê-lo voltar à rotina de criança é uma verdadeira vitória, especialmente depois de tantos desafios.
Davi passou as primeiras semanas de recuperação no Hospital Quinta D'Or, em São Cristóvão, onde foi inicialmente internado após o acidente e o reimplante do braço. Posteriormente, ele foi transferido para o Hospital Estadual da Criança, em Vila Valqueire, onde continuou recebendo cuidados especializados até receber alta na última segunda-feira (14).
Em entrevista ao DIA, a vendedora de doces se emocionou ao compartilhar as experiências vividas no último mês. De acordo com ela, ver o filho feliz novamente é algo que descreve como um "milagre". Ela contou que Davi tem enfrentado tudo com muita coragem e que o momento de deixarem o hospital foi marcado por uma alegria que palavras não conseguem explicar.
"Eu falo para todo mundo que sou a mãe mais feliz do mundo. No momento em que Deus colocou o bracinho dele no lugar, Ele fez uma obra muito bonita nas nossas vidas. Eu só consigo sentir gratidão, eu cheguei a ver meu filho sem o braço, então é uma felicidade inexplicável ver ele aqui brincando. Digo que a nossa vida foi devolvida, e é aquela música: ' O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã'", disse emocionada.

Apesar do progresso, Davi ainda precisará passar por mais duas cirurgias para garantir a recuperação completa do braço. Além das operações, a fisioterapia será fundamental para que ele recupere os movimentos. Aparecida afirmou que eles estão vivendo um dia de cada vez, cientes de que a caminhada será longa, mas com esperança e fé de que Davi continuará a superar cada etapa com a mesma força que tem demonstrado até agora.
"Hoje ele estava falando sobre o bracinho que não dobrava, mas eu sempre falo a ele que é um dia de cada vez, precisamos ter calma. Ele foi um guerreiro, nesse mês que ficamos no hospital, ele foi forte o tempo todo. Isso me deixa muito motivada porque a gente se apoia, ele é a minha base. Ele teve uma maturidade inexplicável, é um menino especial demais.", explica.

Aparecida lembra com clareza de cada detalhe do acidente, desde o momento em que o ônibus tombou até a chegada ao hospital. Em meio ao caos e desespero, foi o motoboy Diego Mendes quem trouxe um fio de esperança. Além de levar a família ao Hospital Quinta D'Or com urgência, ele ainda voltou ao local do acidente para buscar o braço amputado de Davi e a cachorrinha da família. Para os médicos, a rapidez com que Diego completou o trajeto foi crucial para o sucesso do reimplante.
"Lembro de tudo. Davi é tão forte que ele pulou a janela do ônibus, estava lúcido, sem chorar, ele não estava assustado. Ele virou para mim e falou 'Mãe, meu bracinho'. Quando eu vi aquela cena, minhas lágrimas começaram a cair, eu entrei em desespero e gritei: 'Meu Deus'. Nesse momento, Ele enviou o Diego. É uma gratidão para o resto da vida, no momento em que meu filho estava ali sem braço, o Diego apareceu. O tempo todo o Davi tentava me acalmar, falando que me amava e que estava bem", relembrou.
A cirurgia, considerada um sucesso pela equipe médica teve como principal desafio reconstituir os vasos sanguíneos. Na época, o cirurgião plástico Rudolf Nunes Köbig, que reimplantou o braço do menino, explicou que o curto espaço de tempo entre a perda do membro e o reimplante contribuiu para o bom procedimento. De acordo com o cirurgião, a mobilização do ombro de Davi está normal, mas a recuperação do movimento da mão pode levar aproximadamente um ano.

Davi está atualmente no Instituto Nair, um Núcleo de Apoio Infantil Contra o Câncer, que abriu uma exceção para recebê-lo durante sua recuperação. O local, que normalmente atende crianças em tratamento oncológico, oferece quartos para os pacientes, além de contar com consultórios de assistência social e apoio psicológico.
O instituto mantém um vínculo com o Hospital Estadual da Criança, em Vila Valqueire, onde Davi esteve internado, e continuará sendo o lugar onde ele ficará enquanto precisar trocar curativos e seguir com o acompanhamento médico necessário para sua reabilitação completa.
O acidente
O ônibus, que fazia a linha 476 (Méier - Leblon), tombou nas imediações do Campo de São Cristóvão, altura da Rua Senador Alencar, na Zona Norte, na noite do dia 6 de setembro. Segundo passageiros, o motorista estava em alta velocidade. Outras 26 pessoas ficaram feridas no acidente.