Assalto ao BRT foi flagrado por câmeras de segurançaReprodução

Rio – O assalto a um ônibus na Avenida Brasil, na altura da Cidade Alta, Zona Norte do Rio, na manhã desta quinta-feira (9) entrou para uma estatística cada vez maior. Registros de roubos a coletivos têm sido recorrentes na cidade, causando temor entre passageiros e motoristas. Especialistas ouvidos pelo DIA apontam a fragilidade no planejamento da segurança pública e a proximidade de pontos de facções criminosas a vias expressas como as principais causas para o crescimento destes casos e sugeriram investimentos em tecnologia.
Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), os assaltos a ônibus na cidade do Rio aumentaram 42% em um ano. Em 2023, o acumulado foi de 2.916 registros desse tipo de delito, passando para 4.127 até novembro de 2024.
Na última segunda-feira (6), um arrastão aconteceu no coletivo da linha 2310, itinerário Candelária x Bangu. Três bandidos entraram no coletivo e anunciaram o assalto na Avenida Brasil, altura de Deodoro. Nas imagens capturadas pelo circuito interno, é possível ver os criminosos armados circulando enquanto ameaçam as pessoas e recolhem seus pertences.
Já em 28 de dezembro, câmeras de segurança de um BRT flagraram sete bandidos, armados com pistolas e facas, rendendo passageiros. O caso aconteceu no corredor TransCarioca, entre as estações Pedra de Itaúna e Rio Mar, na Zona Oeste. A Polícia Civil prendeu, no último sábado (4), dois suspeitos de participarem da ação.
Ônibus também vem sendo alvos de sequestro por parte de bandidos para serem utilizados como barricadas, em retaliação a operações policiais. Em 13 de dezembro, um motorista da Viação Fábio's, responsável pela linha 011 (Jardim Leal - Bar dos Cavaleiros) foi rendido por criminosos e obrigado a atravessar o veículo nas proximidades da Avenida Presidente Kenedy, no meio de uma rua de acesso à comunidade do Manguinhos.
Especialistas sugerem investimento em tecnologia
Ao DIA, o perito criminalista e especialista em segurança pública José Ricardo Bandeira afirmou que a falta de um planejamento eficiente de segurança pública é um fator determinante para o aumento de roubos em ônibus.
"Por falta desse planejamento, isso faz com que a gente tenha cada vez mais áreas dominadas pelo crime organizado e pelas facções que comandam o tráfico de drogas. Essas áreas margeiam as nossas vias de acesso, que ligam diversos municípios aqui na Região Metropolitana. Sabemos também que o tráfico de drogas financia diversas atividades criminosas, como as quadrilhas e assaltantes especializados em promover assaltos nos coletivos."
Na visão de Bandeira, o investimento em tecnologia e ações para coibir a chegada de armamentos às facções criminosas são essenciais no combate aos assaltos em coletivos. "É fundamental que a gente invista no sistema de patrulhamento e em tecnologia de inteligência e investigação, visando identificar esses criminosos, que são especialistas na prática desse tipo de crime, e que a gente possa puni-los", disse.
"Logicamente, dentro de uma política de segurança pública, é necessário que a gente tire o domínio armado das facções criminosas, que elas não ocupem mais territórios. O controle destes territórios dá base para uma modalidade de ações criminosas. Precisamos impedir que drogas, armas e munições continuem chegando a essas comunidades que são dominadas pelo tráfico de drogas", analisou.
Lenin Pires, antropólogo e professor do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), também opina que a cooperação entre autoridades e empresas de ônibus seja a base para a criação de políticas de prevenção, além de estudos sobre as atividades dos bandidos antes e depois dos assaltos.
"As agências de segurança têm que buscar as empresas de ônibus e estabelecer processos de convênios e cooperação aonde o uso de tecnologias seja o carro-chefe para a atuação preventiva. Por outro lado, fazer um estudo desses acontecimentos, não só para identificar esses atores, mas para coibir. De onde vem esses sujeitos? Eles saem de onde, param aonde, vão para onde? Tudo isso pode ser estudo e, de certa forma, de conhecimento das autoridades e a partir daí, ser objeto de políticas públicas preventivas."
Pires também ressaltou as recomendações aos passageiros que presenciarem um assalto em ônibus, ressaltando que é essencial manter a calma e não realizar movimentos bruscos.
"O recomendado é não reagir. Inclusive, procurar não encarar esses sujeitos, não demonstrar nenhuma atitude voltada ao enfrentamento, porque a desvantagem é muito grande. Esses sujeitos abordam essas situações com a chamada 'disposição'. Eles não têm nada a perder. A questão é as pessoas não agirem, e por outro lado, se organizarem para deslocamento na cidade prevendo suas eventuais perdas e nesse sentido, começar a lidar com seus dispositivos e bens de uma maneira a amenizar essas perdas. Infelizmente, é o que a gente percebe como medidas tomadas pelas pessoas", explicou.
Confira o posicionamento da Rio Ônibus
O Rio Ônibus repudia e lamenta a recorrência dos assaltos aos ônibus em toda a cidade. A insegurança a qual a população está submetida não pode ser mera estatística. Reiteramos a necessidade de que providências efetivas sejam tomadas pelas autoridades a fim de garantir o direito de ir e vir do cidadão.
Confira o posicionamento da Polícia Militar
A Assessoria de Imprensa da SEPM informa que o combate aos roubos a coletivos tem sido uma das principais metas do comando da corporação.

A modalidade de Policiamento Transportado em Ônibus Urbano (PTOU) tem sido intensificada nos principais corredores de trânsito da região metropolitana, assim como as abordagens a coletivos por parte das unidades especializadas – com o engajamento direto de equipes do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas, das Rondas Especiais e Controle de Multidões (RECOM) e do Batalhão Tático de Motociclistas (BTM)– e também dos batalhões de área.

Cabe informar que a corporação atua ao longo de todos os corredores do sistema BRT, em apoio aos agentes que atuam no programa BRT Seguro.
Confira o posicionamento da Polícia Civil
A Polícia Civil investiga roubos a coletivos no estado do Rio de Janeiro. Agentes realizam diligências para identificar e responsabilizar criminalmente os envolvidos. A instituição trabalha de forma integrada com a Polícia Militar, responsável pelo policiamento ostensivo, para reprimir essa prática delituosa.