Rio - Há três dias às escuras e sem água após a megaoperação policial, os moradores do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, receberam, na tarde desta segunda-feira (27), membros da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e da Defensoria Pública.
Entre as denúncias apresentadas aos órgãos estão invasões de residências, ameaças, extorsões, danos materiais e psicológicos, além de ações que resultaram na interrupção de serviços básicos como fornecimento de água e luz. Moradores também relataram episódios de violência que incluíram tiros que destruíram casas e afetaram crianças, inclusive uma com autismo que entrou em crise durante os confrontos.
Integrantes da OAB e coletivos populares, como o Voz das Comunidades e o Papo Reto, também acompanharam a visita. A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputada Dani Monteiro, destacou a gravidade da situação.
"Esses relatos reforçam a necessidade de revisão urgente das práticas adotadas em operações policiais, que além de colocar a vida das pessoas que ali moram em risco, subtraem a dignidade delas. Não aceitaremos que o valor dessa política de segurança pública seja pago com violações sistemáticas de direitos humanos", concluiu.
Antes da visita dos órgãos público, o ativista pela causa dos Direitos Humanos e fundador do "Voz das Comunidades", Renê Silva, comentou os transtornos sofridos pela população. "A gente está falando de mais de 80 horas, são 3 dias e meio após aquela megaoperação, e ainda hoje existem pessoas sem luz e sem água, porque consequentemente em muitos lugares no morro, especialmente altos, a gente precisa de bomba para água ter força para subir. Então as pessoas que são mais vulneráveis nessa situação são cidadãos comuns, que vivem nesses espaços porque não tem outras oportunidades de estarem em outros ambiente, por necessidade de moradia", disse em entrevista ao DIA.
Em nota, a comissão da Alerj disse que seguirá acompanhando os casos e reitera que tem canal aberto para denúncias de violações pelo WhatsApp da Cidadania 21 99670-1400.
Sobre as denúncias, a Polícia Militar respondeu que a ouvidoria da corporação está à disposição dos cidadãos para a formalização de denúncias através do telefone (21) 2334-6045 ou e-mail ouvidoria_controladoria@pmerj.rj.gov.br.
Light e Águas do Rio trabalham no local
Nesta segunda-feira (27), a Light informou que parte da comunidade teve o fornecimento de energia restabelecido, mas os trabalhos seguem em andamento, sem previsão para finalizar. "Trata-se de um processo que exige bastante cuidado, devido à complexidade dos reparos e às condições desafiadoras no local. Seguiremos trabalhando até a completa normalização do serviço", disse em comunicado.
A Águas do Rio informou que o abastecimento nas comunidades do Alemão está em processo de recuperação gradativa. A concessionária explicou ainda que atuou em reparos nos sistemas de bombeamento da região durante todo o fim de semana.
A empresa segue dando suporte à população local por meio de caminhões-pipa até a normalização do abastecimento.
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