Rio - Diversos trabalhadores resgatados do incêndio na fábrica de tecidos em Ramos, na Zona Norte do Rio, estavam dormindo quando o fogo começou. A tragédia aconteceu na manhã desta quarta-feira (12).
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Em entrevista ao DIA, um funcionário que conseguiu escapar contou que todos que estavam com ele dormiam quando o fogo começou. Segundo ele, foi usado um extintor para abrir caminho no corredor e fugir.
"Estávamos dormindo e começou a queimar tudo. Apagamos com extintor no corredor", disse Carlos Araújo, de 36 anos, um funcionário que trabalhava na estamparia de camisas.
Jorge dos Santos, de 53 anos, disse que iniciaria os trabalhos às 9h e que foi mais cedo para auxiliar no que pudesse.
"Várias escolas fazem adereço com a gente. Quando eu cheguei já estava tudo dominado (pelo fogo). Falei com os meus colegas por telefone e todos parecem estar bem", disse Jorge, que trabalha no almoxarifado.
Outra funcionária da fábrica a costureira Simone Silva dos Santos, 49 anos, falou que foi surpreendida pelo fogo assim que chegou para trabalhar.
"Eu estava chegando quando vi o incêndio já acontecendo. Eu nem estava sabendo de nada, cheguei pra trabalhar era 7h30 e já estava uma fumaceira e nem subi. Foi um susto", revelou.
Simone explicou que só no setor da costura em que atua trabalham umas 20 pessoas. "Na hora do incêndio, tinham umas senhoras que trabalhavam na área da costura e estão no hospital", explicou.
Uma mulher, que se identificou somente como Dandara, disse que chegava para trabalhar quando soube do incêndio. Sua mãe, que trabalhava como costureira na fábrica há apenas três dias, a avisou por mensagem que já havia saído e que estava bem. No entanto, ao chegar no Hospital Estadual Getúlio Vargas, ela descobriu que a mulher havia sido intubada.
"Eu estava chegando lá para trabalhar quando fiquei sabendo. Minha mãe estava lá na hora e mandou um áudio. Nessa hora, ela já tinha saído. Disse que estava bem e tranquilizou a gente. Chegou lúcida, andando e falando. Pediu só para não falar com a minha avó, porque ela ficaria preocupada. Chegou aqui e descobri que ela foi intubada", contou. O estado de saúde da mulher é grave, mas estável.
"Ela tinha dormido lá de ontem pra hoje. Era o terceiro dia dela trabalhando e pelo que disse o ambiente e as pessoas eram legais. Eles costumavam servir almoço e janta pra quem ficasse, então muita gente acabava ficando", completou.
Uma prima de uma das vítimas, que também não quis se identificar, contou que parente precisou pular pela janela do barracão para conseguir se salvar. Ela explicou que a familiar trabalhava como aderecista na empresa desde abril do ano passado. Ainda segundo a parente, a vítima saiu lúcida, se comunicando via aplicativo de mensagens com a família. "Ela chegou a mandar um áudio. A voz parecia estar rouca, mas fora isso estava bem", disse.
O diretor-geral do HEGV, Paulo Roberto Lopes, explicou a decisão por intubar algumas pessoas que alegavam estar "bem" para seus familiares: "A equipe quando fez o diagnóstico da queimadura em via aérea por inalação de fumaça decidiu sedar os pacientes e fazer a intubação".
Tragédia
Um incêndio atinge uma fábrica de tecidos em Ramos, na Zona Norte do Rio, na manhã desta quarta-feira. Algumas pessoas ficaram presas nas janelas, tentando respirar por entre a espessa fumaça, e foram retiradas do local com o auxílio de escadas.
Até o momento, há registro de 21 pessoas resgatadas da edificação. Entre essas, dez foram encaminhadas para o Hospital Estadual Getúlio Vargas. Oito delas estão em estado grave.
"Nenhum dos pacientes que veio aqui para o Hospital Getúlio Vargas deu entrada com queimaduras de pele na parte externa. Todos com a via respiratória queimada por inalação de fumaça", contou a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.
Outras oito pessoas estão na rede municipal, uma está em estado grave. Três foram levadas para o Hospital Federal de Bonsucesso.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, agentes dos quartéis de Ramos e Penha foram acionados às 7h39 e chegaram ao local por volta das 7h45. A operação conta, neste momento, com o empenho de 13 unidades operacionais, incluindo o Grupamento de Operações Aéreas da corporação e especialistas em salvamento em altura, cerca de 90 bombeiros, com apoio de 30 viaturas.
O Corpo de Bombeiros também combateu um foco de incêndio no condomínio ao lado, que foi evacuado.
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