Eduardo Paes elogiou o trabalho do Corpo de BombeirosRenan Areias

Rio - O prefeito Eduardo Paes classificou como inadmissível o incêndio que atingiu a confecção de fantasias de escolas de samba em Ramos, na Zona Norte. Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (12), o político destacou a construção da Cidade do Samba 2 como uma forma de melhorar as condições de trabalho das pessoas que atuam no Carnaval.
"Não sabemos nem quantos lugares que possam ser parecidos com esse e existam na cidade nesse momento. Fazemos esse alerta e pedimos à Série Ouro que informe isso para que a gente possa ter um olhar mais atento. Não devia mais ser admissível. O que estamos buscando é encontrar uma solução para isso, construindo uma nova Cidade do Samba. De fato, é um absurdo que as pessoas tenham que trabalhar nessas condições", disse o prefeito.
Paes relatou que conversou com o secretário de Infraestrutura sobre uma possível aceleração das obras na Cidade do Samba 2. No entanto, destacou que o espaço não conseguirá atender a todas as escolas do Rio.
"Essa Cidade do Samba vai resolver a série ouro, mas eu diria que o problema é mais grave. Temos vários grupos de acesso, várias iniciativas espalhadas pela cidade, pelos municípios da Região Metropolitana, de escola de samba de grupos de acesso que não vão ter uma cidade do samba", reforçou.
Apesar de não possuir autorização do Corpo de Bombeiros para funcionar e constar como inapta junto à Receita Federal por omissões de declarações, a fábrica tinha licença da prefeitura. "Tinha alvará. No Rio, você tem a Lei de Liberdade Econômica. Então, nesse tipo de atividade, a prefeitura concede o alvará e, obviamente, tem um pouco dessa coisa da própria responsabilidade, das pessoas que exercem essa atividade de estarem em dia com o Corpo de Bombeiros. O Alvará foi dado em outubro de 2022. Isso a prefeitura concede pela legislação", explicou.
Paes ainda elogiou o trabalho do Corpo de Bombeiros e informou que recebeu orientações para evitar visitar o Hospital Estadual Getúlio Vargas, onde estão dez vítimas, neste primeiro momento. Por fim, reafirmou que as agremiações afetadas não estarão passíveis de rebaixamento, assim como não poderão conquistar o campeonato.
"Parabenizar o Corpo de Bombeiros, porque se não fosse a rapidez com que eles chegaram aqui, poderia ser uma tragédia muito maior. As pessoas ficaram presas em determinado lugar com grades. A agilidade e a eficiência dos bombeiros salvou muitas vidas hoje. São 20 pessoas feridas, dez mais graves. Tem muita gente naquele atendimento inicial, então a prioridade é o tratamento para que essas pessoas possam ter suas vidas preservadas", informou.
A fábrica foi atingida por um incêndio na manhã desta quarta-feira. A retirada dos trabalhadores foi dramática, com alguns saindo do alto do imóvel pelas janelas com ajuda dos militares, em meio à fumaça, com o auxílio de uma escada. O espaço é usado para confecção de fantasias de escolas de samba da Série Ouro. 
Segundo informações dos bombeiros, dez vítimas do incêndio deram entrada no Hospital Estadual Getúlio Vargas. Oito estão em estado grave: três homens e cinco mulheres. Todos deram entrada por queimadura em via aérea após inalação de fumaça tóxica. Mais oito pessoas foram atendidas na rede municipal de saúde: quatro no Hospital Municipal Souza Aguiar (uma em estado grave), duas no CER da Ilha do Governador e outras duas no Hospital Municipal Salgado Filho.
Porta-voz do Corpo de Bombeiros, Fábio Contreiras também concedeu entrevista em frente à fábrica e contou sobre as dificuldades que os militares enfrentaram durante a ocorrência. O major também destacou que não há imóveis interditados nas proximidades do estabelecimento.
"Quando chegamos no local, tanto parte do primeiro pavimento quanto parte do segundo estavam tomados pela fumaça. Importante lembrar que é um local bastante fechado, então a fumaça escura também fez com que as vítimas ficassem desorientadas dentro do incêndio", explicou.
"A única residência que fazia divisão de muro com a fábrica não está interditada. A única alteração que temos ali, pelos técnicos, é uma parede que fazia divisão com a fábrica. Essa parede foi isolada. O local setorialmente está interditado nesse apartamento. Mas o imóvel não está interditado, então os moradores poderão retornar. Esse quarto está isolado porque a parede realmente teve uma deformação e pode ter um risco de colapso lateral", concluiu.
Contreiras também confirmou a informação de que o local não tinha licenciamento para funcionar. "Não consta com certificado de aprovação, que é o documento necessário para que qualquer edificação, prédio residencial, comércio pequeno e até indústria funcionar. Não tem documentação, não tem projeto habilitado. Então não dispõe dos recursos necessários para ter proteção contra incêndio e também evitar o pânico", alertou.
Fábrica é interditada
A Defesa Civil Municipal interditou totalmente a fábrica de tecidos que pegou fogo. A decisão por interditar a fábrica foi divulgada pelo prefeito do Rio, em uma publicação nas redes sociais. Eduardo Paes afirmou que diversos órgãos municipais atuam em conjunto no atendimento às vítimas, familiares e moradores do entorno.
A Secretaria Municipal de Assistência Social também está com equipes no local prestando apoio psicológico aos trabalhadores da fábrica, seus familiares e moradores da região. 
Na tarde desta quarta-feira, policiais civis realizaram perícia no espaço. O caso está sendo investigado pela 21ª DP (Bonsucesso).
Escolas afetadas
A Maximus Confecções, na Rua Roberto Silva, é responsável pelas fantasias de escolas de samba da Série Ouro, e quatro delas foram afetadas: Império Serrano, Unidos da Ponte, Unidos de Bangu e Porto da Pedra. As duas primeiras informaram que toda a produção para o carnaval 2025 estava no local. Já a última comunicou que as roupas de duas alas estavam sendo produzidas no edifício.  
A Liga RJ, que organiza o Carnaval da Série Ouro, convocará uma reunião extraordinária para avaliar a situação das escolas prejudicadas pelo incêndio. Segundo a entidade, o objetivo da Assembleia Geral será buscar soluções que possibilitem a continuidade dos trabalhos e a realização do desfile "com a grandiosidade que o povo merece".
Ainda de acordo com a Liga, a fábrica "desempenha um papel fundamental no fornecimento de materiais para as escolas de samba e, além disso, serve como espaço para a confecção de fantasias de diversas agremiações". A organização disse que o incêndio "atinge diretamente o planejamento do Carnaval e toda a cadeia produtiva envolvida na sua realização".