Equipes do Corpo de Bombeiros resgataram 21 pessoas de incêndio em fábrica de tecidos Pedro Teixeira/Agência O Dia

Rio - Os trabalhadores feridos no incêndio que destruiu a fábrica de tecidos Maximus Confecções nesta quarta-feira (12), em Ramos, na Zona Norte do Rio, correm o risco de enfrentar complicações respiratórias a longo prazo. Especialistas ouvidos pelo DIA alertam que a inalação da fumaça pode causar lesões pulmonares e nas vias aéreas, resultando em casos de fibrose pulmonar, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
"Podem apresentar quadros de pneumonia por hipersensibilidade, fibrose pulmonar e distúrbios ventilatórios obstrutivos, como a asma e a doença pulmonar obstrutiva crônica. Essas pessoas devem ser examinadas para avaliar se há queimadura dos cílios nasais e tosse com fuligem, exames que avaliem os gases sanguíneos e tomografia de tórax para identificar lesões inflamatórios pulmonares pela exposição", detalha o pneumologista Rogério Rufino, professor da Universidade Estadual do Rio (Uerj).
O vice-presidente da Sociedade de Pneumologia do Estado do Rio de Janeiro, Thiago Mafort, acrescentou que durante o processo de cicatrização há o risco de gerar lesões nos pulmões, trazendo complicações a longo prazo para quem foi exposto à fumaça.
"Tanto pela lesão das células da mucosa com posterior inflamação e cicatrização, quanto pela questão da intoxicação com monóxido de carbono. A inflamação gerada pela queimadura e a presença de fuligem pode gerar estreitamento das vias aéreas com dificuldade para o fluxo adequado de oxigênio. Além disso, o processo de cicatrização pode gerar lesões nos pulmões e nas vias aéreas, o que pode prejudicar a respiração em longo prazo", explica. 
Segundo Mafort, a inalação de fumaça de incêndio pode trazer dois prejuízos principais: a queimadura da via aérea e a intoxicação por monóxido de carbono. E há possibilidade dessas complicações virem acompanhadas de sintomas tardios.
"Os sintomas tardios podem acontecer tanto por conta da lesão das células que revestem as vias aéreas com posterior processo inflamatório, quanto pela intoxicação pelo monóxido de carbono. Os principais sintomas são tosse, falta de ar, expectoração de secreção e dor ao respirar. Em casos mais graves, os níveis de oxigênio no sangue podem cair e a pessoa pode evoluir para insuficiência respiratória", enumera o especialista.
A pneumologista Margareth Dalcolmo, membro titular da Academia Nacional de Medicina, alerta para os perigos da inalação de fumaça e fuligem em incêndios envolvendo materiais sintéticos.
"Como se trata de um incêndio onde havia produção das fantasias de carnaval, havia muitos materiais como papel celofane, isopor, plástico, acrílico. Isso exala em uma quantidade de materiais particulados muito finos que são capazes de penetrar nas áreas mais delicadas do pulmão, nos bronquíolos, chamados bronquíolos terminais, que são os mais finos, causando obstrução e inflamação, levando à insuficiência respiratória aguda", diz.
Ela explicou o motivo dos pacientes precisarem ser intubados: "É possível algumas pessoas serem resgatadas bem e precisarem ser entubadas porque o desconforto respiratório fica tão grave, levando ao que nós chamamos uma fadiga respiratória. E aí, para descansar, essas pessoas são colocadas em ventilação mecânica". 
Bombeiros resgataram 21 pessoas da edificação, prestaram os primeiros socorros e as encaminharam a unidades municipais, ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e ao Hospital Federal Bonsucesso, ambos na Zona Norte.
"Depois da recuperação os pacientes vão precisar passar por avaliação pneumológica, com avaliação da função pulmonar e de possíveis sequelas. Aqueles que tiverem doença mais grave também vão precisar de fisioterapia respiratória e reabilitação", conclui Mafort.
O caso
O incidente começou por volta das 7h30 e chamou atenção pela intensidade da fumaça. As vítimas usaram janelas para pedir resgate e conseguir escapar das chamas. Alguns funcionários dormiam quando o fogo se propagou. Servidores relataram que passaram dias trabalhando no local para finalizar os serviços a tempo dos desfiles. A fábrica era responsável pela produção de fantasias para escolas da Série Ouro do Carnaval.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o prédio não tinha certificado de aprovação e, por consequência, não havia condições de segurança necessárias para funcionamento. Além disso, a empresa consta como inapta, desde 2023, na Receita Federal por omissão de declarações. A Defesa Civil interditou o espaço, que ficou completamente destruído, por risco de desabamento. Posteriormente, a Polícia Civil tomou a mesma decisão.
No âmbito policial, a 21ª DP (Bonsucesso) interditou o espaço para apurar uma possível ação criminosa, além do preenchimento de requisitos de funcionamento e preservação do local.
Feridos
Bombeiros resgataram 21 pessoas da edificação, prestaram os primeiros socorros e as encaminharam a unidades municipais, ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e ao Hospital Federal Bonsucesso, ambos na Zona Norte.
No Getúlio Vargas, 10 vítimas, sendo oito em estado grave (três homens e cinco mulheres) e duas estáveis (duas mulheres). De acordo com a secretária de Estado de Saúde Cláudia Mello, todas tiveram queimaduras internas pois inalaram fumaça. Algumas pessoas também sofreram queimaduras externas.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirmou oito feridos na rede municipal: quatro no Hospital Souza Aguiar, no Centro, sendo uma em estado grave; duas na Coordenação de Emergência Regional (CER) da Ilha do Governador, na Zona Norte; e duas no Hospital Salgado Filho, no Méier, também na Zona Norte.
O Hospital Federal de Bonsucesso recebeu três pacientes, sendo duas mulheres e um homem. Todos estão estáveis, sendo atendidos por inalação de fumaça. Estão recebendo oxigênio e sendo submetidos a exames laboratoriais e de imagem.