Vítimas infectadas por HIV em transplante são ouvidas na 2ª Vara Criminal de Nova IguaçuRenan Areias/Agência O Dia

Rio - A Justiça do Rio ouviu, nesta segunda-feira (24), três das sete vítimas que foram infectadas por HIV no laboratório PCS Labs Saleme. Também foram ouvidas oito das 11 testemunhas do Ministério Público do Rio (MPRJ). Esta foi a primeira audiência de instrução que julga o escândalo envolvendo transplantes de órgãos.
Os seis réus, sendo dois sócios e quatro funcionários do laboratório, acompanharam a audiência ao lado dos seus respectivos advogados na 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu. Walter Vieira (sócio), Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira (sócio e filho de Walter), Ivanilson Fernandes dos Santos (técnico do laboratório), Jacqueline Iris Barcellar de Assis (auxiliar administrativa) e Cleber de Oliveira Santos (biólogo) respondem o processo em liberdade desde dezembro do ano passado.
A audiência continuará no dia 14 de abril, às 13h. Nesse dia serão ouvidos o restante das vítimas e das testemunhas de acusação, além das 17 testemunhas de defesa previstas.
Relembre o caso
A contaminação foi descoberta no dia 10 de setembro de 2024 quando um paciente transplantado chegou em um hospital com sintomas neurológicos e teve resultado para HIV positivo. Logo depois, amostras dos órgãos doados pela mesma pessoa foram analisadas e outros dois casos confirmados. Ao todo, houve seis registros de contaminados. Segundo o apurado, o laboratório emitiu laudos falsos nos exames de sorologia dos pacientes.
As investigações da Delegacia do Consumidor (Decon) indicaram que os laudos falsificados foram utilizados pelas equipes médicas, induzindo-as ao erro, o que levou à contaminação. Segundo a polícia, os reagentes dos testes precisavam ser analisados diariamente, mas as investigações apontaram que houve determinação para que fosse diminuída a fiscalização, que passou a ser feita semanalmente, visando a redução de custos e aumento de lucros.
Em defesa enviada à Secretaria de Estado de Saúde (SES) na época, a empresa de patologia mudou sua versão e justificou que o incidente pode ter sido causado pela "janela imunológica" dos doadores, além de afirmar que a margem de testes positivos para contaminação estava "dentro do limite da aceitabilidade".
Os responsáveis pela empresa têm vínculo parentesco com o ex-secretário Estadual de Saúde Dr. Luizinho. Walter Vieira, um dos sócios administradores, é casado com Ana Paula Vieira, tia materna do ex-secretário. Matheus Sales Teixeira Vieira, filho de Walter, também é sócio administrador da empresa e primo de Dr. Luizinho.
Em outubro de 2024, a Polícia Civil instaurou um novo inquérito para investigar a contratação da empresa pela Fundação Saúde. O MPRJ também apura irregularidades nos contratos do laboratório.